A presença dominante do Palácio de Porto Covo enquanto testemunho arquitectónico e a volúpia dos seus jardins foi condicionante para o desenho do novo espaço museológico da Companhia de Seguros Lusitânia, a erguer no interior do quarteirão existente. Uma intervenção deste género deveria impor uma linguagem coeva baseada na sobriedade e simplicidade dos elementos arquitectónicos, de modo a dar continuidade e profundidade ao jardim e, simultaneamente, enfatizar o efeito cénico do Palácio.
Nesta óptica, assumiu-se a plataforma enquanto elemento gerador de espaço, reflexo directo (marca construída) da topografia acidentada que caracteriza o topo norte do terreno. Mais uma vez as preexistencias influenciam a forma arquitectónica, visto que as plataformas aqui sobrepostas crescem a partir de superfícies anteriormente sugeridas.
Sucedem-se, então, novos planos, posicionados a cotas distintas, que demarcam e hierarquizam as diferentes partes que integram o edifício – sublinha-se um tecido cujos limites assumem uma natureza intersticial, informal, em que o movimento e a mutação se apresentam como indicadores de espaço.
Embora marcante na composição do objecto arquitectónico a plataforma surge, porém, diluída no próprio terreno, reduzindo ao máximo a presença dos corpos edificados. À imagem do que agora encontramos nos jardins do Palácio, é um grande plano de pedra de lioz que denuncia a construção e que formaliza o objecto. Assumido como rótula dos planos que aqui se sucedem este muro introduz o factor surpresa como dínamo da proposta. Por outro lado, dada a naturalidade da pedra em si, este elemento – bissectriz da intervenção – surge quase com prolongamento artificial do jardim, responsável pela dualidade entre natural e construído, consequentemente, pela relação acesa entre interior e exterior.
No interior, sucedem-se espaços hierarquizados pela posição que ocupam e pela configuração específica que adoptam, estabelecendo relações diversificadas com os espaços exteriores envolventes. Conceptualmente existiu uma lógica de flexibilidade que permite tipos distintos de utilização, tornando mais versátil a sua apropriação.
O edifício desenvolve-se em quatro níveis distintos, multiusos. Os diferentes níveis comunicam entre si através da manipulação das lajes e com o exterior através da criação de aberturas controladas – jardins artificiais que permitem a iluminação natural dos espaços, projectando o espaço interior na fluida malha dos jardins. O negativo assume-se, consequentemente, como agente primordial na definição dos espaços, sendo a interligação das várias zonas de exposição, de estar e de circulação fortalecida pela presença constante da luz e dos vazios criados entre pisos.
Paralelamente a estes espaços foi recuperado o edifício existente – “Club House”, de modo a permitir a instalação de uma cafetaria e de uma biblioteca, como zonas de apoio à estrutura do Espaço Museológico.
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