O terreno está numa rua residencial de baixa densidade. Apesar da aparente centralidade do local, predominam por um lado as habitações unifamiliares isoladas, de pequenas dimensões e não alinhadas, e por outro, lotes sem nenhuma atividade, ou pertencentes à unidade de propriedades maiores. Estas características, somadas à ausência de calçadas, mobiliários urbanos ou iluminação pública e a grande profusão de árvores, conferem um caráter muito pouco estruturado e escassamente denso. Uma alteração recente na norma para a zona pretende modificar esta situação, densificando o tecido, mas sem esboçar a configuração de um corte de rua urbana. A nova norma é muito estrita quanto à definição dos envolventes exteriores, os materiais, cores a serem utilizadas e inclinação das coberturas. Também permite e incentiva a tipologia de casas geminadas.
O encargo propõe o projeto e construção de três unidades habitacionais em fileira, de dois níveis cada uma. O programa completo é composto por cozinha, lavanderia, estar, sala de jantar e toilette no térreo e dois dormitórios e banheiro no pavimento superior. É, incorporado, um pátio em cada uma das três habitações para enriquecer a conectividade visual e para que permita ajustar as alturas para o cumprimento do programa e da norma. Também foi decidido escalonar as três unidades. Com estas operações pretende-se, por um lado, garantir um isolamento maior e mais homogêneo das três unidades e por outro, minimizar o impacto visual que teria, no entorno imediato, uma fachada contínua de semelhante altura e comprimento. Desta forma, indiretamente, é conseguida uma maior privacidade das expansões naturais das casas, e a redireção dos visuais das salas de estar ao noroeste, evitando assim o fundo da casa no limite do lote. Quanto à leitura formal do conjunto, foi trabalhada a articulação volumétrica das três habitações, na busca pela compreensão de certa unidade na operação, foram aproveitados os planos inclinados das coberturas como planos compartilhados e vinculadores. Desta forma foi produzida a segunda articulação formal que define o projeto, no plano vertical, em nível da volumetria.
Um dos desafios que apresentava a construção do projeto era conceber o casco inteiramente em madeira, fechamentos, revestimentos e estrutura. Apesar da profusão deste material no sul do país, é escasso o conhecimento especializado e a pouca presença de uma indústria de produtos derivados, circunscrevem seu uso à elaboração de elementos estruturais isolados e de revestimentos de interiores e exteriores, apresentando muitas vezes patologias derivadas de sua má aplicação. Optou-se por considerar um sistema integral usado na Noruega, baseado nas indicações e experiência de Norges Byggforskningsinstitutt (Instituto de Pesquisas da Construção de Noruega) e o adaptar à realidade climática (maiores temperaturas, chuvas mais intensas, menor acumulação de neve), física (necessidade de cálculo sísmico estrutural, distinto tipo e qualidade de madeiras) e humana (mão de obra não especializada) da Argentina.
A eficácia do sistema, além de conceber o próprio fechamento como estrutural, com a ousadia conceitual e material que isto implica, é baseado em permitir completar uma câmara de ar controlada e constante em toda a envolvente do volume, que garante sempre a aeração da madeira. Desta forma é evitada a deterioração e a formação de gelo nas camadas superiores, o que prolonga exponencialmente a vida útil do material. Também, permite possuir uma cama considerável e contínua de isolamento, anulando todos os pontos térmicos (todas as carpintarias possuem vidro duplo) e asseguram assim o conforto interior com uma considerável economia energética. O sistema de calefação possui um piso radiante e uma salamandra de alto rendimento, locada estrategicamente. A paleta de materiais e as cores são reduzidas em: preto, branco e madeira; revestimento exterior de cipreste pintado de preto e modulado em função do espaçamento da chapa acanalada do teto, também preto; paramentos interiores brancos, pisos de granito preto no térreo e pisos de madeira de cipreste no piso superior; e as carpintarias também são todas de cipreste natural.
O objetivo do trabalho foi desenvolver um programa de habitações em fileira, analisando as potencialidades que apresenta esta tipologia no que se refere à apropriação física do terreno e às relações formais e espaciais que estabelecem as distintas unidades entre elas. Abordar a materialização do projeto desde o detalhe, a adaptação de um sistema construtivo próprio de outra realidade material. Estudar sua implementação e sua pedagogia sobre o terreno para transcender a intenção e o desenho.
Informação Complementar:
- Construção: Francisco P. Kocourek