Quando iniciamos o projeto da Casa Natura Santo André, vínhamos de uma experiência anterior de cinco projetos de Casas Natura em São Paulo, que são pontos de contato entre a marca e a força de venda da maior empresa brasileira de cosméticos. A intenção da empresa é criar um local de relacionamento físico com essas pessoas através de uma agenda intensa de treinamentos e palestras para as consultoras, que adicionalmente terão a oportunidade de testar e experimentar os produtos que normalmente vendem apenas por catálogo. Por não se tratarem nem de um showroom e nem de uma loja, as construções passaram a ser denominadas Casas Natura; a idéia é que estes espaços fossem locais onde as consultoras se sentissem abrigadas, acolhidas como em uma casa.
Por causa do interesse da Natura em implantar Casas em todo o Brasil, propusemos para a equipe de inovação comercial da empresa uma estratégia diferente das cinco primeiras casas: fazê-las menores e pré-fabricadas, de maneira a otimizar o projeto, manter maior controle sobre os custos de construção e agilizar sua implantação. Além disso, seria uma forma mais adequada para atingirmos, através de um projeto certificado, as premissas de responsabilidade ambiental requisitadas pelo cliente.
Espaços generosos, apesar do tamanho menor. Iluminação natural e contato com o jardim. Construção seca e eficiente. Certificação ambiental. Possibilidade de replicação e customização conforme a situação local. Um objeto delineado pelos seus vazios e pela relação entre o dentro e o fora. Essas premissas deram origem ao projeto de Santo André, que foi concebido e construído como um piloto para futuras replicações.
Foi pesquisado e escolhido um terreno típico das áreas centrais das cidades brasileiras determinadas pela Natura: um lote de 250m², com 10m de frente, que se tornou nosso módulo mínimo de terreno. Sobre ele, a construção é marcada por um esqueleto metálico que se dispõe longitudinalmente, reservando à porção frontal um grande recuo aberto para a cidade na forma de jardim. A função desse esqueleto é articular os demais elementos do conjunto e criar um objeto heterogêno que define áreas construídas de diferentes qualidades, abertas e fechadas.
Encaixada no esqueleto, uma grande caixa acomoda o principal programa: dois auditórios flexíveis, onde se dão os encontros das ‘consultoras’ e onde acontecem os treinamentos. Mais fechada, configura uma grande caixa suspensa, com balanços que a destacam da estrutura. Ao fundo do lote, as funções (banheiros, depósito, copa e administração) são contidas por uma outra caixa, mais vertical.
Da rua, vê-se através do jardim a construção recuada, que ganha perspectiva. A estrutura anuncia-se numa porção frontal diáfana que contorna a vegetação com vigas brancas e elementos de sombreamento. Logo em seguida, a caixa do auditório extravasa os limites do esqueleto e se impõe como o elemento mais imponente do conjunto. Sob o peso do auditório, derrama-se um pavimento térreo fluido, que não encontra nos vidros da área de exposição dos produtos um limite claro entre os espaços externos e internos. Aqui, a construção parece desaparecer, deixando no alcance visual do visitante apenas os produtos e o jardim que os rodeia.
É só depois de passar pelos produtos que se tem acesso à porta de vidro que nos leva para um átrio central. Surpreendente, esse espaço é vazio, aberto, semi-coberto, indefinido. Ao mesmo tempo, é um elemento cheio de possibilidades, onde se dá toda a circulação horizontal e vertical da Casa. É também área de encontro e convívio em meio à vegetação. Subindo esta escada, chega-se aos auditórios e, cruzando a passarela, atinge-se a administração.
Trata-se, na realidade, de um objeto muito simples, onde a identificação do programa é facilitada pelo destaque de objetos legíveis acoplados à estrutura onipresente, que transcende os limites tradicionais da construção e da natureza que a envolve. Assim achamos que devia ser a cara da marca Natura: singela, precisa e em contato direto com a natureza.
Para responder à premissa de velocidade de construção e controle de processos, a obra foi idealizada obsessivamente seca, montada, reduzindo chances de erros e retrabalhos. Além disso, a preocupação ambiental de reduzir a geração de resíduos e usar materiais recicláveis ou reciclados é plenamente atendida por essa escolha, o que determinou a obtenção da certificação ambiental AQUA juntamente com o atendimento de questões relacionadas à gestão de água e energia, conforto higrotérmico, acústico, visual e olfativo, gestão de canteiro e tantos outros.
De acordo com a necessidade de que a casa pudesse se adequar a diversas regiões do Brasil, foram imaginados ‘kits’ de elementos que se acoplam à estrutura da Casa conforme a especificidade de insolação e ventilação de cada terreno. São tipos de brises, pérgulas e caixilhos diversos que podem compor um projeto de desempenho e aspecto únicos para cada localidade. Além disso, esses ‘kits’ levam em consideração materiais típicos e a disponibilidade da indústria local, de forma a criar também um vínculo cultural e estabelecer uma relação mais orgânica com cada paisagem.