O Ponto de Partida
A solução global adotada no projeto responde a um só tempo às condicionantes impostas pelo site, pelo marco legal existente, pelas premissas que compõem os termos do edital, ao caráter da arquitetura que se pretende para o Campus Cabral da UFPR. O que se propõem não é somente um edifício, mas um somatório de soluções que configuram um conjunto arquitetônico. Conformam um todo coeso e relacionado entre suas partes e com a cidade.
Porém como garantimos isto sem preencher a totalidade do terreno com edificações? Como não anular os espaços abertos transformando-os meramente em resultado residual da ocupação das construções? Como integrar com a cidade? Como valorizar na perfeita medida a edificação histórica existente no terreno? Com estas inquietudes formuladas partimos…
A Antiga Escola de Química
Esta é a primeira peça de nosso conjunto. Nela posicionamos o Museu de Arquelogia e Etnologia e a Administração do Campus Cabral. Queríamos que ficasse solta, visível, ladeada por jardins e desfrutando de acessos públicos facilitados para o desenvolvimento das atividades propostas. Liberá-la da proximidade com outras edificações parece-nos a melhor conduta, a que melhor valoriza a antiga construção. Na equilibrada medida devolve à ela o espaço circundante original, perdido no transcurso do tempo. Junto a ela posicionamos o estacionamento descoberto, que lhe da suporte.
O entorno vira jardim com vocação para ser espaço público, com acesso irrestrito ao menos ao longo do dia. Ampliará a oferta de espaços abertos existentes na região.
A Operação Topográfica
Para viabilizar a presença do Museu de Arqueologia e Etnologia e Administração do Campus Cabral livre de interferência de edificações contíguas. Tomamos a cota de acesso da antiga edificação e nivelamos o terreno. Abaixo desta cota, aproveitando o desnível natural do terreno de 3,50 m., entre a esquina da rua São Vicente com a rua Paraguassú e a praça Brigadeiro Eppinghaus e inserimos a segunda peça de nosso complexo. Fará a costura, o contato e a interrelação entre as várias partes. Abrigará os usos mais públicos do complexo: auditórios, foyer, exposições, café. Os espaços solicitados pela Rádio e TV UFPR. Os usos não comportados na antiga edificação e que guardam relação direta com o Museu como a Reserva Técnica. Por estar em zona central receberá os usos de suporte e utilidades compartilhados pelo complexo, tais como a central de água gelada e a central elétrica. Por fim, mas não menos importante, conformará uma passagem semipública entre as ruas José de Alencar e Almirante Tramandaé, conectando os dois espaços públicos localizados em ambas ruas. Além da passagem, alargamos o centro surgindo um pequeno pátio no coração do complexo, o vazio adquire presença no interior do conjunto, justamente onde se localizam as atividades mais públicas. Criamos assim um ponto de encontro, de convivência, de permanência e de contemplação.
A Torre
Paralela à passagem de pedestres, delimitando o pátio e em franco relacionamento com a praça Brigadeiro Eppinghaus, criamos uma Torre orientada no sentido leste/oeste que fosse capaz de receber todos os demais usos e atividades previstas no programa de necessidades. Optamos por implanta-la desta forma por considerar que é a que configurará o menor impacto na região, pois às ruas José de Alencar e Almirante Tramandaé posicionamos consequentemente as menores fachadas. A Torre ficará então praticamente na metade da quadra se incluirmos ao terreno da UFPR a área da praça. Os comprimentos maiores das fachadas ficam voltados para o norte, que é ótima orientação para a região por ser fácil de sombrear no verão e onde no inverno frio permite o sol adentrar aos espaços quando desejado. Também à sul com sua luz difusa, perfeita para os espaços de aprendizagem e estudo. Assim conseguíamos ao mesmo tempo, captar as melhores vistas imediatas e distantes da cidade, bem como fazer o edifício ser visto ao sugerir a integração do mesmo com a Praça.
Serão 112,5×25,0 m. de projeção de planta em dois subsolos, um pavimento térreo e seis pavimentos superiores. Resolvemos dissolver os limites entre os cursos e pensar em favorecer o ambiente da universidade como instituição de ensino, de trocas, de aprendizado e ampla formação técnica e humanística. Desfeita a linha de separação entre os departamentos, fomos agrupando o programa por afinidade funcional e dimensional. Se tivéssemos separado e distribuído o programa circunscrevendo os espaços à correspondência dos departamentos, eliminaríamos a possibilidade das infinitas trocas e estímulos cruzados que o modo que escolhemos organizar propicia.
Destacamos aqui seu pavimento térreo, transparente e permeável. Através dele se poderá passar da passagem e do pátio interno à praça Brigadeiro Eppinghaus.
Nele estará a biblioteca, a livraria com café, o laboratório de informática, os centros acadêmicos e empresas junior, a cantina com a área de convivência, os âmbitos de controle de acessos aos pavimentos superiores.
