A FUNDAÇÃO DE UM LUGAR
A ponte é uma construção ancestral. O ato essencial de unir fisicamente dois pontos separados por alguma geografia dramática. Um dispositivo de caminhos elevados que percorre os séculos explorando os limites da técnica, motivado pela busca do homem em dominar seu território. Mais que objetos necessários, as pontes resistem e se tornam os marcos civilizatórios de cidades, estradas e trilhas, expoentes de diferentes tempos, elementos da paisagem que celebram o conhecimento de cada presente.
A ponte avança com leveza sobre o Rio. Não apenas liga as margens, previamente existentes, mas as define por sua travessia, destacando suas características de vizinhança. Libera o rio ao seu curso, ao mesmo tempo em que cria a trajetória para a caminhada. Organiza o fluxo, arruma o percurso. Funda um local, possibilita a existência de um lugar, único, por sua travessia e estância, por sua vivencia, que anteriormente a ela poderia ser qualquer outro ponto da margem.
A COSTURA SOBRE O ITAJAÍ-AÇU: NOVA REFERÊNCIA NA PAISAGEM
As novas ponte e passarela de Blumenau reforçam o elo entre a sua cultura e sua paisagem. A ponte costura os dois lados do Itajaí-Açú a partir do eixo urbano da Rua Chile; a passarela participa do roteiro de atrativos paisagísticos da margem esquerda, formados por caminhos peatonais e ciclísticos. Ao redefinir e fazer acessível o território lhe assinala atributos e o monumentaliza.
A experiência com as pontes fica completa de longe quando se vê as estruturas de algum ponto das margens do rio. Conforme a ocasião no ano, o metal branco pode receber cores através de iluminação específica, marcando o passar do tempo, os costumes e as festas da comunidade. A ponte e a passarela estabelecem um diálogo com a paisagem de Blumenau, criando novas referências.
Serão, desde logo, novos pontos de encontro, novos sinais na paisagem da cidade. Entendendo a contemporaneidade e a premência do tema da sustentabilidade, atenção especial é dada aos pedestres e aos ciclistas. Seus caminhos são protegidos e recebem um desenho cuidadoso, para incentivar e tornar aprazível suas práticas como uma alternativa saudável e ecológica ao automóvel.
A PONTE NOVA: AS RAZÕES DO ARCO E DA TÉCNICA
O aço é a matéria protagonista da ponte e da passarela, uma vez que os sistemas estruturais principais de ambas trabalham utilizando um grande número de peças tracionadas, cada uma a sua maneira. Os esforços caminham dos tabuleiros pelos estais e peças arqueadas no ar, até encontrarem as fundações.
Nos signos em que arquitetura e estrutura são um só substantivo, os arcos resolvem o problema de atravessar o rio dentro dos limites do próprio vão, ou seja, espacialmente não há nenhum tipo de elemento periférico que esteja fora das dimensões das pontes, o que explicita sua vantagem sobre outras tipologias estruturais para grandes vãos, como mastros estaiados ou penseis, que necessitam de ancoragem distante. As estruturas são formadas por peças pré-fabricadas que através das suas junções se configuram como uma presença em si; construídas com eficiência, rapidez e baixo impacto ambiental.
A necessidade de se evitar pilares no leito do Rio nos levou às opções para tipologias estruturais para grandes vãos. Tanto uma estrutura pênsil, quanto uma estaiada nos causariam problemas de atirantamento para além dos limites do vão, invadindo áreas não destinadas ao projeto. Desta forma, devido à limitação dos pontos de apoio e arranques, a solução em arco se mostrou a mais adequada para a solução da questão. Agregado a isso, há conjunções que confirmaram essa solução.
O arco demonstra com elegância sua estabilidade e solidez. A ordem dos estais inclinados em ângulos sucessíveis enriquece o movimento de atravessar os tabuleiros. Do ponto de vista simbólico, o arco é artifício tradicional, desenvolvido desde os romanos, para ligar duas margens sobre um vale. É também elemento já presente na iconografia de Blumenau, representada pela Ponte dos Arcos, o que nos remeteria ao sentindo de progresso da técnica. Dada suas características, a nova ponte se tornará em um novo signo urbano, que reforçará o eixo norte-sul.
A PASSARELA: UM PASSEIO PELO MIRANTE DO RIO
A Passarela corresponde a um novo caminho, uma nova forma de ir e vir entre as margens do Itajaí-Açu. Conecta os caminhos ciliares, o novo porto e a reurbanizada Prainha com o antigo porto e o Morro do Aipim, criando um circuito de atrativos paisagísticos que reforçam a vocação turística da cidade A opção por dois níveis de tabuleiros visou evitar confrontos entre ciclistas e pedestres, comuns em parques urbanos.
Para o caminhar, foi proposto um passeio com uma ligeira sinuosidade, uma sutil mudança no eixo, que estimula o desfrute da paisagem. Pontos de parada são propostos, salientando este equipamento como, além de conexão, um ponto de estar e de encontro. A ciclovia foi traçada reta, a evitar acidentes com aqueles mais desatentos que desviassem o olhar de sua rota, e a partir da compreensão de que o ciclismo é, além de lazer, um meio de transporte eficaz. Trata-se de um espaço ganho, uma topografia artificial para o parque, um mirante que estabelecerá novos pontos de vista para o rio e para a cidade. Sua menor carga dinâmica em relação à ponte proporcionou uma maior liberdade no seu desenho.
Dois arcos esbeltos, associados, como uma borboleta, ‘voam’ sobre o rio, com grande leveza. Desta forma, enquadra e destaca a paisagem. Destinada aos caminhantes e ciclistas, que podem parar por um momento, ter novas experiências, tomar consciência da Natureza, respirar o ar fresco, olhar o movimento e ouvir o murmúrio das águas do Itajaí-Açu. Um lugar sobre o rio, onde o mundo para, por um instante.
Informação Complementar:
- Consultores: Eng. Catão Ribeiro [estrutura de pontes], Eng. Eduardo do Val [engenharia geotécnica], Eng. Mauro Zaidan [orçamento]