As ruínas existentes do Palácio renascentista Szathmáry é um dos mais valiosos monumentos protegidos da Hungria. O Palácio está na cidade Pécs, que é uma das mais antigas da região sudoeste do país, com um longo passado. As ruínas estão no parque Tettye Valley na parte nordeste da cidade, onde o denso tecido urbano histórico encontra a natureza. O vale sobe até quase o coração da cidade, oferecendo, no seu topo, uma vista magnífica da cidade. Bispo György Szathmáry (1457-1524) construiu, ali, sua residência de verão em estilo renascentista no começo do século 16.
O Palácio deve ter sido um edifício de dois pavimentos, com um pátio interno, e construído com pedra local. Acredita-se que tenha sido organizado em forma de U, disposto ao redor de um pátio aberto para o sul, isto é, em direção à cidade. Uma escavação arqueológica confirmou que o bispo de Pécs construiu um edifício com um pátio interno que foi reconstruído muitas vezes depois. Durante a longa ocupação da Hungria pelo Império Otomano, em meados do século 16,o palácio abrigou, provavelmente, mosteiro turco. Acredita-se que foi quando a torre sudeste foi construída, e que ainda está intacta.
Após os otomanos serem expulsos, o edifício ficou vazio e seu estado tornou-se cada vez pior. No começo do século 20, uma parte da construção foi demolida, e algumas aberturas foram reforçadas com arcos, proporcionando assim um senso de estética da ruína romântica. Até recentemente, a ruína era usada como cenário para um teatro de verão. Porém, apesar de sua longa história e de sua ótima localização, o palácio, no péssimo estado em que estava, não era capaz de desempenhar o papel adequado de sua importância histórica e arquitetônica.
Em 2012, Pécs, Essen e Istambul receberam o titulo de Capital Europeia da Cultura. Como parte disso, um projeto prioritário concentrou-se na restauração de áreas públicas, incluindo o Tettye Park. Esse projeto deu a oportunidade de colocar a ruína em um novo contexto, e o parque estaria presente nessa renovação como um todo. A ruína, em sua densa complexidade, trazia uma série de qualidades, e, portanto, os arquitetos da intervenção estudaram seu contexto atual e a condição das ruínas como um ponto de partida.
O Palácio Szathmáry é hoje, principalmente, ruínas de um edifício, mas essa qualidade não diz muito. Não reflete, particularmente, um traço renascentista significativo. Obviamente, faltam detalhes arquitetônicos que sabemos muito pouco (poucos dos fragmentos renascentistas mantidos em Pécs podem ser atribuídos à construção em Tettye). Assim, pode se dizer que a realidade arquitetônica da ruína continua existindo através das relações espaciais geradas pelos muros remanescentes. Entretanto, isso mostra uma imagem bastante confusa devido à erosão natural e humana. O volume de danos no canto sudeste é tão grande que dificilmente pode se imaginar a totalidade das ruínas.
Ao mesmo tempo, a ruína bastante danificada, devido principalmente o estado negligente do parque, aparece como o elemento de uma paisagem pitoresca no vale de Tettye. Cartões-postais do pré-guerra representam a atmosfera de um belo e pitoresco local turístico, que, inegavelmente, comanda toda a paisagem. No entanto, o parque abandonado começou a tomar conta das ruínas, até que na alta temporada, não é possível identifica-la como um todo. Esse sentimento ainda permanece se a olharmos de perto, devido à intensa erosão da forma sul do edifício. A imagem da ruína pitoresca é enfatizada pelos arcos construídos no século 20.
A terceira peculiaridade importante sobre a construção é o espaço interior originalmente fechado do palácio passou a fazer parte das áreas públicas do parque, dissolvendo a diferenciação anterior entre a paisagem e o edifício. Com isso, a ruína ganhou a qualidade de um espaço público. Curiosamente, os espetáculos ao ar livre do teatro de verão, situado nas ruínas, enfatizou ainda mais essa característica.
