Remonta ao final dos anos 90 o crescimento visível da imigração em Portugal. Esta realidade surpreendeu o país e não tardaram as necessidades associadas a este fluxo migratório: tornava-se evidente e urgente a revisão dos processos de acolhimento e integração destes novos cidadãos.
Neste contexto surge em 2002 a encomenda do projecto, mais especificamente com a identificação de graves lacunas e sérias necessidades na comunidade de imigrantes de leste recém-chegados ao Porto. Os Jesuítas e um conjunto de leigos estavam decididos a criar uma estrutura de apoio para responder aos inúmeros pedidos de ajuda e outras situações-limite diagnosticadas.
O terreno disponível totalizava cerca de 2000 m2: 20m de frente, 100m de profundidade, perímetro totalmente irregular (dimensão e forma pouco comuns na cidade do Porto).
O programa ‘foi-se elaborando’ – não existia nenhum edifício construído de raiz com esta especificidade, apenas centros adaptados… persistiam muitas dúvidas que se foram resolvendo com o tempo e com o próprio desenvolvimento do projecto. Sabia-se no entanto que provavelmente uma fracção da volumetria a edificar seria para financiar parcialmente a construção – provavelmente o edifício de 3 ou 4 pisos à face da rua (pois era comercialmente mais interessante ficando o interior do quarteirão para o Centro).
Foi com estas indefinições que partimos para o projecto procurando na envolvente próxima motivos para organizar o programa neste invulgar logradouro. Como já é habitual deparámo-nos com anexos, armazéns, pequenas indústrias, aterros e construções clandestinas…
Como estratégia de ordenamento do terreno definiu-se um plano (cobertura) que se estenderia no espaço disponível até aos seus limites. Neste plano pousaria o edifício à face da rua e seriam recortados uma sequência de pátios de acordo com as necessidades de iluminação natural, programa e exigências regulamentares:
- - O primeiro recorte, encostado ao tardoz do edifício define um pátio fundamental à pontuação da entrada no Centro, separação dos programas e abertura do Centro à rua;
- - O segundo pátio foi criado para iluminar a sequência de gabinetes (médico, jurídico, emprego, religioso, direcção…) e os alojamentos temporários (individuais e familiares).
- - O recorte mais expressivo na cobertura – pátio ajardinado central – assume uma função agregadora do programa social, lúdico e pedagógico do Centro: salão polivalente (que servirá no dia-a-dia para zona de refeições/zona de estar/pequeno auditório), ateliers, salas de aula/espaço infantil e capela/espaço ecuménico (volume independente);
- - E finalmente o pátio de serviço no topo oposto ao arruamento, serve a lavandaria, rouparia, estendal, funcionários e instalações sanitárias de maior dimensão;
Apesar de todas as condicionantes, indefinições e adiamentos, procurámos desenhar uma casa luminosa e humana, capaz de transmitir esperança aos imigrantes que a irão habitar.
- Promotor/ Dono da Obra: Província Portuguesa da Companhia de Jesus
- Construção: 2008