O projeto deste Espaço Cênico está locado em Vícar, um povoado típico da colonização do Campo de Dalias de Almería ocupado por colonos das Alpujarras durante os anos 60. Inconfundível paisagem plana aos pés da Serra de Gádor, uma peculiar extensão de plásticos, um mar artificial de estufas que chega a se confundir em seus limites com o verdadeiro.
O local destinado para a construção é um vazio situado entre os edifícios de uso público: o Colégio, a Câmara Municipal, o Centro de Saúde e o Mercado. O espaço urbano que forma parte resultante do modo de implantação livre de cada edifico na parcela, um espaço sem forma, disperso, poderia ser dito residual, ao contrário da trama que o serve. Estabelecer uma nova ordem, mais amigável, nas condições deste lugar inóspito, foi uma das intenções básicas do projeto.
Assim e dadas às generosas dimensões do local, procurou-se uma ordenação do conjunto que situa com lógica os usos próprios do Espaço Cênico e gera espaços públicos a disposição dos cidadãos; uma ocupação que consentirá a versatilidade dos usos, permitindo uma utilização flexível dos espaços, salas de ensaios, pátios, a “praça de exposições”, cafeterias, etc.
Mais do que um edifício isento, como podem ser os adjacentes, trata-se de uma peça urbana onde o espaço público adentra, se integra e complementa o teatro. Dadas as características do edifício e as condições particulares do clima do lugar, prestou-se especial atenção à criação de espaços de transição entre o exterior e interior, espaços situados entre e abaixo do edifício, nos quais seja possível se reunir, encontrar e participar.
O conjunto assenta sobre uma base elevada, à maneira clássica, com a intenção de situá-lo num plano elevado que sublinha sua singularidade e reduz, na medida do possível, a escavação necessária para o espaço subterrâneo. A transição entre cotas é realizada mediante um sistema de rampas e amplas escadarias.
Os acessos do público acontecem abaixo do grande pórtico da fachada NE, desde a praça que o conduz: um lugar que permite por um lado o necessário distanciamento dos edifícios que a rodeiam e por outro a acumulação de pessoas em horários de apresentações, um espaço livre prévio aconselhável em qualquer edifício público, um espaço representativo próprio que potencie suas qualidades de um edifício singular. Áreas de sol e de sombra, pavimentadas ou ajardinadas, onde é possível se reunir ou transitar durante o dia ou cruzando elas para chegar aos espaços mais interiores e às áreas multiusos. Junto ao átrio principal estão situadas as bilheterias.
Foi dado prioridade aos pontos de vistas, oferecendo sempre grandes variedades de focos. A rampa de veículo que está no extremo SE, no ponto mais baixo do terreno.
No outro lado, a área de carga e descarga permite também o acesso à galeria e ao palco. Junto a este, na Rua Homero, está localizado o acesso, restrito ao pessoal do staff, que conduz depois de cruzar o primeiro pátio, para um maior, escondido do lado de fora, que organiza e distribui todas as funções semipúblicas e privadas do teatro: salas de ensaio, camarins, administração…
No hall de entrada, assimétrico devido à organização do teatro, está alojado sob um suporte das arquibancadas e convida o espectador a presenciar o grande volume laranja da sala. Uma grade qualifica a luz e a relação com a praça em sua frente. Aos lados, escadas, banheiros e cafeteria, que foi concebida com a possibilidade de um uso independente ao do próprio teatro. Sequências especiais e relações visuais são elementos determinantes em sua articulação. Procurou-se igualmente reduzir dentro do possível as galerias, programando mudanças de espaços de acesso ao teatro mais amplos e melhores iluminados.
O teatro possui capacidade para quatrocentos espectadores. Foi desenhada uma arquibancada contínua (com inclinação variável), considerada ótima por razões de visibilidade e por seu comportamento acústico, já que evita as zonas surdas. Sobre ela e em todo o perímetro uma galeria técnica e a cabine de projeção e controle.
A caixa cênica, como fábrica do imaginário, necessita de um tratamento igual a aquelas de um funcionamento correto; isto implica em dimensões concretas de seus elementos e uma determinada organização que não deve ser ignorado.
A estrutura dos muros é feita de lajes de concreto armado e é colocada como uma grande lâmina que se dobra em todas as direções dando forma aos espaços construídos. Sobre ela e paralela a essa foi sobreposta uma segunda, mais fina, leve e de cobre. Dedicou-se um cuidado especial ao controle do tamanho das peças, suas orientações, textura, brilho e oxidação. Foram utilizadas duas ligas conjuntas ao cobre natural.
Um material que muda com a luz e com o passar do tempo dando um caráter próprio à edificação. Durante o amanhecer as cores do cobre são mais frias; com o entardecer se transformam em cores mais quentes e avermelhadas, variando, todavia, mais durante a noite quando fica próximo do verde-azul. O uso nobre do material potencia ainda mais a representatividade do edifício num local como este, onde o caráter coletivo é refletido em suas instituições.
Custo edificação: 5.173.890 Euros