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Arquitetos: M.AR Montenegro Arquitetos
- Ano: 2020
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Fotografias:Alexander Bogorodskiy
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Fabricantes: CIN, Carpintaria Amaral, Cinca, Pavicentro
Descrição enviada pela equipe de projeto. O registo do projeto no Arquivo Municipal Lisboa é datado de 1890. A partir do momento que obtivemos acesso aos arquivos e ao edifício, ficou evidente a existência de valores patrimoniais importantes para proteger e reabilitar, dada a relevância da natureza, época e qualidade geral do projeto inicial de 1890, bem como o estado de conservação do edifício, com diminutas alterações tipológicas. Estas características conduziram-nos à necessidade de optarmos por uma intervenção quase oculta, numa espécie de tentativa de anulação da nossa intervenção. Realizámos, para isso, uma série de artifícios e pequenas alterações, que podiam qualificar o espaço, as formas e as materialidades, para melhoria do uso residencial. Os principais conceitos do projeto e os diversos domínios de intervenção foram sendo desenvolvidos de acordo com os seguintes princípios.
Nos corredores das tipologias interiores manteve-se o desenho e a sua forma integral, com a reabilitação de todas as portas e sem demolição de trechos de parede para abertura de novos vãos. As bandeiras de vidro integradas nas portas foram fechadas do lado dos quartos para maior conforto. Nestas bandeiras mantivemos o vidro do lado dos corredores. Isto permitiu a colocação de iluminação LED entre o vidro e a chapa lacada do lado dos quartos. E, assim, criámos a iluminação dos corredores sem necessidade de luminárias aparentes.
Todos os espaços de natureza mais infra-estrutural, como novas instalações sanitárias e zona de trata- mento de roupas, foram inseridos nas áreas mais interiorizadas das frações, junto ao núcleo de escadas. Desta forma toda a área junto às fachadas foi maioritariamente dedicada aos espaços habitáveis.
O grande quarto a tardoz dos apartamentos, que funcionaria originalmente como sala de jantar, continha, desde o início, extensas e complexas molduras de madeira pintada. O projeto anterior propunha a demolição de um dos trechos desta parede, para acesso a uma instalação sanitária. Alguns dos tetos de espaços de maiores dimensões apresentarem igualmente extensas áreas decoradas a gesso. Todos estes elementos foram cuidadosamente reabilitados pelos raros artesãos que ainda subsistem na cidade de Lisboa.
As infraestruturas de climatização e elétricas foram sendo cautelosamente colocadas, sem afetar a integridade dos espaços, com tampas que ocultam infraestruturas e armários embutidos no desenho original. Em outro tipo de edifícios teríamos sentido alguma repulsão com este desenho de fusão e com uma quase ausência de desenho contemporâneo mais expressivo. No entanto, a qualidade da pré-existência deixou-nos sem outra opção. Os objetivos e o foco do projeto ficaram quase exclusivamente centrados no projeto original do final do século XIX.
No geral, no decurso da obra, existiam diversos elementos que consubstanciavam grande fragilidade estrutural como paredes e pavimentos, situados junto às antigas cozinhas. Estes elementos foram removidos e substituídos por outros, reforçados, de características construtivas semelhantes, nomeadamente com recurso a paredes de frontal com aplicação de cruzes de Santo André, e pisos de madeira reforçados com vigamentos metálicos pontuais.