Contexto
Independentemente do seu evidente valor histórico ou arquitectónico e da sua localização, bem central em Lisboa, a Praça de S. Paulo apenas se tem conseguido afirmar como lugar de passagem a caminho dos bares e clubes alternativos da baixa da cidade – estando paradoxalmente marginal e desertificada bem no centro da cidade.
Aproveitando as comemorações do padroeiro da cidade – Santo António – que ocorrem durante todo o mês de Junho, a Ordem dos Arquitectos juntou forças com a Associação Cultural Parafernália, a fim de revitalizar e reactivar este lugar procurando devolvê-lo às rotas culturais da cidade.
Conceito
A intervenção concentrou-se no palco principal do evento: um objecto de baixo custo com capacidade para ser o motor deste novo centro de acções culturais – uma peça temporária que seria a estrela de uma praça e de uma festa, feita para receber concertos populares, rock, world music, djs ou noites de fado.
Apesar da enorme escala volumétrica desejada para o palco, esta estrutura leve (feita de peças pré-fabricadas modulares), que foi concebida para se impor como um icónico catalisador urbano, soube manter e respeitar a consolidada hierarquia espacial da praça.
Tirando partido do uso da cor como impulsionador urbano, o palco assume uma boca cénica vermelha, triangulada e sinuosa. Se as suas formas lembram a histórica “Casa dos Bicos”, muito próxima, e ao mesmo tempo remetem para os balões típicos das festividades do Santo António, a sua cor, forte e vibrante, contrasta com as cores apagadas da cidade antiga.
Considerando a implantação, pré-definida, a caixa do palco quis-se desmaterializada, intangível, misturada com as pessoas e com a cidade. Como é apenas uma capa para a chuva, é (plástico) transparente, deixando o monumento histórico por trás dela – a Igreja de S. Paulo – fazer parte da intervenção e dos festejos e, por isso, totalmente visível desde toda a Praça.
Durante o dia, a luz do sol de Lisboa torna o têxtil vermelho incandescente e projecta sombras inesperadas e expressivas das estruturas ‘standard PON’ sobre o tecido. À noite, quando as festas do padroeiro de Lisboa incendeiam toda a cidade, o palco ilumina-se, desde o interior, transformando-se numa pitoresca moldura de luz vermelha e sinuosa, que chama para si todas as atenções.
Estratégia Construtiva
O curto orçamento obrigou à construção de uma ideia a partir de peças modulares existentes no mercado, que foram alugadas e readaptadas para exterior, sobretudo ao nível do detalhe. Tratou-se de exercício de reinterpretação das possibilidades formais de alguns desses elementos, que passaram a ser estruturados de forma tridimensional para dar corpo e volume à peça, desenhando-se assim moldura cénica, vermelha, que transforma o palco num objecto arquitectónico original.
A materialização, propriamente dita, da dinâmica fita vermelha é feita com têxtil impermeável, cortado a laser e estruturado sobre peças ‘standard PON’, tradicionalmente utilizadas em espaços expositivos interiores.
A retroiluminação da moldura, que permite a alteração radical do efeito do palco no espaço público do dia para a noite, é feita com 20 banais focos de luz, dispostos em cruz.
Estratégia Sustentável
Construído a partir de material reutilizado e reutilizável, este projecto parte de uma lógica sustentável, também ela financeira, já que o pequeno investimento extraordinário foi apenas feito nos elementos diferenciadores do projecto.
Numa perspectiva urbana e a médio/longo prazo, este projecto foi uma acção temporária que, tendo sido especialmente proveitosa para comunidade local ao longo todo mês de Junho, poderá vir a ter consequências benéficas para o lugar, enquanto espaço integrado na vivência urbana e cultural da cidade, permanecendo, assim, num tempo mais vasto.