O programa de reconstrução do Tettye Park basicamente tornou inevitável redefinir o papel da ruína do palácio como um elemento enfático da paisagem e um monumento arquitetônico. Ao definir as intervenções, nosso principal objetivo foi evitar a substituição das camadas intelectuais, bem como a qualidade resultante da complexidade da ruína. O ponto de partida foi aceitar a existência dessas camadas que foram desenvolvidas através dos séculos ou de apenas algumas décadas. Ao mesmo tempo, era inevitável revisar e “ressintonizar” a qualidade e os significados presentes na ruína.
Durante o curso das intervenções arquitetônicas, em conjunto com a autoridade de proteção ao patrimônio, a planta térrea e sua reconstrução parcial foi pesquisada e realizada com base em resultados científicos da escavação arqueológica, que aconteceu anteriormente à fase de projeto. Durante a escavação, bases das paredes da ala sul, que há muito tempo pensava-se que estavam desaparecidas, foram encontradas, bases que pareciam suportar a hipótese de que o edifico não tivesse uma forma de U. Como resultado do trabalho arqueológico, fomos capazes de desenhar as paredes anteriores, e construir a planta térrea original.
O que nós fizemos basicamente durante a reconstrução do plano foi reparar o nível do solo dentro de todo o limite da ruína, e também a construção de muros de arrimo ao longo do lado sul que sofreu a erosão, e da região sudeste, na qual o solo erodido foi preenchido até o nível da ruína. Esse muro de arrimo tem a função de estabilizar e parar a erosão que resultou no deslizamento.
Durante a reconstrução espacial, projetamos uma estrutura em aço, em L, para a substituição de uma parte do edifício que foi perdida, alocada no lado sudoeste; a estrutura atua inclui uma torre-mirante e escadas, assim como um aporte técnico necessário para o uso do teatro. É importante mencionar que essa nova construção não é uma reconstrução formal, por não ser o nosso objetivo, e ainda pela falta de dados sobre a parte original, e por isso não repete a massa original corretamente.
Ao contrário de uma cópia, o que queríamos era criar uma massa no canto da parede que reforçasse o caráter construtivo da ruína, em oposição à própria imagem de ruína, enquadrando a cidade. No terreno do edifício, nenhuma outra reconstrução foi feita, ou seja, não tínhamos a intenção de ‘completar’ a ruína. Evidentemente, a torre-mirante oferece uma vista fascinante da cidade, mas ao mesmo tempo tem também uma boa vista da parte interna do patrimônio, tornando o piso térreo reconstruído limpo e revelador.
Como parte do plano de reconstrução, nós redefinimos o piso no interior das paredes do palácio, referindo-se ao antigo uso dos espaços: o pátio interior tornou-se uma zona de gramado verde, enquanto que as outras áreas internas, onde estiveram os dormitórios, recebeu uma camada mineral de granulações da pedra local. Como parte da interpretação do espaço da ruína como espaço público, aplicamos superfícies que se referem ao uso público atual, no lugar do piso de carpete original. No antigo espaço interior da ala oeste, uma superfície, que atua como um palco, foi realizada para os fins teatrais, elevando-se ligeiramente acima do solo. O canto da nova construção, o palco e o mobiliário urbano (bancos) receberam o mesmo revestimento em aço cortén. Como parte da reconstrução do parque, tanto a área imediata à ruina, como as áreas mais distantes, foram renovadas.
Ao replantar a área verde ao redor da ruína, os fragmentos do edifício, antes escondidos, puderam ser reconhecidos como mais unificados, e conseguiu recuperar parte de seu caráter original. Também conseguimos restaurar as camadas físicas e intelectuais, que contribuem com a complexidade do contexto, através das intervenções aplicadas. Buscamos, também, definir melhor novos rumos para o seu futuro, e assim, alocamos peças dotadas dos significados restantes em um novo contexto. Além disso, toda a área pode tornar-se uma parte nova e excitante no contexto urbano, no qual o palácio redefinido desempenha um importante papel.