O Projeto
O projeto desenvolvido para a residência de um jovem casal, em uma casa de vila no bairro do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, datada do início do século XX, procurou estabelecer a harmonia entre o conjunto existente e as intervenções que foram feitas e com o entorno, respeitando as orientações do patrimônio. Seu principal objetivo foi, dessa forma, atender os desejos dos seus futuros moradores. As vilas operárias da antiga fábrica possuem um conjunto de casas geminadas [08 casas], com praticamente o mesmo tipo de ocupação do lote [50%], e dimensões [4.5 de fachada por 18m de profundidade]. Por ser uma área preservada pelo patrimônio, algumas determinações traçaram as diretrizes do projeto. Primeiro, devem ser mantidas a volumetria e características do conjunto existente, conformado pela fachada principal voltada para a rua [mantendo as proporções e vãos existentes], a cobertura de telha cerâmica, e a fachada interna [podendo sofrer alterações para abertura de novos vãos, mas deveria ser mantida ou recuperada a estrutura original]. Além disso, as normas para ocupação do lote determinam que: se for previsto um novo pavimento dentro do conjunto original, a laje tem que obedecer a um afastamento mínimo da fachada principal; deve ser mantida uma área não edificada que corresponda a 20% da área total do lote; e caso se construa uma nova estrutura, a mesma deve estar afastada do conjunto original.
A partir dessas condições, foi possível determinar as premissas para a distribuição dos espaços, a fim de se obter uma melhor relação entre todos os ambientes que conformam a casa. Essa percepção fica mais clara através do diagrama abaixo, onde as áreas mais escuras representam os fechamentos horizontais [pisos] e verticais [paredes] de cada andar, e as mais claras, os vazios, que se interligam pelos três pavimentos [térreo, pavimento do nível da passarela e terraço]. Essa leitura, que primeiramente passa a idéia de uma divisão de quatro quadrados com praticamente as mesmas medidas, que estão conformados de forma linear, na verdade representa uma integração maior entre todos os ambientes, evidenciada principalmente pelos vazios criados.
A partir de uma ocupação gradual dos espaços em cada pavimento, onde o térreo possui uma maior área de piso ocupada, e que vai se tornando menor através dos outros dois níveis, a idéia é que os vazios se tornem presentes sem que se tenha uma definição física e limitada de cada espaço. Ou seja, os espaços são definidos pelos vazios, como é o caso do pé direito duplo da sala de estar, que se prolonga até o mezanino, bem como do prisma do pátio interno, que se relaciona com todos os ambientes da casa, mesmo não sendo uma área edificada; tendo em vista que se trata de um vazio, permite que seja possível se ter a percepção de que há, sim, ocupação dessas áreas, já que é nos vazios que temos essa interligação tão evidenciada.
Essa interligação pode ser percebida também nos elementos de fechamentos utilizados e nas aberturas das janelas e portas que se voltam para esses vazios, como no caso da janela da suíte do casal que se abre para o vazio da sala de estar, e das janelas e portas que dão para o pátio interno, e permitem de uma forma dinâmica, uma maior diversidade da relação e ocupação dos ambientes. Essa continuidade ocorre mesmo quando há a delimitação parcial de alguns ambientes, seja pelos pequenos desníveis criados, como ocorre na mudança da sala de estar para a copa, ou pela troca dos materiais utilizados.
Espaços e Usos
O primeiro pavimento, por onde se tem acesso a casa, abriga as áreas que possuem um uso mais social. Assim que se entra na casa, no interior da construção original percebe-se um grande salão, que abriga a sala de estar e a sala de jantar, que integra a cozinha. A presença de desníveis, tanto no piso como no teto, já que o estar possui um pé direito duplo, e a sala de jantar está em um nível um pouco mais abaixo e sob o mezanino, delimita os usos desses dois ambientes, porém mantendo a continuidade espacial entre eles.
Ainda no térreo, na parte de trás do lote, onde foi concebida uma nova estrutura para abrigar parte do programa desejado pelos moradores, está a sala de TV. Entre as 02 construções há o pátio, que possui uma cobertura retrátil, e onde estão os elementos de interligação dos pavimentos e dos dois blocos: a escada e a passarela. O posicionamento do pátio entre os dois volumes permite que através dele haja uma integração de todos ambientes entre si, e possibilita uma maior diversidade de usos nessa área. A preocupação com o conforto térmico do projeto foi também um fator determinante para dispor o pátio no meio do lote, pois assim ele permite uma melhor ventilação, além de servir como fonte de luz natural para todos os ambientes.
No segundo pavimento, que abriga os ambientes de caráter mais íntimos da residência, encontram-se as duas suítes: a do casal, que está localizada no mezanino que foi construído no volume original; e a do escritório, que fica no volume de trás do lote. Ambas têm portas e janelas piso-teto voltadas para o pátio, e a suíte do casal ainda possui uma grande janela que se volta para o pé direito duplo da sala de estar.
Há ainda, sobre a nova construção, um terraço que abriga parte dos elementos de infraestrutura da casa, e que serve como uma ótima área de lazer, onde é possível se apreciar o belo entrono conformado pelo parque do Jardim Botânico e pelo Cristo Redentor.