Torres Studio / Saunders Architecture

© Bent René Synnevåg

O Tower Studio está dramaticamente situado em um trecho do litoral rochoso na Baía de Shoal, Fogo Island, Newfoundland. A silhueta escultural do estúdio pende tanto para frente como para trás, torcendo-se ainda para cima. Para a maioria dos visitantes da ilha, esta torre negra sem janelas provoca frequentemente uma resposta estranha e a pergunta inevitável, “O que é aquilo?”

Plantas

Para as pessoas do local, sabe-se que esta escultura é um projeto para a Fogo Island Arts Corporation – um estúdio artístico iniciado em Junho de 2011. A abertura oficial da Tower Studio foi uma das mais festivas, que incluiu fogueira, chamas lançadas do terraço da cobertura e a gravação do som das baleias locais escutado como plano de fundo.

© Bent René Synnevåg

Debruçada sobre um trecho rochoso do litoral, não existem estradas para a Tower Studio, que pode ser alcançada apenas por meio de escalada ao longo da costa através da comunidade próxima ou caminhando sobre uma passarela estreita de madeira composta por tábuas expostas às intempéries que pairam suavemente sobre um pântano repleto de amoras brancas silvestres (“couldberries” ou “bakeapples”).

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De certa distância, a passarela de madeira é vista como uma fita de retenção, ligando o Tower Studio ao trecho mais movimentado da estrada. A passarela, de pouco mais de 30 centímetros de largura, é um componente vital para a história do estúdio, proporcionando um caminho para que os carrinhos de mão pudessem trazer materiais de construção sem perturbar o delicado ecossistema do pântano de Newfoundland e os líquens que crescem nos afloramentos de rocha.

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O caminho é um testemunho do pensamento holístico que é parte da mentalidade da Fundação Shorefast, conectando os pontos econômicos, culturais e ecologicamente sustentáveis tanto em grau micro como macro. Agora que esta proposta se passou, a passarela desaparecerá em breve a fim de minimizar o impacto sobre a paisagem do entorno da construção do estúdio.

© Bent René Synnevåg

Conforme se aproxima do edifício, a área de entrada voltada para sul é angulada em 30 graus. Acima, um corte em forma de triângulo na parede inclina-se para frente abrigando as portas de vidro duplo. Tanto a entrada interna como a angulada, revestidas por placas de pinheiro, são pintadas de branco em forte contraste com o restante da parte externa do edifício, sem janelas, de placas verticais pintadas de ardósia preta.

© Bent René Synnevåg

O Tower Studio possui três níveis, com altura de aproximadamente 10 metros. Sua área de entrada equipada com uma quitinete, um banheiro de compostagem e uma lareira. Seu segundo nível é um estúdio, iluminado naturalmente por uma ampla claraboia que se volta para o norte. Um mezanino acima se projeta para dentro da altura do volume do estúdio.

© Bent René Synnevåg

Além da complexidade geométrica do espaço, o segundo aspecto que contribui para o senso de desorientação é a ausência do detalhe arquitetônico e o fato de que todas as superfícies tanto vertical, horizontal ou inclinada, revestidas por compensado, são pintadas de branco brilhante. O único intervalo do interior austero é uma lasca do exterior visível através da única claraboia do estúdio. A parede levemente angulada oposta e paralela à claraboia proporciona uma superfície perfeita para que se possa reclinar o corpo e apreciar a paisagem.

© Bent René Synnevåg

Pode-se imaginar a sensação agradável de descansar sobre esta superfície durante uma noite enluarada com o som do Atlântico Norte e a força do vento contra a superfície exposta da torre. Do piso do estúdio, uma escada estreita (também pintada de branco) dá acesso a um espaço logo abaixo a uma abertura na cobertura. Conforme se passa pela abertura horizontal e se está no deck da cobertura, a vista do oceano e do terreno rochoso varrido pelo vento é espetacular.

