Da luz para a escuridão e novamente para a luz…nossos sentidos se ativam. No hemisfério norte, o verão é uma época de brilho perpétuo. A beleza deste fenômeno e seu esplendor se perdem no momento em que as pessoas imergem na tentativa diária de lidar com um mundo encapsulado por luz constante… Luz do dia constante traz consigo uma desestabilização e disfuncionalidade, uma vez que o mecanismo do corpo é tirado de seu ciclo natural de 24 horas… Onde o dia termina e a noite começa? O passar do tempo, o relógio e mesmo a órbita da terra em torno do sol se tornam irrelevantes. A luz do dia reina suprema em uma terra de sol permanente.
Queríamos que o pavilhão servisse a um duplo propósito. Não deveria ser apenas um lugar de refúgio contra a intromissão avassaladora do sol, mas também um lugar onde a luz e seu impacto fossem compreendidos, apreciados e respeitados. Nosso pavilhão se tornaria um nirvana de escuridão onde pessoas, isoladamente, questionariam sua relação com o sol, e como suas vidas poderiam funcionar neste ambiente.
Observado à distância, a luminosidade amarelada da forma triangular recebe sedutoramente os passantes quando estes cruzam a praça. Sua forma brilhando ao sol não pode senão atrair e seduzir para uma exploração mais profunda. Exteriormente, sua forma age como relógio solar, mapeando sua sombra ao redor. Ao passo que o passar do tempo não é evidente quando se observa a posição do sol no céu, esta estrutura serve como um amigável relógio para quem passa. No início da manhã e tarde da noite, a sombra se prolonga 80 metros até o outro lado da praça, convidando as pessoas a se aproximarem. O amarelo claro reflete o entorno industrial e potencializa a dramaticidade desta estranha forma que repousa em silêncio, esperando para ser descoberta.
Ao se aproxima do pavilhão, você se expõe ao brilho incessante e implacável do sol do norte. Puxa-se uma de suas paredes externas e ele se abre silenciosamente, apoiada em suas rodas ocultas. Ela se abre apenas o necessário para que se possa entrar e revela uma utopia escondida. Você entra furtivamente neste reino e a porta se fecha firmemente atrás de você. Ao adentrar no pavilhão, você se perde em um ventre de escuridão absoluta. Seus olhos vagarosamente se ajustam a essa escuridão surreal e você sente uma lufada de ar fresco na sua pele. Você percebe que está em um mundo mágico. Uma atmosfera de tranqüilidade invade todos os seus sentidos.
Você se encontra em um espaço estreito e alto. Um pequeno banco no fim do pavilhão convida-o a se aproximar. Aqui, o espaço se inverte e se transforma em um ambiente baixo e largo. Com expectativa, você caminha lentamente em direção ao banco. Você se senta. Seus olhos já estão completamente ajustados à escuridão, você observa as intensas faixas de luz na escuridão, cujas formas se modificam, alterando o clima e a atmosfera de dentro do pavilhão. Confortável com o ambiente, você se senta em completamente imóvel e calmo. Você aguarda na escuridão tranqüila, totalmente à vontade em seu ambiente. Há mais surpresas! Reclinando-se em seu assento, você pressiona a parede e instantaneamente a parede articulada se abre e emerge uma nova perspectiva. Luz natural invade o lugar. Mais uma vez, seus olhos se adaptam à súbita torrente de luz e você é saudado por uma vista enquadrada do céu.
Retornando à posição ereta, o contrapeso escondido automaticamente fecha a parede e a escuridão mais uma vez toma conta do lugar. Enquanto você está sentado confortável e só na escuridão, outros passantes curiosos embarcam nesta jornada de luz que você recentemente experimentou… Testemunhando seus trajetos, você observa uma silhueta fantasmagórica emergir diante de você. Um novo explorador, provando a experiência, caminha silenciosamente e cuidadosamente em direção ao fundo do pavilhão. Você observa cada passo dele, aproveitando as sensações dele e dividindo suas emoções… Momentaneamente você é cegado pela sua entrada e convidado a adivinhar quem se aproxima. Você se fixa em sua forma, seu movimento; o cheiro, sua essência e reações. O reconhecimento de sua identidade começa a aparecer, quando ele se aproxima, e com os olhos adaptados à luz, você é capaz de identificá-lo.
Com relutância você se levanta de seu assento e cede lugar ao novo explorador. Você parte, esclarecido, nutrido e enriquecido pela experiência. Você emerge novamente na luz do dia, porém, com uma nova apreciação da luz e da escuridão. Revigorado, com toda energia reabastecida por este interlúdio, você confronta o intenso sol mais uma vez.
Arquitetos: Pablo Bolinches Vidal, Darragh Breathnach, Daria Leikina
Informação Complementar:
Colaboradores: Veniyana Lemonidi, Matteo Goldoni, Jonathan Russell, Nicholas Dunlop, Tati Leonteva, Alexandra Polyakova, Tereza Scheibova, Anna Podrouzkova, Libor Mládek, David Buhagiar, Aulon Harizaj, Jim Walsh