PACMAN é um projecto de design de marcos de recolha selectiva de lixo, que, depois de três anos de pesquisa e desenvolvimento, viu em 2011 o inicio de uma implementação em larga escala, em Vilamoura / Portugal.
As peças possuem um design pioneiro que está a mudar o mindset dos cidadãos perante a reciclagem, com crescente sucesso desde o início da implantação.
O conceito surge de intensa investigação, permitindo direccionar a estratégia de desenvolvimento do design. Para o objecto ser totalmente sucedido, teria de ir além do cumprimento objectivo, funcional, formal ou plástico. Teria de possuir uma identidade imaterial de dimensão cívica, cumprindo um papel de intervenção social. Tornou-se portanto necessário criar objectos não anónimos, assumidamente presentes no contexto urbano, caracterizados por uma identidade positiva, que apela à pluralidade e democracia de uso.
A atitude é assim pedagógica e formativa, de forma a dirigir o mindset doutilizador, sensibilizando-o no sentido da responsabilização ecológica, neste caso através da separação do lixo. Isto foi conseguido através de uma linguagem caracterizadamente sedutora, presente viva, com recurso do uso da cor e da forma. O objectivo foi plenamente atingido e comprovado pela utilização massiva do objecto. Concretizou-se a ausência e anulação do peso negativo comummente relacionado com objectos similares. Foram observadas crianças a pedir aos pais para ir colocar o lixo no seu lugar ou cenas caricatas com famílias e turistas a tirar fotografias ao lado de contentores de lixo. Os objectos assumiram-se como elementos caracterizadores de uma identidade urbana consciente.
Foi possível concretizar uma abordagem que entende o design como meio essencial de interacção e de posição reactiva perante o anonimato urbano do contexto contemporâneo. O resultado são objectos que provocam reacções, emoções e sensações, peças provocadoras que exploram os limites sensitivos da utilização e uma fuga à monotonia.
A linha desenvolvida, assume uma identidade exterior similar em termos de forma, com diferenças na cor – distinguindo o tipo de resíduos – e no mecanismo interior. Os diversos tipos de mecanismo interior, em aço inoxidável, cumprem o objectivo efectivo de evitar o contacto com superfícies sujas e limitar o contacto visual e olfactivo com os resíduos. Os sistemas para lixo orgânico e embalagens utilizam um tambor (de eixo rotativo por contra pesos), associado ao movimento da tampa, e os sistemas de vidro e papel utilizam um sistema fixo de conduta, independente do movimento da
tampa. Previu-se, para além da abertura manual da tampa de acesso à deposição de lixo, um pedal que liberta as mãos e evita o contacto com o objecto.
O material exterior é em compósito de fibras, conferindo ao objecto uma resistência mecânica ideal para condições adversas e exigências de colocação na via pública, fornecendo também uma excelente resposta em termos de resistência a líquidos ácidos e lixiviados.
A peça demarca-se pela inovação, traduzida em aspectos de posicionamento ecológico e sustentável, de dimensão cívica e de concretização funcional.
Memória Conceptual
Acordou num dia agradável, aparentemente mais um igual aos outros, com o sol da manhã seguindo lentamente o seu despertar.
Veio até à rua, ainda algo desorientado, e havia algo diferente. Sentiu uma presença peculiar à sua volta, mas estranhamente não se sentiu ameaçado.
Já acordado, percebeu que eles tinham invadido a cidade. Criaturas perfeitamente redondas de pele branca, distintos uns dos outros pela cor das suas bocas, multiplicavam-se, rolando pelas encostas, dispersos em grupos e juntando-se em pontos estratégicos. De repente, abriram as suas bocas azuis, amarelas, verdes e pretas, e começaram a comer todo o lixo de forma cuidadosa, com um critério espantoso.
Agora estava certo de que estes pequenos soldados vieram em paz. Sabia que eles não iriam atacá-lo e que tinham como propósito protegê-lo. A ele e ao seu habitat.
Nesse momento, um deles aproximou-se sorrindo e disse: “pode resistir-se à invasão de um exército, mas não se pode resistir à invasão das ideias”. (Victor Hugo)