Desde sua humilde criação como uma iniciativa para alimentar, abrigar e proteger as vacas dispersas destinadas ao abate, esta expansão em Pavapuri em Rajastjan cresceu como um grande conglomerado religioso com seus templos, salas de oração e instalações residenciais, sendo visitado por 500.000 pessoas por ano – sem mencionar o rebanho de 6.000 a 12.000 vacas que compõe o número de seus residentes permanentes.
Tradicionalmente construídos pelos Sompuras, artesãos de templos, os outros edifícios, com exceção dos santuários principais, permaneceram nas sombras. A necessidade de uma nova Dharamshala – uma espécie de casa de hóspedes religiosa, que se manteria fiel à suas raízes espirituais embora exercesse a função aparentemente contraditória de fornecer conforto aos pelegrinos – criou uma oportunidade rara.
Originário de Bihar entre o século IX e o século VI a.C., praticamente no mesmo período e local do budismo, o jainismo ou jinismo é uma religião com aproximadamente 4.2 milhões de seguidores na Índia. Os devotos praticantes desta rigorosa religião são supostamente destinados a denunciar a vida mundana e nomeações. Costumes como viver no deserto desprovidos de qualquer comprometimento, incluindo roupas, abstendo-se de qualquer contato físico, jejuando por mais de 100 dias, caminhando descalços distâncias que excedem 1000 milhas e arrancando cada fio de cabelo para permanecerem calvos são essencialmente a norma.
A total não violência, absoluta renúncia, solidão rigorosa e severa austeridade formam o centro de suas crenças. Conceitos profundos de espaço e tempo e a acurada definição de unidades, como 1 Avali – o tempo necessário para piscar os olhos – apresentaram-se nas escrituras jainistas desde seu início, sendo até mesmo creditados à identificação da ideia de infinito.
O projeto tornou-se um exercício de expressar esses intangíveis através da criação paradoxal de um vazio. Um conjunto de vazios flutuantes que se abrem para o nascer e o pôr do sol, definidos por visadas em pedra, transformou-se na única intervenção.
Estes sete blocos exclusivamente de serviço, cada um com uma proporção de 1:4:8 e a massa de entrada de 4:4:2, reúnem-se volumetricamente para formar um cubo perfeito quando refletido sobre a água do lago adjacente, o qual deve ser redirecionado para a linha do edifício no próximo estágio da construção. Até mesmo o anfiteatro está em conformidade com a geometria restringente, com um diâmetro de quatro vezes a unidade básica de 2,4m. O efeito final foi concebido para ser como um coro, simples e repetitivo, em que seu poder esteja na ressonância com o interior em si e a extensão do exterior.
Um típico templo jainista consiste do arranjo linear sequencial dos espaços, começando em uma entrada ornamentada que leva a um Mantapa ou salão e que termina no santuário ou garbha griha que está sob uma torre conhecida como Shikhara. Todo o complexo é, então, flanqueado de todos os lados por templos de Tirthankaras, os fundadores do jainismo. Esta organização é reinterpretada na planta da Dharamsala com o forte eixo linear mantido e transformado em um caminho delimitado que corre ao longo de todo o comprimento do edifício. Um bloco é criado para definir a entrada em uma extremidade e o Mantapa, sendo convertido em um anfiteatro, determina o outro limite. A imagem de Shikara é retida na proposta para uma torre de pássaros e santuários voltados ao longo do eixo central e empilhados de um dos lados, criando os quartos e completando o complexo.
Os 24 quartos, refletindo os 24 Tirthankaras estão dispostos em uma série de módulos que são totalmente autossuficientes, cada um possuindo seus próprios serviços e circulação. Os módulos estão conectados por uma passarela elevada iluminada por cima através da cobertura translúcida que arqueia sobre ela. Evoluindo da ideia original de um telhado de concreto, a solução permite acomodar a altura necessária para que a água sagrada seja erguida sobre os ombros dos monges jainistas que passam por baixo. A disponibilidade de materiais locais – como a pedra Nimbada predominantemente usada como alvenaria na região, os pisos de pedra Kota polida de pedreiras próximas e as comuns placas de piso de concreto moldado – supre a paleta contida de acabamentos. De acordo com os fundamentos jainistas dos residentes, de não violência e solidão, uma separação de 100m de largura é mantida entre todos os elementos de composição, conferindo-os pureza. No único caso em que os blocos de pedra tiveram que encontrar o piso térreo, eles eventualmente refletirão sobre o lago e tornar-se-ão elementos suspensos na paisagem.
Não é essa antiga filosofia jainista de 2500 anos de nunca infringir o planeta sugestivamente similar àquelas aspiradas pelos defensores do movimento ecológico de hoje?