A Praça Brigadeiro Eppinghaus
Sugerimos que no futuro possam se diluir os limites e ver integrar-se naturalmente o conjunto arquitetônico do Campus Cabral UFPR ao imenso vazio arborizado da praça. Propomos um singelo desenho a modo de reflexão, para exemplificar o que pensamos como condição mínima. Uma solução abstrata, com diferentes faixas de piso. Uma extensão transitável pavimentada diante do acesso à Torre.
A Ampliação Futura
Definimos que a ampliação futura será a Torre 2, com planta quadrada de 32,5 x 32,5 metros, se edificará por sobre o retângulo virtual dos auditórios. Totalizará 5.281,25 m2 e receberá em seu térreo o restaurante universitário. Em seus pavimentos superiores, que totalizarão 4 aproximadamente 500,00 m2 para a futura ampliação da área dos cursos implantados na primeira etapa e mais 2.500,00 m2 para um novo curso com equivalência de área dos já implantados.
Aspectos Plásticos e Espaciais
Visualmente são duas peças:
- Museu de Arqueologia e Etnologia e Administração do Campus Cabral
- A Torre
A Torre “pousa sobre dois muros laterais que conformam a peça de costura e a operação topográfica.
A “pele” da Torre é abstrata, rigorosamente modulada. Seus panos de brises se descontinuam e revelam o módulo da estrutura. Assim criamos uma escala intermediária entre as pessoas e o próprio edifício. Muitas vezes observamos os edifícios que empregam soluções de brises, que o repetem sem matiz nenhum. Por isto revelamos o módulo da estrutura nas fachadas, para criar nuances, dar matiz, e facilitar sua compreensão e intelecção visual por parte de quem o contempla. Sempre refletimos o que aconteceria ao nosso edifício se ele fosse 100 metros mais longo e cinco pavimentos mais alto… repetiríamos o que propomos sem mais contemplações. Provavelmente teríamos que aumentar os módulos dos brises transformando-os em múltiplos do módulo da estrutura e assim ir perseguindo sempre a melhor visualidade. A forma mais forte, mais harmônica, mais coesa, mais moderna, mais sintética.
O tratamento da fachada com os brises perfurados e pivotantes agrega ao conjunto dois aspectos marcantes: a) o fato de conceder às fachadas uma aparência sempre cambiante ao irem customizando os ângulos de giro dos mesmos. b) sua perfuração permite que o aspecto monolítico da Torre durante o dia, mude e se transforme numa caixa luminosa durante a noite, quando a iluminação interior ultrapassa a iluminação exterior.
A peça de costura abdica de protagonismo, libera a edificação antiga, será percebida unicamente de dentro do pátio interno.
O Museu de Arqueologia e Etnologia e Administração do Campus Cabral, será implantado após criterioso estudo das condições do imóvel a se preservar. Suas fachadas serão tratadas e pintadas na cor branca. Suas esquadrias deverão ser revistas para adequar-se com mais propriedade aos novos usos. Será completamente envolvida com generoso tratamento paisagístico.
Sistema Construtivo
Sua superestrutura é simples, econômica, exequível e flexível. Sua solução é amplamente difundida e será realizada em concreto armado. Pilares modulados em vãos múltiplos de 0,625 m. (10×9,375 e 10×3,75) As lajes são nervuradas de 40 cm de espessura. Unicamente no auditório maior, prevemos o uso de vigas protendidas para viabilizar o seu vão livre. Os subsolos terão cortinas de concreto armado com paredes interiores para garantir a estanqueidade do complexo localizado abaixo da cota natural do terreno. Os dois núcleos de circulação vertical funcionam como peças rígidas e colaboram no contraventamento da estrutura. As estruturas serão tratadas e deixadas aparente e colaboram na imagem formal buscada.
Sua modulação permite o emprego de módulos de caixilharia múltipla de 1,25 m. que nos permite ótimo aproveitamento dos perfis de alumínio e das chapas de vidro que perfazem a totalidade do perímetro da Torre. Integram-se bem aos módulos de forro acústico. E dos módulos de brises soleil. Viabilizam também boa solução para as vagas de estacionamento no subsolo.
A estrutura proposta permitirá que se alcance a flexibilidade e a reversibilidade almejada. Manterá os horizontes abertos para futuros usos e retrofits que pode necessitar sofrer o complexo. Muito especialmente por facilitar a mudança de paredes sem comprometimento do comportamento estrutural. Poderá ser incorporado a todos os pavimentos o sistema de piso elevado, para facilitar a passagem de cabeamento caso venha, um dia a transformar-se em edifício de escritórios com planta livre. Também as soluções de forro e iluminação poderão sofrer facilmente revisões.
A organização dos encaminhamentos das instalações também caminham neste sentido. Prevemos prumadas para os encaminhamentos vertical das instalações prediais junto aos núcleos de circulação vertical. Shafts visitáveis para as prumadas de água potável e águas servidas, instalações elétricas e de telecomunicações. Também duas salas para as máquinas de ar condicionado nos pavimentos juntamente com encaminhamento específico para os dutos do sistema de ar-condicionado, ventilação e exaustão mecânica. Garantiremos que toda rede que mantém “vivo” os edifícios possam ser constantemente vistoriados, facilitando muito a dinâmica das manutenções preventivas que deverão ocorrer durante a vida útil do complexo.
