- Área: 1200 m²
- Ano: 2011
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Fotografias:Joe Fletcher
Descrição enviada pela equipe de projeto. México é um território guardado pelo sol. Como não aproveitar, então, esse patrimônio e fazer dele o protagonista, cúmplice do espaço arquitetônico? Como não permitir que nos interiores mexicanos habite sua poderosa presença? Como não utilizar a luz natural para gerar atmosferas e sensações? O sol é para o arquiteto o que a bússola é para o marinheiro; é o ponto de partida, é o princípio orientador de todo o projeto. Quando vês um terreno, o primeiro que se tem que averiguar é por onde nasce o sol e onde ele se põe, por onde se quer que entre durante o verão e por onde entra no inverno. Tem que saber pegar o sol, o manipular, o seduzir, guardar sua luz, não deixar que disperse, qualificá-lo para os interiores. Esta habilidade – a arte de conter luz – converte o arquiteto no tradutor, um tipo de alquimista. A latitude – assim como na navegação – é o marco de referência da arquitetura.
Na Cidade do México, por exemplo, a casa se aquece voltada para o sul: a luz contínua, intensa, luz que dura todo o sol. A luz do sol poente, por sua vez, tem outra cor e outra duração. Sem lugar para dúvidas, a latitude colore o mundo. A latitude e uma de suas consequências, o clima, são fatores geradores de costumes, de características culturais, de cosmogonias. A luz é uma constante. Quando se distorce, quando se modifica em sua frequência ou em seu comprimento de onda, alcança-se diferentes cores e tonalidades: luz amarela, azul, branca. Então o arquiteto desenha, pinta com luz; a rouba do amanhecer ou do entardecer e permite que irrompa nos espaços, que se reflita nas paredes como se estas fossem telas.
Um dos aspectos mais notáveis do trabalho de Luis Barragán está no manejo cuidadoso da luz. Muitos arquitetos mexicanos contemporâneos fizeram dela uma ferramenta indispensável, percorreram este caminho e recriaram essa Escola. A luz também pode nos resultar um enigma, pois nela há muito mais do que aquilo que nos damos conta. Entendê-la implica destrinchar os conceitos de espaço e tempo. Este último é fundamental na arquitetura, pois o ‘destempo’, seu oposto, é o plano; o equivalente a um gráfico bidimensional, uma visão estática do espaço. É a parte conceitual que diz em linhas o que o arquiteto quer fazer: sua ideia, seu projeto. O único que dá vida a esse plano no espaço é o tempo. A arquitetura é movimento. Cada espaço é parecido com uma nota musical, e a sequência dessas notas se traduz em ritmo.