Para este projeto Lugar das Aves, o estúdio Hampton+Rivoira+arquitetos venceu o concurso de anteprojetos e croquis preliminares com um programa específico no Bioparque Temaikén, na Argentina, que pretende desenvolver um parque temático com aves de todo o mundo. Este programa enfatizou o conceito de emersão total do visitante nos aviários, divididos por regiões continentais. O novo Lugar das Aves deveria substituis o conjunto existente de gaiolas menores dispersas.
Um dos desafios que os arquitetos enfrentaram como projetistas foi encontrar a tecnologia adequada para uma demanda tão específica: materializar a contenção “invisível” de centenas de pássaros.
Este exercício colocou os arquitetos frente ao sutil dilema da tensão. A demanda por cobrir quase um hectare do habitat dos pássaros com uma rede e com um sistema de arcos portantes, que relativizam sua presença visual, colocou-os diante da tarefa de encontrar um sistema tecnológico de tensão e transferência de cargas a partir de elementos industrializados leves, com geometrias óbvias, porém complexas. Na prancheta de dimensionamento e calculo destes componentes tecnológicos não usuais estava presente a tensão entre a razão e a intuição, balanceada, como sempre, com o rigor aparente do cálculo e o inesperado sucesso do lápis.
Cada espécie, mais de 250, ocupa seu próprio extrato espacial, seja próximo à água ou ao solo, em vôo baixo e aleatório ou alto e circular. Assim, em função destas particularidades, definiram-se as dimensões das diferentes gaiolas, suas conexões, as relações netre áreas de serviço e áreas públicas e a ambientação dos ecossistemas. O percurso das vias internas do aviário soma, aproximadamente, 4500 metros lineares.
O Grande Aviário e a estrutura com maior envergadura, visível desde as rotas de acesso. Este se configura por uma sucessão de arcos duplos em sua parte central, com 12 metros de altura e 30 metros de vão, e por arcos rebaixados nos estreitamentos, gerando, assim, três áreas de 900m² cada uma. A Envolvente é uma malha de aço inoxidável de 25mm² de trama. Toda essa área se constitui por um plano inclinado até o lago central. Assim, os percursos dos visitantes sobem e descem em função da topografia e das visuais limitadas dentro dos diferentes ambientes.
Nos aviários existem plataformas de observação, setores aquáticos, pontes, cataratas “véu de noiva” e até uma área para beija-flores. A transição “à prova de pássaros” entre as gaiolas é resolvida com cilindros de madeira e cortinas duplas de telas que evitam o turismo intercontinental dos pássaros.
“Passamos por uma lição, em um processo intenso e prolongado. Alguns exercícios de desenho e construção, pelas suas próprias especificidades tecnológicas e demandas programáticas, são longos, intrincados e estão sujeitos ao erro. Assim foi este dinâmico processo, acompanhado sempre da empatia criativa entre especialistas e realizadores com um objetivo estimulante e superador.”