Esperanza Dos / al bordE

© Sebastián Melo

Aqui em Cabuyal as pessoas vivem sem eletricidade, sem esgoto ou água corrente. As pessoas não usam dinheiro, não possuem empregos ou profissões. As pessoas não medem o tempo com relógios; não usam metros ou réguas. Aqui não há propriedade privada, nem instituições. A vida é simples: se estão cansados, dormem; se estão entediados, brincam. Eles ignoraram as fronteiras, a moral e os sapatos.

Eles não precisam de deuses, leis ou graus. Satisfazem suas necessidades do modo mais óbvio: o mar e a terra são o supermercado e as árvores das florestas são os materiais para construir suas casas. Esta comunidade visa o progresso. Mas para eles, o progresso só é conseguido através do enriquecimento pessoal. Este enriquecimento não tem nada a ver com dinheiro, mas com entretenimento, tecnologia, jogos e compartilhamento. Decidimos fazer parte do projeto, compreendendo que o caminho para resolver os problemas é direto, sem intermediários.

© Andrea Vargas

Não se trata de ganhar dinheiro para comprar coisas, a fim de satisfazer a fome. Trata-se de entender a vida, atendendo as necessidades de alguém com os recursos que possui: a mente e o corpo. Os recursos que tivemos foram os que definiram o projeto: materiais de forma irregular. Pesca e ferramentas agrícolas. Trabalhadores fortes e capacitados, que não entendem a precisão em termos de centímetros. O apoio dos voluntários da cidade que entendem centímetros, mas não possuem experiência de trabalho.

E uma área específica com limites difusos. Ficou claro que o projeto dispensaria planos topográficos, não precisaria de AutoCAD ou Neufert. O dinheiro é apenas outro recurso, como são os recursos humanos e naturais. Um sistema simples, de complexidade mínima, é capaz de se adaptar às variáveis imprevisíveis da terra de trabalho e materiais. O sistema permite a discussão do desenho e as decisões no momento da construção.

© Sebastián Melo

Cada pessoa tinha uma tarefa preferida na construção e tornou-se involuntariamente bom no que fazia. Em seguida, começou um processo de aperfeiçoamento das técnicas, o que os tornou especialistas em cada atividade, otimizando o processo. Finalmente, a troca de conhecimentos com outra pessoa é o que acabou por enriquecer a equipe.
As possibilidades do sistema permitiu que a construção parasse de crescer quando a equipe considerasse necessário. O tempo de construção foi de uma semana. O objetivo era o de levantar um processo lógico de construção coletiva e compreender o escopo do sistema. Uma vez que a comunidade compreende o processo, nós não somos mais necessários.

esquema 01

As pessoas ocuparam o local imediatamente. Limites habitáveis são vagos: o armazenamento é suspenso. Uma criança corre em um canto e o transforma. O interior e o exterior são indefinidos. Eles detectam se qualquer um dos espaços precisa de modificações.

Nos despedimos e quando voltamos, a comunidade abraçou o sistema. Uma nova etapa havia sido construída, espaços foram modificados com pisos de madeira e paredes de bambu. As peças de cerâmica que as pessoas encontraram na praia foram adaptadas para as paredes inclinadas. Como um museu que lembra as culturas passadas.

esquema 02

Em “Nueva Esperanza” as crianças de idade escolar aprendem a confiar no grupo, a voar para o conhecimento abstrato, para outros mundos. Depois chega, então, o momento de voar sozinho: aterrando-se no concreto e tangível. O grupo tem os ajudado num ponto no qual o que eles precisam são as plataformas de lançamento individuais.
Plataformas que permitem que cada um deles possa decolar em direção a um interesse social, tais como música, trabalhos com a madeira ou aeronaves. Como Pipo, um estudante que é apaixonado por aviões, estudou como eles funcionam, e agora constrói seus próprios modelos. Quando estas crianças decolarem se tornarão naves espaciais independentes.

© Andrea Vargas

Memória por al bordE

Ficha técnica:

Equipe:

  1. Colaborador: Grace Pozo
  2. Construtor: AL Borde & Voluntários & Comunidade
  3. Fotografias: Sebastián Melo, Andrea Vargas
  1. Orçamento: US$ 700, todo o material da comunidade e todo o trabalho voluntários e da comunidade.

Sobre este escritório
Cita: Victor Delaqua. "Esperanza Dos / al bordE" 10 Mai 2012. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-47958/esperanza-dos-al-borde> ISSN 0719-8906

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