O homem transforma o meio ambiente, interfere na natureza produzindo espaços que abriguem suas atividades cotidianas. Provoca mudanças, constrói objetos, pensa em artifícios inseridos no ambiente natural. A presente intervenção sugere uma reflexão sobre a relação entre natureza e artifício, propondo edifícios que construam: artefato e paisagem, cobertura e relevo, abrigo e área aberta.
Um espaço onde trabalhar signifique qualidade de vida, rodeado por espaços de lazer, pensados para o contato com o ar livre. Lugar de convívio para aprender, ensinar e se encontrar. A presente proposta coloca-se como um modo de interpretar a relação entre o meio ambiente e a cidade, entre natureza e artifício.
Partindo do princípio de que os artefatos criados pelo homem transformam a paisagem; construindo ou destruindo os objetos presentes no espaço; entende-se a possibilidade de transformar a região onde se insere o conjunto edificado, criando lugares em que os artifícios produzidos pelo homem – os edifícios – se constituam numa extensão da natureza, estabelecendo assim uma relação amigável entre as edificações e os espaços abertos. De fato, uma intervenção do porte do Sistema Fecomércio tem o poder de renovar, induzir e qualificar seu entorno imediato. Entendendo a força dessa ideia, propõe-se que boa parte dos espaços projetados possa ser utilizada, além dos usuários e colaboradores, pela comunidade local.
Identificam-se duas questões centrais na implantação do complexo do Sistema Fecomércio-RS. A primeira, de ordem programática, é a questão do fortalecimento da identidade institucional, através da construção de um referencial para a região. A segunda questão, ligada ao terreno, baseia-se na percepção do lugar como algo ambientalmente frágil e sensível em função da proximidade de ecossistemas como a bacia hidrográfica, sujeita a alagamentos, decorrentes dos problemas de drenagem da região. Torna-se necessário então agir em duas frentes:
- Interpretando o programa de necessidades como a possibilidade de invenção de um lugar – a Fecomércio – com forte identidade para a cidade e a comunidade local, construindo assim a ideia da instituição como espaço de congregação, convívio e socialização de seus usuários e colaboradores, independentemente de quantos edifícios ou nomes de instituições estão a ele conectados;
- Propondo que os espaços de permanência de usuários, colaboradores e comunidade local estejam protegidos em uma cota mais elevada, preservando a ideia de segurança institucional mesmo habitando um terreno com as fragilidades descritas acima.
Para dar conta dessas questões, sugere-se então a criação de um edifício garagem horizontalizado, conformado como um “podium”, sobre o qual se apoiam os edifícios principais. Esse embasamento, além de abrigar os veículos, comporta também as áreas técnicas e de serviços do complexo, permitindo que os usos de longa permanência desfrutem de visuais generosas da paisagem da região e dos espaços abertos propostos. A cobertura dessa construção recebe tratamento paisagístico, prolongando-se até o parque proposto na porção Leste do terreno.
Trata-se da invenção de uma nova topografia – um relevo – gerando espaços livres para o uso das pessoas que aí trabalham, convivem e também para a comunidade local.