Projeto
O processo de projeto se inicia mediante o estudo de uma série de estruturas em madeira amplamente conhecidas, no qual a capacidade de deformação dos materiais e a rigidez de suas uniões permitem criar formas complexas que não necessitam de uma estrutura externa para apoiá-las, neste caso a ênfase foi no sistema gridshell.
A forma parece buscar um modelo que conceda beleza volumétrica e grande capacidade estrutural.
Após esta pesquisa encontramos a hipérbole, que ao ser uma secção cônica, definição geométrica, funciona transpassando suas cargas de maneira uniforme por todo volume. Com um sistema construtivo no qual o esqueleto é de madeira, possuímos beleza, esbelteza e leveza em um objeto que possui uma capacidade estrutural extraordinária.
Como modo de prova, o corpo é disposto de maneira horizontal criando um pavilhão. Ao realizar este exercício notamos que a estrutura não funcionaria já que não seria capaz de transmitir as forças uniformemente, necessitando estruturas complementares. Após isso, foi decidido voltar à forma vertical, forma natural da hipérbole, para começar com o processo de desenho de cada uma das peças que comporiam a estrutura, incluindo o cálculo dos elementos verticais que dão a forma e altura.
Uso
Existem varias construções em altura que utilizam este tipo de forma, torres de água, torres de resfriamento, edifícios, colunas, etc.
“Apreciar a beleza cênica através da geografia natural é um dos benefícios em estar nas alturas. Antigamente era frequente encontrar torres nos cultivos para serem vigiados e possuírem um controle visual sem a necessidade de percorrer todo o lugar. A ação de vigiar levava inconscientemente a observar além do necessário, transcendendo os limites dos cultivos da paisagem que o rodeia. Encontrar-se numa posição de altura, permite criar uma panorâmica de 360 graus”.
Sob esta observação, é criada uma torre de vigilância para o Maule que, por sua vez, outorga identidade ao vale. No caso deste projeto, o vigilante dos vinhedos, vigiará também o pôr do sol de Maule.
Detalhes
Ao estar definida a forma e o uso, chega o momento de estabelecer as dimensões da torre, a maneira de como ela será construída, o desenho das junções, etc.
A torre está construída baseada em ripas de pinho impregnado de 2×2” unidos entre si através de um sistema de placas metálicas fabricadas em série, isto permite que exista um leve jogo nos encontros de cada vara, sem a necessidade de perfurá-las debilitando sua estruturação.
A base da torre está fundada em uma plataforma retangular que busca se impor no lugar como um elemento que ordena mediante um banco de madeira multipropósito, a ideia é que funcione como mesa, assento passarela.
Seguindo as linhas das cotas de nível do terreno, é criada uma inclinação que se separa em dois níveis que buscam gerar situações diversas. A mais alta, suportar a torre e é parte do acesso ao projeto e a mais baixa, busca refugiar o usuário, o levando a um nível inferior, o que gera um ponto de reunião num lugar para fogueiras desenhado.
Construção
O processo de construção consiste em duas etapas..
1. Pré-fabricado
Como no lugar que a torre está instalada não existia eletricidade, foi necessária a pré-fabricação das peças.
Cortar, dobrar e perfurar 384 placas. Cortar e perfurar 96 tubos metálicos quadrados para as uniões das ripas e atingir cerca de sete metros. Fabricação de doze bases móveis. Preparação da madeira. Fabricação de mais de mil parafusos, para parafusar fios de um metro.
2. Montagem
Após terminar o processo de pré-fabricação, são levados ao lugar todas as peças para começar o processo de montagem.
No princípio segundo a planificação, planos e modelos 3d, a montagem não deveria apresentar maior dificuldade e todo o processo deveria se cumprir num tempo não maior que três dias.
Quando começamos a construção, nos demos conta que os encontros não se encaixavam como o desenhado nos modelos e maquetes, e as madeiras começaram a se dobrar devido ao alto calor. Depois de um processo lento, conseguimos conectar o primeiro anel metálico e dar o primeiro passo para a estruturação da torre.
Desde este momento, todas as uniões posteriores não encaixavam com exatidão o que nos obrigou a pensar numa solução que permitisse seguir avançando e poder estruturar de maneira definitiva a torre. Para isto, tivemos que soltar cada uma das uniões e movê-las individualmente para chegar ao ponto exato, o problema era que ao ajuntar um anel, automaticamente o anel inferior se soltava, voltando atrás um por um, os ajustando. Num ponto não foi possível seguir a instalação dos anéis já que a madeira se abriu demasiadamente e era muito difícil conseguir juntar as varetas para a instalação das uniões. Assim, para abraçar a cintura da torre buscamos uma correia, que é utilizada para assegurar a carga de caminhões. Com o cinturão, se ajustou a torre, assim, foi possível instalar todas as uniões faltantes e tornar rígida a estrutura completa.
Logo foi instalada a plataforma superior, o que concebeu a estruturação final da torre.
Finalmente foi instalada a plataforma para a fogueira e finalizada a pavimentação que suporta o Vigilante do Maule.
Informação Complementar:
- Professor orientador: Mauricio Ramírez Molina, Arquiteto
- Cálculo estrutural: Professor Patricio Lara Ditzel, Engenheiro Civil
- Inspeção técnica na obra: Professor Cristian Palma Valladares, Arquiteto
- Fotografias: Carlos Jarpa, Fernanda Clement