Envolvida pelo povoado, descobre-se ao fundo de uma quelha uma casa em pedra com dois pisos. A intervenção começa por retirar o conteúdo das vivências dos antigos habitantes. A base de trabalho é uma caixa em pedra de granito dourado, ligada a um volume contíguo em tijolo rebocado onde construímos a cozinha e a instalação sanitária.
As espessas paredes em pedra são preenchidas nos vãos por finas caixilharias de cor branca, no 1º piso, deixando transparecer o interior e conferindo a leveza e o equilíbrio deste amontoado de pedra aparelhada. No piso térreo grandes portas brancas opacas encerram o pátio da casa.
A cobertura em telha de canudo branca foi determinante para completar a harmonia “clara” do conjunto, destaca-se da envolvente e encena os dias de neve, momento de consagração conceptual do projecto. No volume contíguo invertem-se os princípios: a construção tradicional com cobertura de duas águas é preterida por um volume puro de cobertura plana totalmente branco. O conteúdo da caixa de pedra, estucada no interior, é preenchido por madeira de castanheiro.
No 1º piso, uma sala de planta quadrada com o fogo da lareira ao centro, onde se convive e se aquece o corpo enregelado pelo inverno. De forma simétrica, quer ao nível da organização do espaço quer do desenho do mobiliário e do seu uso, distribuem-se os quatro quartos/alcovas. A separação entre a sala e os quartos é definida por paredes em madeira que seguem na vertical o alinhamento das réguas do pavimento, cortadas à medida da casa.
Estas paredes ocultam a estrutura de suporte da cobertura e contêm os armários e as portas que servem os quartos. O desenho destas aberturas acerta de modo rigoroso com a escala e dimensões da “casca de pedra” conferindo diversas assimetrias e revelando a reduzida dimensão humana da casa.
Uma intervenção que procura através de princípios e processos construtivos tradicionais incutir uma imagem de contemporaneidade que faz desta casa uma excepção na paisagem da serra.