O Prêmio Secil Universidades tem como objetivo incentivar a qualidade do trabalho acadêmico e o reconhecimento público de jovens oriundos das Escolas de Arquitectura e Engenharia Civil portuguesas. São atribuídos 5 prêmios na categoria arquitetura. Abaixo um dos vencedores da edição 2011: Arquitetura: Megaestrutura – Infraestrutura / Fábio Rosado.
O trabalho desenvolvido surge como a articulação de três premissas: o método construtivo, a dialética com o Lugar e a necessidade de um edifício multifuncional. Estes três factores são indissociáveis e intimamente interligados entre si.
O edifício surge pela urgência da ligação de duas zonas histórica e fisicamente desligadas: o plano consolidado e denso de Ressano Garcia, e o Bairro do Rego, zona desde há muito qualificada como território insular urbano. Esta cisão é materializada sob a forma de uma linha ferroviária de grande movimento, eixo vital de circunvalação da cidade, que evidencia o carácter quase suburbano deste bairro de origem rural, oposto ao sobranceiro paradigma da cidade moderna. Como tal, a estratégia urbana aponta para a criação de uma ligação física entre ambas as margens, que as conecte e unifique. Surge assim o conceito de edifício-ponte, uma estrutura que crie um novo percurso urbano ao mesmo tempo que acolhe diferentes usos.
Desenhada enquanto parte de um tecido urbano proposto pelo plano urbano adoptado, esta ligação sugere assim o mimetismo de sistemas urbanos consolidados como o é a rua. Então, e por definição, o percurso não se deve reduzir a mero espaço de circulação mas deve oferecer possibilidades de apropriação e articulação de diversas funções. O volume que o acolhe e define enquanto rua é logicamente multifuncional, sob a forma de um edifício de usos mistos que inclui habitação, estúdios, espaços comerciais, e um polidesportivo na base. As funções que o edifício alberga são portanto o motor que justifica a rua criada: habitações experimentais que recebem estudantes e jovens em início de vida, tipologias recorrentes que lhe atribuem um fluxo contínuo de pessoas e vivências, ou o polidesportivo já proposto para aquela zona.
Estas duas premissas estão portanto intimamente ligadas e em comunhão, no que formal e conceptualmente se aproxima da Megaestrutura multifuncional, que enquanto infraestrutura pública pretende estabelecer novas ligações urbanas.
Complementarmente, o método construtivo desenvolvido é indiciado pelo plano urbano adotado e está por isso, justificado pelas condições do lugar. É proposta a criação de um corredor natural, um parque linear contínuo de escoamento das águas pluviais da cidade que redescobre a linha de vale que une as Galinheiras a Alcântara.
Devido à coincidência topográfica, o corredor natural desenha-se ao longo da linha ferroviária que divide as áreas que o projecto pretende unir. Dessa forma, o sistema construtivo aplicado não é mais do que uma ilação lógica, justificada nessa vontade do edifício brotar do terreno natural mais do que a ele se impor. O edifício integralmente construído em madeira sugere esse sentido tectónico e algo bucólico, enquanto recusa a industrialidade associada a uma infraestrutura pública tão marcante no terreno como a linha ferroviária.
O edifício consegue assim articular e dar resposta às questões levantadas no início do processo de forma simples e eficaz, reformulando esse pequeno pedaço de tecido urbano, cozendo ambas as margens e consolidando a zona. Contudo, o seu valor não se esgota nas qualidades urbanas que afere ao lugar, mas também na sua excepcionalidade enquanto objecto, enquanto edifício uno e qualificado.