A cobertura será impermeabilizada e recebera uma cobertura vegetal e de placas elevadas de piso de concreto pré-fabricados para os tramos transitáveis.
Conforto Ambiental e Eco Eficiência
Prestamos atenção a todos os conceitos atuais que permitam diminuir, suavizar e até mesmo eliminar os impactos negativos dos edifícios no ambiente em que se insere, como também visando o bem estar do usuário. Dividimos em cinco grandes tópicos de atenção:
- Planejamento sustentável do sítio
- Proteção e uso eficiente da água
- Eficiência energética e energia sustentável
- Conservação de materiais e recursos
- Qualidade do ambiente interno
1. Planejamento sustentável do sítio: Neste item pensamos ser de fundamental importância a destinação adequada dos resíduos originados com a demolição das inúmeras edificações existentes atualmente no terreno, visando seu reaproveitamento quando possível na própria construção nova.
Entendimento adequado das condicionantes ambientais encontradas, orientação solar, ventos predominantes, condições e preexistências do entorno antropizado, etc.
2. Proteção e Uso eficiente da água: A água da chuva será captada, armazenada e reaproveitada na lavagem das áreas externas, irrigação e o excedente será reutilizado, após tratamento adequado como água não potável para os vasos sanitários. Planejamos também o uso dispositivos sanitários que permitam a economia no consumo de água, tais como vasos sanitários, mictórios e lavatórios.
3. Eficiência energética e energia sustentável: A Torre foi organizada de modo a minimizar o uso de iluminação artificial e potencializar a abrangência da iluminação natural durante o dia. Neste sentido regulamos e ajustamos a profundidade útil dos espaços (9,00 m) em relação ao pé-direito solicitado (4,20 m) de modo a e garantir a quantidade adequada de luz natural para o desenvolvimento das inúmeras atividades. Os caixilhos de alumínio foram modulados a 1,25m. e ocupam os vãos da fachada (entre lajes e pilares). Propomos o emprego de vidros de controle solar seletivo, que aliam transparência, ausência de cor e a baixa reflexão. Além de aumentar significativamente a proteção contra o calor radiante, permite a percepção irrestrita do entorno circundante bem como a percepção do edifício e suas atividades pelo entorno.
O sistema de iluminação artificial fará uso de lâmpadas e luminárias de alto desempenho e rendimento, integradas às soluções dos forros modulados acústicos. Serão organizadas e sistematizadas em circuitos para permitir o acionamento por zonas de acordo com as necessidades de iluminação requeridas.
A solução da fachada da Torre foi elaborada para fornecer a proteção contra a incidência direta da luz solar nas épocas do ano que é indesejável. Regular a entrada de luminosidade excessiva, evitando o ofuscamento. Proteger o edifício dos fenômenos climáticos e intempéries. Facilitar a manutenção e conservação das fachadas. Esta composto:
- a) pelo prolongamento horizontal das lajes dos pavimentos em 1,25m. , formando uma bandeja perimetral. Protege a fachada norte da incidência direta do sol com ângulo alto dos meses de verão, protege todas as fachadas da incidência direta da chuva. O prolongamento horizontal das lajes colabora muito também para o uso da ventilação cruzada ao longo do ano, principalmente nos dias chuvosos, que nesta região do país giram em torno de 110 dias anuais.
- b) as faces das fachadas norte e sul complementa-se sua proteção através da instalação de brises-soleil verticais, pivotantes e automatizados conformados em chapa metálica de aluzinc, perfuradas em 16%. Evitam a incidência direta do sol da meia estação e do início e final do dia. Permitem customizar a incidência direta do sol nos meses frios do inverno curitibano, além de tamizarem a luz e evitarem o ofuscamento.
- c) As faces leste o oeste serão protegidas por brises fixos conformados em chapas de alumínio perfurado em 10% fixados em estrutura específica. As fachadas protegidas pelos sistemas de brises soleil diminuem muito favoravelmente a carga térmica e em consequência todo a sobrecarga do sistema de climatização.
Teremos posicionado na cobertura da Torre placas de aquecimento da água por meio da energia solar para o uso nos vestiários, cozinha, etc. Também placas fotovoltaicas para a iluminação funcional e cênica das áreas exteriores.
4. Conservação de materiais e recursos: Buscamos o menor nível possível de consumo de insumos básicos através de rigorosa modulação e coordenação dimensional, onde os variados materiais serão utilizados respeitando suas melhores dimensões a aproveitamento ideal, minimizando as perdas e desperdícios da produção e posta em obra. Sabemos também que parte ponderável da eficiência de uma edificação é garantida durante sua vida útil e por este motivo mantivemos firme decisão de aferir funcionalidade, durabilidade e baixos custos operacionais e de manutenção ao complexo ao longo de sua vida útil.
5. Qualidade do ambiente interno: Amplas vistas para o entorno circundante, muito especialmente para a Praça Brigadeiro Eppinghaus à sul, para o antigo Departamento de Comunicação, atualmente Museu de Arqueologia e Etnologia á norte e as vistas do Juvevê no primeiro plano e da metrópole ao fundo mais afastado.