Corte

Assim que o rol do estúdio foi recentemente concluído, foi concordado pelos carpinteiros locais que o edifício foi o maior desafio. Apesar da premissa básica da geometria da torre como um plano simples que rotaciona 180 graus para o plano da cobertura, a construção de forma facetada provou ser um pouco mais complexa. Com o intuito de descobrir o diagrama da estrutura, uma série de maquetes de madeira foi construída. E por fim, um modelo em grande escala foi fabricado para minimizar as confusões no momento da construção.

© Bent René Synnevåg

A história do Tower Studio não está completa sem citar as duas estruturas que o suprem. A primeira é uma trama portante de painéis solares localizada a 15 metros a oeste da entrada principal do estúdio. Dado a posição dos estúdios em locais isolados e sem acesso a facilidades como eletricidade, água e esgoto, todos são equipados com painéis fotovoltaicos, banheiros de compostagem e cisternas de água. A outra estrutura necessária para o sucesso do edifício é seu “gêmeo fraternal” – uma casa tradicional restaurada na vila vizinha onde o artista vive enquanto não está trabalhando no estúdio. Todos os estúdios da Fogo Island seguem o mesmo modelo no qual a edificação está emparelhada com uma “saltbox” – uma casa tradicional onde o artista permanece quando não está fixado a sua mais recente obra.

© Bent René Synnevåg

A restauração da tradicional casa “saltbox” e a nova construção dos estúdios, arquitetonicamente provocativos, criou uma interessante dinâmica que coloca a arquitetura vernacular local frente a frente com as expressões multifacetadas da cultura contemporânea. Como o arquiteto Todd Saunders explicou, o fato no qual as casas renovadas foram parte de um modo vernacular de construção eleva o nível de experimentação arquitetônica atribuído aos estúdios.

Em contraste às casas restauradas, localizadas no centro dos vilarejos, os estúdios estão situados a aproximadamente 15 minutos a pé da periferia das aglomerações urbanas. Os artistas experienciam tanto a hospitalidade de seus vizinhos bem como o refúgio de seu local de trabalho. Devido à localização dos estúdios, externos aos vilarejos, o caráter arquitetônico é, ao mesmo tempo, aparentemente familiar e misteriosamente “estranho”. De algum modo, os estúdios se encaixam, mas mais importante que isso, eles se destacam.

© Bent René Synnevåg

Algumas vezes, as formas abstratas e austeras dos estúdios pintados em preto e branco parecem desaparecer em meio a neblina, típica na Fogo Island. O desaparecimento pode ser um quesito interessante ao léxico da produção arquitetônica de Saunders, focando em geometrias lúdicas que geram formas dinâmicas estranhamente familiares.

Esta série de projetos arquitetônicos na Fogo Island engloba o vernacular com a produção do novo. Mais importante que isso, forma uma sensibilidade contemporânea que é vital para re-enquadrar, re-situar e rejuvenescer toda a cultura tradicional com o intuito de fazê-la encontrar oportunidades e desafios do século XXI de cabeça erguida.

 

Ficha técnica:

  • Arquitetos:Saunders Architecture
  • Ano: 2011
  • Área construída: 130 m²
  • Endereço: Fogo Island Newfoundland Canadá
  • Tipo de projeto: Empresarial
  • Status:Construído
  • Materialidade: Madeira
  • Estrutura: Aço
  • Localização: Fogo Island, Newfoundland, Canadá
  • Implantação no terreno: Isolado

Equipe:

  1. Arquitetos: Saunders Architecture
  2. Equipe de projeto: Attila Béres, Ryan Jørgensen, Ken Beheim-Schwarzbach, Nick Herder, Rubén Sáez López, Soizic Bernard, Colin Hertberger, Christina Mayer, Olivier Bourgeois, Pål Storsveen, Zdenek Dohnalek
  3. Arquitetos Associados: Sheppard Case Architects Inc. (Long Studio)

Sobre este escritório
Cita: Fernanda Britto. "Torres Studio / Saunders Architecture" 14 Mai 2012. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-48528/torres-studio-saunders-architecture> ISSN 0719-8906

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