Capela do Centro de Reflexão e Encontro Universitário – Inácio de Loiola (CREU-IL). O programa consistia na ampliação de uma pequena capela pertencente a um Centro Universitário no Porto.
Este Centro tem cerca de 20 anos, implantando-se no confim de um jardim privado. A capela existente era pequena para o número de universitários que a frequentava e pretendiam os proprietários ampliá-la para cerca de 50 m2 com os seguintes pressupostos:
- - custo muito reduzido
- - franca abertura do espaço para o jardim
- - o maior conforto possível para os utilizadores.
As ideias fluíram poética e rapidamente… Inúmeras referências cruzaram-se nesta rara encomenda de arquitectura, com um tema que sempre nos tinha interessado. A solução surgiu de várias intersecções:
- - do perímetro do pátio triangular onde obrigatoriamente a capela teria de crescer
- - da magnífica árvore que se encontrava na base do referido triângulo
- - da provocação interior causada pelo nosso reflexo no espelho
- - das duas faces do espelho: da vida exterior e da vida interior.
“Agora vemos como num espelho mas depois veremos face a face” (Carta de S. Paulo aos Coríntios)
Iniciou-se assim o processo de desenho de um espelho – espelho que seria a fachada (ou não-fachada) desta Capela. O local onde deveria ser implantada estava entalado entre um edifício desinteressante dos anos 80 e o tardoz de um edifício contíguo. Este lugar era claramente um “não-lugar”, uma sobra de terreno onde nem a relva crescia devido à sombra dos edifícios vizinhos.
A ideia do espelho permitia solucionar diversos problemas: reflectir o jardim, anular este resto de terreno e propor uma ligação simbólica.
Para radicalizar esta ideia, estudou-se um pormenor que eliminasse a presença do caixilho deste espelho (e o aço inox polido funcionou como seu prolongamento natural).
Foi-nos igualmente solicitado o arranjo exterior do jardim – o que permitiu pensar no percurso de aproximação à Capela. Também nos interessou particularmente a relação da presença da nossa imagem reflectida na fachada do espaço sacro em que iremos entrar. Pareceu-nos importante esta introspecção e confronto com o nosso corpo antes de passar ao sagrado.
Quanto ao interior, impunha-se a contenção de custos. A utilização da alcatifa possibilitava alguma informalidade na apropriação do espaço (permitindo aos universitários sentarem-se no chão) e diminuía os tempos de reverberação acústica. O espaço pretende ser um convite ao silêncio. Vive-se a luz, o jardim…
Oposta à fachada envidraçada, uma parede iluminada zenitalmente permite uma entrada de luz filtrada, contraponto indispensável à grande janela aberta para o exterior. Curiosamente, aquilo que no início parecia induzir à distracção transformou-se em motivo de contemplação (na Igreja do Marco de Canavezes, Álvaro Siza tinha já rasgado uma longa abertura que enquadrava o casario e a paisagem exterior). Entusiasmou-nos muito a ideia de uma igreja aberta ao exterior, ao quotidiano, às variações das estações do ano e no fundo aberta à felicidade e à infelicidade, esperando que desta contemplação resultasse a acção. O retorno que temos obtido desta pequena obra não poderia ser melhor… A estranheza inicial transformou-se em enorme adesão de todos os universitários, comunidade e leigos.