O imóvel ocupa uma sala comercial de aprox. 55m2 na Avenida Paulista, uma das mais importantes avenidas de São Paulo. Situa-se ao lado do MASP – Museu de Arte de São Paulo, edifício projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi em 1968, marco arquitetônico brasileiro. O espaço é a nova sede da D3, uma produtora digital que trabalha junto com agências de publicidade para a produção de experiências interativas.
A D3 é uma empresa jovem, dinâmica, curiosa e notavelmente aberta para novos experimentos. A grande maioria de seus trabalhos consiste no desenvolvimento de web-sites e aplicativos nos quais sempre prioriza abordagens interativas e inusitadas. Nesse contexto, a principal preocupação dos arquitetos era criar uma identidade arquitetônica concebendo um espaço que enfatizasse essas características, tanto durante seu processo de criação quanto no resultado final.
A imagem de um espaço ainda não acabado convida as pessoas a participar, tornando-as essenciais para completar o significado do projeto. Em um nível mais abstrato, esse conceito manifesta-se por meio da manutenção e ênfase de algumas características originais do imóvel. O antigo carpete foi retirado e o contrapiso recebeu camadas de verniz para destacar suas imperfeições. Da mesma maneira, o forro de gesso foi removido e os sistemas elétrico, hidráulico e de ar condicionado foram incorporados como elementos estéticos de importância nesta sala.
O tratamento rústico da estrutura base é parcialmente coberta pela marcenaria, cuidadosamente desenhada para criar diferentes efeitos visuais dentro da narrativa proposta. Com apenas 55 metros quadrados de espaço, cada canto do ambiente instiga o olhar do visitante para diferentes ângulos, texturas, cores e padrões luminosos. Foram utilizados 3 tipos diferentes de madeira e elegidas variações de azuis, verdes e roxos para a identidade cromática do espaço.
Os móveis foram projetados para possibilitar a flexibilidade de usos, reforçando o convite aos clientes para participarem ativamente na reconfiguração do ambiente. O espaço pose ser transformando a partir do rearranjo dos móveis, que possuem rodízios e foram dimensionados para se adaptar facilmente às diferentes necessidades. Deste modo, as estações de trabalho podem se reagrupar, o ambiente pode ser configurado em uma grande sala de reuniões, assim como preparado para uma rodada de vídeo game ou uma sessão de cinema.
Inspiradas nos projetos desenvolvidos pela própria empresa, as interações foram pensadas de forma a extrapolarem o espaço físico. Uma série de sensores captam informações sobre a utilização do espaço, e acionam diferentes padrões luminosos em um painel lateral composto de triângulos luminosos, visíveis quando acionados. Assim, o espaço passa a ser um termômetro em tempo real das relações entre as pessoas e seu ambiente.
A criação das narrativas interativas envolveu arquitetos, clientes e pesquisadores convidados, em um workshop colaborativo e multidisciplinar. Grupos mistos analisaram o espaço, os comportamentos do cotidiano e relacionaram estes dados com os sensores e diferentes tipos de interação que poderiam acontecer no escritório. O resultado deu insumos para a criação de um comportamento padrão, baseado nas atividades cotidianas dos clientes.
O comportamento padrão utiliza os sensores ultra-sônicos de distância, dispostos na estrutura do teto. São seis sensores que captam nuances da movimentação das pessoas pelo espaço, e fazem com que a parede emita diferentes padrões luminosos ao longo do dia. Por se tratar de um tipo de informação periférica, presente durante o dia inteiro, fez-se necessário o desenvolvimento de um padrão luminoso suave e discreto. Os triângulos reagem também a outros dois eventos, o primeiro é a entrada e saída de pessoas no espaço, sendo que toda a vez que a porta é aberta ou fechada, um padrão específico é acionado. Uma vez que as pessoas da empresa cultivam um hábito diário de tomar café juntos, o som captado na copa é também interpretado, gerando um padrão luminoso mais dinâmico, que representa a interação entre as pessoas.
Seguindo a lógica de abertura do processo e do resultado, todo o sistema interativo é conectado na Internet, o que expande a possibilidade de apropriação do espaço pelos clientes. Para isso, foi criada uma biblioteca PHP de comandos, por meio dos quais pode-se acessar os valores dos sensores e controlar os triângulos luminosos. Os clientes podem, por exemplo, fazer com que o acesso de usuários em seu próprio web-site, altere os padrões luminosos dos triângulos. Da mesma maneira, podem utilizar os dados coletados pelos sensores situados no espaço, para alterar a cor de fundo de seu web-site. Em uma época na qual o web-site é tido como a dimensão virtual de uma empresa, sua conexão direta com o espaço e as atividades ali realizadas, integram estas duas instâncias de forma dinâmica e inovadora.
O projeto para a sede da produtora digital D3 é fruto de uma nova geração de designers e clientes que almejam um novo modo de trabalhar, caracterizado pela experimentação, abertura e colaboração dos processos. Mostra que, mesmo com um orçamento limitado, num país em desenvolvimento como o Brasil, onde hardwares e softwares ainda são importados e associados a altos custos, é possível trabalhar de maneira criativa com tecnologias digitais interativas adicionando camadas poéticas e narrativas aos nossos espaços. Neste caso, o processo de desenvolvimento do sistema interativo justapôs-se ao desenho das formas, à escolha das cores e dos materiais que compõem o espaço, e transpõe nele, os valores cultivados pelas pessoas que o habita.
O resultado é a integração das instâncias física e virtual em um único projeto, de maneira que extrapola o discurso funcionalista com o qual a tecnologia é normalmente associada. Em um mundo no qual objetos, carros, roupas e ambientes trocam informações com as pessoas e detectam suas emoções e desejos, é preciso refletir sobre como utilizar ampliar e adicionar novas relações entre o homem e seu habitat. Está na mão dos arquitetos e designers manipular esta tecnologia de forma a criar ambientes e objetos que inspirem a criatividade e imaginação no cotidiano das pessoas.