O campus de UCD Belfield na região sudeste de Dublin possui uma população diária de aproximadamente 20,000 estudantes e 5,000 funcionários. No momento, há residências estudantis para cerca de 2,500 alunos e a intenção é aumentar este número para mais de 5,000 nos próximos anos. As residências são agrupadas em “vilarejos de estudantes” e este projeto é parte do desenvolvimento do vilarejo de Roebuck, centrado no castelo Roebuk, uma estrutura histórica datada de antes de 1200, embora grande parte tenha sido reconstruída no século XIX.
Este edifício faz parte da segunda etapa do vilarejo de Roebuck, sendo a primeira etapa o “Hall de Roebuck”, concluído por Kavanagh Tuite Architects em 2006. Quando o projeto começou na residência do castelo de Roebuck em 2008, através de um estabelecimento de ideias iniciais com a UCD, foi decidido aumentar o padrão e buscar um projeto exemplar “verde”. A Casa Passiva foi, consequentemente, adotada como padrão de referência, levando o projeto à certificação de Casa Passiva, bem como recebeu o prêmio do RIAI (Royal Institute of Architects of Ireland – Instituto Real de Arquitetos da Irlanda) de 2011 por “melhor projeto sustentável do ano”.
O projeto
A planta do pavimento-tipo possui suítes e quitinetes para os estudantes, salas de estar e de estudo de ambos os lados do corredor estrutural, organizados em dois “apartamentos” aos lados do elevador central e núcleo de escadas.
Esta forma de planta básica é recuada e articulada em torno do núcleo central, onde a entrada principal e a cafeteria voltam-se para uma passarela no nível térreo, proporcionando uma conexão com as etapas existentes e futuras do vilarejo estudantil de Roebuck. Escadas de incêndio secundárias, nas extremidades da construção, são expressas mais uma vez articulando a forma simples e compacta do edifício. A área técnica na cobertura, contendo o núcleo central (recuperação de calor e ventilação, caixas d’água e outras instalações) é externa ao volume principal, mas é representada como uma extensão vertical do elevador central e núcleo de escadas.
O edifício é feito de paredes estruturais de concreto GGBS, núcleo de escadas e pisos estruturais, com painéis unitários de estrutura metálica leve para todos os quartos dos estudantes. Os painéis unitários criam uma fachada hermética (fixados em pontos nos limites da laje para uma mínima transferência de frio) e juntamente com as paredes das fachadas estruturadas com cortinas de madeira para os três volumes dos núcleos de escadas, proporcionando grandes elementos fechados que são então facilmente vedados para a estrutura de concreto com membranas de EPDM. Esta estratégia resolve amplamente os problemas de vedação de ar do projeto.
Os quartos dos estudantes possuem janelas de vidro triplo com certificado de Casa Passiva (calor perdido pelo material de 0.8 W/m2K). Elas podem ser abertas, mas possuem um controle de bloqueio, fechando o circuito de aquecimento do quarto quando a janela está aberta.
Os corredores e núcleos de escadas não são aquecidos e possuem vedação de vidro com estrutura de madeira, sendo panos de vidro duplo de alta performance (calor perdido pelo material de 1.2 W/m2K).
Todas as paredes de concreto são isoladas externamente com chapas metálicas de 130mm e amarradas com placas de PIR, revestidas com pranchas de TrespaMeteon em um sistema de apoio de telas Eurofox. Este mesmo sistema de revestimento cobre todos os painéis unitários de estrutura metálica leve, provendo uma aparência externa uniforme para o todo. O revestimento possui um número limitado de cores terrosas, relacionando-se aos edifícios vizinhos e ao contexto natural, proporcionando à edificação uma escala humana e compreensível.
O projeto utiliza massivamente materiais renováveis ou recicláveis, como ácido acético de madeira modificada (Accoya), painel reciclado de partículas de sogro (painel de Kirei), tintas à base de água, acabamentos de linóleo para pisos (Marmoleum) e base de cimento GGBS (escória de terra granulada de alto forno) para concreto.
A ventilação com recuperação de calor é provida através de duas unidades de rodas de calor de tratamento de ar no topo da cobertura e o aquecimento é fornecido do reservatório nas caldeiras de condensação a gás no hall de Roebuck ao lado, suprindo os dormitórios dos estudantes de mini-radiadores.
A água quente doméstica (a maior carga de calor no edifício) é parcialmente (33%) fornecida por um sistema de aquecimento solar por placas na cobertura, cobrindo a exigência local de 20% de energia renovável. A água da chuva é colhida a partir dos telhados da edificação e utilizada para descarga dos banheiros.
Pós-conclusão
As opiniões da comissão de pós-ocupação e dos usuários e o monitoramento dos sistemas vigentes e conforto térmico são essenciais para que possamos estudar e aprender a partir dos resultados atuais, bem como desenvolver nossas habilidades e experiências a partir de então.
De acordo com isso, o grupo de pesquisa de energia da UCD, fundado pela SEAI (Sustaintable Energy Authority of Ireland – Autoridade de Energia Sustentável da Irlanda), começou um programa de dois anos de monitoramento e avaliação de pós-ocupação do edifício. Uma estação meteorológica no terraço provê dados climáticos completos e equipamentos de acompanhamento, instalados em 16 quartos de estudantes do edifício, proporcionando dados da temperatura interna, níveis de umidade e gás carbônico, uso elétrico e cargas de iluminação. Registra também toda a energia necessária para o aquecimento do espaço e o aquecimento de água doméstica; fluxos de calor do MHRV e coletores solar. As informações podem ser analisadas pelo Laboratório de Ambiente Construído da UCD (UCD Building Environmental Lab) para comunicar as economias reais dos sistemas individuais, proporcionando dados para uma futura pesquisa na aplicação do padrão da Casa Passiva na Irlanda, garantindo que os estudantes estejam habitando em um ambiente saudável e confortável.
Conclusões
Atingimos uma etapa em que tanto as mudanças reguladoras como o aumento dos custos do operacional de energia deram um grande “empurro” para melhor, para padrões projetuais de edifícios “mais verdes”. Materiais de construção, elementos e sistemas avançados e desenvolvimento do conhecimento e da experiência profissionais promovem juntos uma grande oportunidade para designers habilidosos de criarem edifícios melhores, uma arquitetura melhor: performance ambiental avançada e eficiência, funcionalidade, alto detalhamento e belas soluções.
Este projeto demonstra que um desenho arquitetônico elegante pode ser alcançado junto com um exemplar de construção de alta performance. É necessário, entretanto, desde o estágio conceitual de desenho, projetar sob as condições do comportamento térmico, evitando transmissões de calor e problemas de contenção de ar. Isto é tanto um desafio como uma oportunidade, sem atalhos (não mais…) para o sucesso!