O terreno aonde se assenta a residência se caracteriza por topografia bastante acidentada, com inclinação média de 40º. Apesar de possuir uma grande extensão frontal, o que favoreceria uma implantação no sentido das curvas de nível, isso não foi possível, devido a uma faixa de domínio da Companhia de Energia, que restringia o terreno à sua metade, não proibindo, entretanto, a construção de acessos, o que de certa forma facilitou os mesmos, pois a faixa “proibida” estava em cota inferior.
Assim, para cumprir o programa de necessidades dos proprietários, não havia outra solução a não ser avançar rumo à pior topografia. O que queríamos a todo custo evitar eram os famigerados “paliteiros”, comuns em Belo Horizonte, que evidenciam a falta de preocupação com o terreno e com o entorno, pois não havia nenhuma restrição de altura no modelo de assentamento.
A intenção era pensar o conceito da residência unifamiliar como parte de um tecido urbano, e através de exemplo de uma arquitetura mais integrada ao contexto, sem fazer uso de paliteiros, gerar uma tendência para as construções do entorno.
Rebaixar a casa em relação à cota da rua foi a solução que nos pareceu mais adequada, apesar do corte necessário para tal. Como precisaríamos de terra, em alguns pontos do terreno, toda a movimentação de terra foi resolvida no próprio terreno sem bota-fora ou empréstimo. Além de ter gerado uma permeabilidade visual para o pedestre, que pode desfrutar da vista das montanhas, uma vez que, ao invés de muros, o proprietário aceitou deixar apenas uma tela metálica, e o próprio partido da residência gera a privacidade necessária para os moradores.
Outro fator que nos levou a este partido foi a posição do sol, uma vez que a fachada de fundos, que passa a ser a nossa fachada “principal”, é toda voltada para o leste. Assim, temos a bela coincidência da exposição ao sol da manhã com a vista, o que nos possibilitou o uso do vidro de maneira extensiva na área social. Para os quartos, inclinamos as paredes junto à fachada lateral, para criar certa privacidade em relação à área social, além de voltarmos as esquadrias para a vista e para o nascente.
A estrutura da residência é o elemento definidor de sua estética, portando ela é evidenciada através de seu desenho, uma vez que, devido ao partido adotado, não havia como disfarçar a altura dos pilares, nem era esta nossa intenção.
A arquitetura da casa partiu então destes preceitos iniciais, sendo seu resultado fruto de exaustivos estudos em busca da boa solução espacial de seus ambientes, os detalhes adequados para cada situação, as soluções construtivas mais adequadas, e sua estética.
Texto cortesia dos autores.