Casas Empilhadas
O projeto surge do anseio de construir um edifício em família e de estudo. Pais, irmãos e arquitetos tornaram-se um só cliente. Nasceu um edifício incomum, com cinco unidades empilhadas em altura. Cinco casas com nome e sobrenome.
Propôs-se uma dissociação dos elementos. Desde a proposta urbana de desprender-se do térreo, para separar-se e parecer independente da rua e o fundo do lote, até o acesso a cada unidade e os espaços comuns.
A fachada de concreto armado com fôrmas de tábuas de madeira tradicional, em contraste com os grandes panos de vidro, marcam as linhas das “casas”, delimitadas pelos balcões de varanda de cada pavimento de duplex.
O pé direito duplo do acesso e o espaço de garagens têm a função de vincular espaços que propositalmente são separados. Ao caminhar neste primeiro espaço, em uma rampa quase imperceptível, o passo é desacelerado, à medida que adentra.
A meia altura vê-se o pátio, um lugar íntimo, que serve tanto para o exterior como para o interior, como os de antigamente. Através de uma abertura para o saguão, vê-se o que acontecerá adiante. Os espaços do edifício serão desfragmentados em volumes estanques: as casas.
Utilizar a circulação vertical é um instante dentro do edifício como tal. Uma vez que se deixa esta etapa, chega-se a cada unidade através de uma passarela que cruza o pátio interno, o que faz reviver o acesso principal. A rua está atrás, mas só agora é atingida.
O tijolo comum, aparado e pintado e branco, confere uma textura fria e quente ao mesmo tempo. Os vidros externos, quase sem bordas, em complemento com as folhas das esquadrias de madeira, dentro do mesmo quadro, mas desempenhando outro papel, é outra contradição buscada.
Vida interior
A unidade de habitação em duplex possui qualidades muito definidas em cada planta, tanto para as unidades tipo, como para a cobertura. A entrada desde a passarela evidencia parte do interior. A planta baixa em um espaço único reúne o hall, copa, cozinha e sala de estar, além de uma expansão, para atividades que ali ocorrem. Tudo é integrado e um desnível atravessa o espaço, demarcando atividades.
Um grande plano de vidro corrediço, com o quadro de madeira (como todas as partes móveis do edifício) permite uma forte relação com a expansão do espaço exterior, deixando uma metade reservada para o que não é preciso integrar com o exterior e necessita de um apoio interno
Uma escada muito permeável leva ao espaço do mezanino. Uma grande suíte, com o banheiro dividindo o dormitório e a área de armários e escritório, conforma outro espaço fragmentado, mas sem divisórias. Apenas algumas telas de vidro fosco dão privacidade aos sanitários.
O piso e o teto, de materiais uniformes cinzas, contrastam, em um jogo de luz, com o branco das paredes e equipamentos. Conformam o espaço, porém quase não se tocam. A carpintaria quase imperceptível desde o exterior, que realça a presença do vidro, converte-se em um contraste da madeira e a luz no interior.
Vida exterior
O topo do edifício é o playground de todas as unidades. A escada principal é iluminada pela grande janela que conduz à última passarela. Chega aí ao salão para usos múltiplos. Um cômodo com um pé direito e meio que utiliza o peso do concreto armado do reservatório como uma peça sutilmente colocada por sobre o espaço, dando o arremate no volume da edificação. Além do salão, o terraço e o espelho d`água mimetizam-se com a cidade, através das empenas vizinhas, de forma que somente cinco residências empilhadas poderiam tornar-se um marco visual.