Diante da escala do edifício e da importância deste equipamento para a cidade, foi realizado mais que um projeto de Arquitetura: foi preciso concretizar um plano que integrasse as diversas disciplinas técnicas complementares entre si, o que incluiu Arquitetura, Restauro, Engenharia de Fundações, de Estruturas e de Instalações, além de consultorias de Acústica, Cenotécnica, Impermeabilização, Luminotécnica e Conservação de documentos. Além da técnica para construir foi preciso conhecer e atuar intensamente com a operação pretendida pela direção da Biblioteca e pela Secretaria Municipal de Cultura para gerar um plano de ação que articulasse a movimentação e os tratamentos físico e técnico da coleção durante a execução das obras.
Em 2005, com o início dos trabalhos do Plano, a intervenção enfrentou concretamente a necessidade de intervenções prediais e considerou para isto um projeto de funcionamento sustentável por meio de ações de projeto e de instruções técnicas condizentes para instalação, manutenção e segurança da nova operação.
A localização e sua condição de inserção na praça são determinantes na configuração do edifício. A entrada da Av. São Luiz e a grande entrada na rua da Consolação determinam eixos estruturadores da volumetria e desenvolvimento da ocupação de todo o prédio. A relação com a Praça Dom José Gaspar é de desfrute de um “estar” público, o que é confirmado pelo ambiente do abside, originalmente dedicado à leitura de jornais e revistas. A estrutura destes acessos se rebate internamente com a clara identificação das áreas públicas e daquelas sob controle de acesso.
A definição das diretrizes do projeto requereu o entendimento detalhado das condições de uso por meio da análise cuidadosa do funcionamento e características desta Biblioteca. Esta atitude é que promoveu a viabilização do uso contemporâneo e a preservação do importante patrimônio.
Com base no levantamento das patologias e danos do edifício, a proposta de restauro da argamassa, dos materiais de revestimentos – pedras e madeiras – e esquadrias metálicas abrangeu todos os componentes e incluiu também o restauro dos itens relevantes de mobiliário original.
No geral, o edifício recebeu novas redes de infra-estrutura para funcionamento e segurança – instalações elétricas, hidráulicas, de prevenção e combate a incêndio, circuito fechado de TV, de telecomunicações, de proteção à descargas atmosféricas e de climatização específica para cada uma das condições de uso – conservação e preservação do acervo e de conforto dos freqüentadores. Do ponto de vista estrutural, a recuperação aliou-se às diretrizes de restauro e de impermeabilização. A modernização contou ainda com a expansão do acervo de periódicos (hemeroteca). Para responder a esta necessidade, um edifício desocupado na mesma Praça Dom José Gaspar foi destinado a ser o anexo da BMA, o que exigiu a sua reforma para abrigar não só a hemeroteca, mas também laboratórios, salas de pesquisa, salas de leitura e escritórios administrativos. A conclusão da obra do anexo está prevista para Dezembro de 2011.
As intervenções localizadas para a atualização dos usos foram:
- Biblioteca Circulante: um sistema estrutural de peças de aço compõe as estantes, a estrutura de um piso e a bancadas para acomodação dos livros e para o desfrute da leitura. Todo o conjunto foi detalhado respeitando as condições de reversibilidade. Além da qualidade de iluminação natural para a área de leitura, a iluminação artificial para leitura foi objeto de atenção especial, resultando em peças especialmente projetadas para conforto dos freqüentadores.
- Circulação pública paralela à Rua da Consolação: projetada para uso exclusivo como circulação no térreo do edifício, foi construída em vidro transparente estruturado a 82º em relação ao piso, evitando a incidencia de reflexos. Atua também como barreira térmica e acústica para os salões da biblioteca circulante e ainda valoriza a fachada original com iluminação de destaque. Sua repercussão chega à área externa para requalificar o passeio público ao longo da Rua da Consolação.
- Salas para pesquisadores: no 2º pavimento, foram projetadas salas individuais e para estudos em grupo servidas por recursos de tecnologia atual.
- Plataforma na Praça Dom José Gaspar: a relação do edifício com a cidade, a segurança e a acessibilidade universal encontrou resposta na solução paisagística projetada que reafirma os “eixos estruturadores” bem como a relação entre os espaços da Praça e a Biblioteca.
A conexão com o abside para leitura de periódicos, o requalifica como espaço de fruição da praça, inclusive com mobiliário especialmente projetado por Jacques Pilon.O desnível da plataforma (altura de 1,20m), bem como a sua geometria, possibilitam a realização de atividades externas e ao mesmo tempo um esquema de fechamento da Biblioteca sem as costumeiras grades que cercam os espaços públicos da nossa cidade.
Informação Complementar:
- Consultoria para restauro: Estúdio Sarasá
- Consultoria para conforto ambiental: Ambiental
- Cálculo estrutural para concreto: Teca Engenharia
- Cálculo estrutural para aço: Grupo Dois
- Projeto de instalações elétricas, de telecomunicações e hidráulicas: MA2 Engenharia
- Projeto de instalações de ar-condicionado: Willem Scheepmaker e Associados
- Projeto de conforto acústico e sonorização do auditório: Acústica e Sônica
- Consultoria para luminotécnica: Godoy e Associados
- Construção: Consórcio Concrejato Tensor
- Levantamento cadastral: E. Kanji Topografia
- Fotos: Maíra Acayaba (obra concluída)
- Foto aérea: Alberto Guimarães