Descrição enviada pela equipe de projeto. Estar na casa da rua Maracanã é estar na Lapa; é conviver com suas peculiaridades, estampadas na expectativa de descobrir até aonde seus espaços podem nos conduzir e na possibilidade que nos oferece de contemplar o avermelhado dos telhados das construções vizinhas e das fachadas de alvenaria da igreja que coroa o bairro, enquanto o sol se põe no horizonte paulistano para o qual seu descortina sua fachada posterior.
Adentrar a casa não significa distanciar-se da cidade que nos leva até ela ou fechar-se num universo desconexo. Seu acesso tem de ser descoberto por detrás do mural de cerâmicas pintadas em composições pretas, brancas e vermelhas. Adentrar a casa significa, simplesmente, transpor uma sucessão de espaços, ora amplos, ora estreitos, ora iluminados, ora sombreados, que nos levam sempre a uma nova experiência.
A casa, chega-se pelo vazio, que é um mirante para o espaço da morada e também uma área de identificação dos seus setores funcionais: social e serviços embaixo, íntimo acima. Como nas ruas da cidade, a luz por entre seus espaços a invade por todas as direções, pelas grandes aberturas de vidro que se contrapõem à solidez da materialidade do concreto que a constrói.
Por onde se chega, por onde se passa, por onde se vai? Pelo espaço, pelo vazio. Circulando ou permanecendo, assim descobrimos toda sua extensão. Podemos nos encontrar imersos em seu nível inferior, definido pelos planos de concreto, pelos jardins e pelos pátios que configuram seus ambientes, ou podemos percorrê-la verticalmente até o plano deslizante de sua cobertura que descortina também o céu num instante espacial que nos coloca como observadores da cidade cujo ponto de vista é o topo da casa.
A casa é uma infraestrutura de morar. A sobreposição de lajes que se configura como uma sucessão de perspectivas é sutilmente protegida pela presença dos grandes caixilhos envidraçados. A manipulação da técnica e o uso da matéria mínima, como se fossem pedras sobre pedras em sua essência física, comprovam que a arquitetura pode despir-se das temporalidades superficiais da atualidade enaltecendo unicamente sua essência espacial.
O abrigo, a proteção para o elementar: compreendem a natureza daquilo a que se destina a casa e do sentido que assume para os que a presenciam. Nada mais é necessário para se viver na cidade contemporânea. Eis a morada fundamental, única e desvelada.