Teleférico do Complexo do Alemão / Jorge Mario Jáuregui

O projeto do teleférico para o conjunto de favelas que integram o Complexo do Alemão foi solicitado pelo governo do Estado do Rio de Janeiro, após uma visita do governador Sergio Cabral à cidade de Medellín, que conta com um sistema similar. Medellín foi a primeira cidade na América-Latina a implantar um sistema de transporte de massa por cabo, conectado à rede de metrô ( Metro Cable Caracas).

© Gabriel L. Jáuregui

O conjunto de estações do sistema de teleférico do Complexo do Alemão constitui uma nova presença positiva na paisagem da Cidade do Rio de Janeiro. Hoje, logo que o visitante chega à cidade através do aeroporto internacional do Galeão, ou enquanto espera no hall da sala de embarque para deixar a cidade, já percebe claramente quatro estações do teleférico que aparecem na paisagem, “colocando no mapa”, literalmente, o Complexo do Alemão, antes estigmatizado e “invisível” para o cidadão comum e agora associado a uma nova condição de cidadania, passando de área de exclusão para área de visitação.

Croqui localização Complexo do Alemão

O fato das estações aparecerem no mesmo campo visual junto da Igreja da Penha e o Cristo Redentor, constitui um fato relevante. E por estarem próximas da Igreja pode se perceber claramente a “função simbólica” dela no sentido da “elevação vertical” através das suas duas torres (vistas como duas agulhas) em contraste com os tetos brancos horizontais das estações que remetem à condição terrena da comunicação humana. Assim, além de “localizar” o Complexo no território da cidade, as estações fazem alusão, por contraponto com a Igreja, a esse sentido “comunicacional” das estações. Como diz uma canção italiana:

“la línea orizzontale ci spinge su la matéria,

quella verticale, verso lo spírito…”

© Gabriel L. Jáuregui

No Rio, o teleférico é conectado à rede de trens metropolitanos que atende à Zona Norte do município. O sistema conta com cinco estações localizadas dentro do Complexo, no topo dos morros, e mais uma estação de conexão com o trem (Bonsucesso). Cada uma das cinco estações foi concebida como uma estação social e conta, dependendo da sua localização, com biblioteca, núcleo de comércio, salas de estudos musicais, centro de apoio jurídico e núcleo de serviços públicos. O projeto previu amplas áreas externas, com espaço público para lazer e recreação, incluindo abundante vegetação como fator de amenização climática.

© Gabriel L. Jáuregui

A estação do Morro do Adeus foi concebida como um ponto de integração entre o teleférico e o acesso de veículos, pois conta com amplo espaço externo capaz de acolher visitantes e público de classe média, que pode utilizar os equipamentos e o anfiteatro natural projetado aproveitando a topografia local.

© Gabriel L. Jáuregui

Cada estação foi concebida como uma “estação verde”, com a edificação protegida por uma “cortina vegetal”, utilizando água da chuva para irrigação dos gramados e jardins exteriores, captando energia solar para a iluminação externa, além de o edifício ser pensado para garantir a ventilação cruzada em todos os ambientes.

© Gabriel L. Jáuregui

A implantação de um sistema de transporte de massa por cabos tem várias vantagens:

1. Garantir acessibilidade aos locais sem exigir grandes demolições para ampliações de ruas;
2. Oferecer um sistema de transporte público rápido e eficiente, que no caso do Complexo do Alemão conta em cada cume das cinco estações no topo dos morros com excelentes visões panorâmicas sobre um amplo entorno com 360 graus de visão;
3. A possibilidade de controle da expansão das edificações, do acúmulo de lixo nos pontos críticos e da segurança local, pois o permanente monitoramento aéreo exercido pelos próprios usuários é a melhor garantia de “fiscalização”;
4. Contribuir para a segurança cidadã e a redução da criminalidade;
5. Criação de espaços públicos envolta das estações, introduzindo vegetação paisagística e climaticamente concebida;
6. Incorporação de serviços, equipamentos e espaços para a convivência comunitária nos pontos de maior dificuldade de acesso terrestre;
7. Criar novas e importantes centralidades no coração das comunidades;
8. Desencravar a área, contribuindo para des-imobilizar os moradores nos pontos de maior dificuldade de acesso, especialmente idosos e crianças;
9. Estimular a requalificação e a reconfiguração do entorno por “contaminação positiva”;

10. Resignificar positivamente, no imaginário coletivo, esta parte da Cidade para o cidadão carioca e para os próprios moradores do Complexo.

Croquis e Vistas

Ficha técnica:

Equipe:

Jorge Mario Jáuregui - Atelier Metropolitano

Sobre este escritório
Cita: Joanna Helm. "Teleférico do Complexo do Alemão / Jorge Mario Jáuregui" 10 Nov 2011. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-7796/teleferico-do-complexo-do-alemao-jorge-mario-jauregui> ISSN 0719-8906

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