A Represa de Ibiúna destaca-se no cenário regional de São Roque e Piedade, interior de São Paulo, como um belo lago circundado por um litoral de suave relevo. Implantada segundo um eixo longitudinal norte-sul, suas margens gozam de excelente insolação e ventilação e guardam proximidade com o lado oposto numa agradável escala da paisagem.
A ocupação das margens por casas unifamiliares obedeceu a um saudável critério que divide o espaço em áreas grandes arborizadas, em torno de 5.000 m2, ocupadas pelas construções, desfrutando-se dessa maneira do lugar e ao mesmo tempo preservando-se a qualidade ambiental e o sistema do clima.
A residência Carvalhal resulta de um singular processo de criação arquitetônica. O método de trabalho adotado nesse projeto constituiu um processo de interação entre as soluções em modelo de argila em escala reduzida e as diretrizes espaciais ditadas pela paisagem em escala natural.
Assim, o terreno foi representado em argila, configurando a sua leve inclinação desde a via de acesso até as margens da represa. A diretriz básica foi a da implantação da casa a cavaleiro da gleba, de modo a permitir amplos visuais para a represa e as montanhas circundantes. Nesse processo de interação, o primeiro gesto sensível, que intervém no modelo, é o da mão que cava o espaço plano de uma pequena praça de acesso e com o barro retirado cria um novo relevo configurando pequenos morros, gramados que conferem privacidade e escala a esse espaço de estar.
A intervenção seguinte constituiu simplesmente a integração dos morros por uma laje de desenho livre, orgânico, que abriga a morada térrea. O desenho interior dessa laje de cobertura, teto-jardim, que conforma o pátio de acesso, configura-se segundo uma linha espiral. A outra borda da laje ganha a forma de curvas reversas, ditadas pelo movimento das linhas das montanhas e das margens do lago no contexto da paisagem.
Ao longo do eixo sinuoso do teto-jardim, sob a cobertura, implantei de um lado a área de dormitórios e os banheiros cujos volumes cilíndricos são evidenciados no desenho por ritmo de curvas sucessivas. No lado oposto, dispus as dependências de serviço e apoio, e no centro, a área social separada da varanda panorâmica por um movimentado pano de vidro.
A organização do programa dessa residência sob a laje tem a intenção de propiciar, por meio das superfícies de vidro transparente do estar central, uma continuidade espacial e um passeio arquitetônico desde a rua até as margens da represa.