OR Mala-Mesa + 2 Bancos
O objecto Mala-Mesa relaciona-se estreitamente com a “Caixa-Mala” de Marcel Duchamp, concebida como um museu transportável. Esse objecto, que se desdobra e transforma em mesa, e que contém dois bancos no seu interior, concilia a ideia de máquina precisa com a ideia de caixa de surpresas.
O objecto cénico situa-se, portanto, numa fronteira entre a abstracção, a funcionalidade e uso do espaço, próprio da arquitectura racionalista, e a evocação, utilizando códigos antagónicos dentro do mesmo objecto, no contexto de uma clara referência às premissas da condição pós-moderna. Nesse sentido, como refere Ana Tostões, põem-se “em relação duas aproximações aparentemente inconciliáveis: Por um lado, um sentido abstracto e minimal e, por outro, uma forte carga expressiva, mesmo dramática”, que denuncia, quer uma leitura atenta do texto, quer uma vontade de empatia e de relação com os espectadores.
É esta justaposição de duas concepções divergentes – uma de génese moderna e funcionalista, cuja paroxismo é Mies van der Rohe, e outra eminentemente simbólisestaca, mais próxima da leitura pós-moderna instituída por Robert Venturi – que permite introduzir nos objectos “puros” e abstractos, a noção de habitabilidade, tornando-os contentores espaciais, complexos e “híbridos”, conotados com manifestações e usos do quotidiano.
Ou seja, os dispositivos cénicos envolvem a ideia de objecto-máquina e, simultaneamente, são veículos de significado, ligando linguagem e memória. A contradição entre funcionamento e significado, reconhecida nestes objectos, gera tensão positiva na acção teatral, ao aproximar manifestações historicamente tomadas como contrárias.
Sinopse: A SESTA / Um filme de Olga Roriz
- Cinco viajantes à procura de um lugar perfeito, paradisíaco…
- O lugar onde o momento se faz repasto para mitológicos deuses.
- Malas e mais malas que se transformam em longas mesas.
- Mesas e mais mesas… Postas. Cheias.
- A comida a transbordar pelos cantos da toalha. O vinho derramado.
- A gula de garfo e faca, de goelas abertas e mãos sujas.
- Pratos que voam e se suspendem no ar como pássaros.
- Tudo às avessas como o próprio tempo. Tudo parado. Quebrado até ao silêncio.
- Essa intimidade de um Olimpo perdido no sono profundo da nossa imaginação.
- Olga Roriz