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Arquitetos: Estudio Entresitio; Estudio Entresitio
- Área: 15 m²
- Ano: 2009
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Fotografias:Roland Halbe, Montserrat Zamorano
Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto é resultado de um concurso fechado convocado pela EMVS no ano de 2003. A filosofia do concurso era de que cada equipe deveria oferecer a melhor solução arquitetônica possível , cumprindo sempre os parâmetros econômicos, de construtibilidade, o número de habitações e considerando que se trata de um conjunto de habitação social.
Dependia dos participantes decidir se optavam por uma proposta que cumprisse o resto das condições urbanísticas de ocupação, alinhamentos, alturas, entre outras, ou se, como foi o caso, escolhia-se uma solução que necessitasse de tramitação urbanística posterior.
A proposta vencedora foi uma torre de 22 andares.
“O projeto poderia ser explicado de várias maneiras, mas há uma, que não renunciamos, que tem a ver com a eficiência da planta e a solução de um determinado programa funcional, neste caso da habitação.”
Trata-se de habitações para aluguel que se caracterizam por sua reduzida dimensão, já que possuem a área mínima possível segundo a norma.
O projeto constrói um total de 132 habitações de um e dois dormitórios em uma edificação de 9000 m2 e 300 m2 adicionais de uso comercial no térreo.
O edifício ocupa 70% do limite definido pelo alinhamento, com um recuo geral para liberar mais espaço público de calçada na frente e um alívio natural do uso comercial do térreo. Este recuo evita os chanfros típicos de ampliação e trabalhar com um volume de geometria mais limpa.
Para uma mesma área edificável, reduzir a base do edifício implica necessariamente crescer em altura. Neste caso propôs-se um volume de perfil recortado com proporções pouco comuns. Se poderia pensar no edifício como o resultado da união de uma torre e um bloco através de um corpo central, mas nos interessava mais a ideia de um desenvolvimento livre em altura, onde o equilíbrio entre as partes produzisse algo inquietante.
A
solução em planta tem como base geométrica a “dupla simetria” - como ambigramas, palavras ou figuras
que são lidas da mesma forma quando giradas em 180º. Esta estratégia colabora a diluir
um pouco as partes, já que a ordem de cada um não é evidente e se associa sem
solução de continuidade com a ordem das outras. Também tem a ver com o fato de
que a construção, tal como um bloco livre, é percebida como uma peça em que não
existe uma distinção entre a frente e a parte de trás ou as partes superiores e
inferiores. Responde de forma semelhante tanto à rua de acesso como a zona
verde que discorre longitudinalmente pela frente.
Apenas em um análise minuciosa deste empreendimento se poderia entender a diversidade do programa. Mesmo que todas as habitações sejam de 1 e 2 dormitórios, as de menores dimensões situam-se nos elementos em altura e desenvolvem-se em um andar. O volume longitudinal é ocupado pelos apartamentos duplex, com repetição de unidades funcionalmente indiferenciadas. As habitações não são o resultado de uma subdivisão a priori da planta, mas são resolvidas entrelaçadas tanto em planta como em corte.
As residências duplex são compostas de dois dormitórios versáteis que se cruzam em seção para desfrutar as orientações norte e sul. Ao ter o acesso pelo primeiro pavimento, pôde-se responder tanto ao uso característico da habitação, como aos usos previstos no planejamento como complementares e/ou alternativos: escritórios e comerciais no primeiro pavimento e hospedagem em qualquer nível acima.
Como há muitas formas de explicar o projeto, uma delas tem a ver com o caráter urbano da edificação, com a construção da cidade e a necessidade de caracterizar de alguma maneira os novos tecidos residenciais, neste caso de Madri.
Neste sentido o projeto trabalha em vários níveis. O revestimento externo recorre aos recursos de indiferenciação e ambiguidade de escala. Trata-se de uma pele de escamas de zinco em módulos horizontais que deslizam uns sobre os outros, com um ligeiro deslocamento, nas quais se inserem as aberturas, com a intenção de não evidenciar os níveis dos pavimentos. Propôs-se um sistema de combinação de aberturas tipo, que sempre encontram suas melhores posições no interior dos cômodos. Sobre esta estrutura suporte da unidade e também do múltiplo, incorporam-se algumas caixas de projeção que, como elementos livres de distorção, introduzem uma ligeira vibração na fachada.
A relação entre os conceitos de "convivência de escalas" e "ambiguidade escalar", ou seja, o que é grande ou pequeno juntamente com o que não é revelado nem tão grande nem tão pequeno, estabelece o diálogo que se produz sem querer a cidade histórica e nos desenvolvimentos sucessivos que nela se produzem ao longo do tempo.
De alguma maneira a dualidade converte-se quase em um método de busca, por um lado se trabalha com a intenção de que a cidade não só fale de seus edifícios, mas dos vazios que eles conformam. Existe uma função muito definida em planta e uma não tradução da mesma na fachada, potencializando a condição de envolvente contínua que apesar de seus materiais leves colabora na percepção do edifício como sólido e propõe-se para a construção de um volume tão pronunciado e nítido, um revestimento escamado e pouco liso, ainda que homogêneo.
Desta maneira, faz-se conviver o cotidiano e o extraordinário; o cotidiano do vazio doméstico que corresponde a uma ordem clara funcional com o extraordinário de sua disposição eliminando a ordem compositiva e colaborando com a leitura de uma massa uniforme.
Mas há uma terceira maneira de explicar o projeto, que poderíamos intitular como “a arquitetura e a técnica” e que se trata de tornar as ideias edificáveis. No desenvolvimento do projeto de execução e sua construção produz-se a filtragem da norma, o planejamento, o pressuposto, a viabilidade construtiva e, sobretudo, a verdadeira tradução espacial das questões propostas.
Desta maneira, a fachada em zinco converte-se no argumento central, não somente por questão de sua execução material, mas também como estratégia de eficiência energética. Pensou-se em uma solução de manutenção mínima, em posição transventilada, que facilitasse a transpiração da fachada, protegesse a edificação da infiltração de água da chuva e evitasse a condensação intersticial. Supõe a otimização do isolamento térmico e acústico do edifício, que por estar situado do lado de fora das fábricas do gabinete impedem quaisquer pontes térmicas.
No verão, produz-se o efeito chaminé. O sol esquenta o ar que cai na câmara que ascende por convecção ocupando seu lugar de ar fresco e evitando o acúmulo de calor na fachada.