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Arquitetos: Luiz Pataro
- Área: 350 m²
- Ano: 2023
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Fotografias:Fran Parente, Luiz Pataro
Descrição enviada pela equipe de projeto. Casa Líquida é o nome da residência artística idealizada por Julia Feldens, na cidade de São Paulo. Desde 2015, Julia e seus dois filhos compartilham sua casa no bairro do Sumaré com artistas que utilizam o local como ambiente de experimentação e moradia. O projeto busca desafiar as concepções clássicas do espaço doméstico, normalmente visto como lugar íntimo e reservado, para transformá-lo em uma esfera de integração, convívio e criação coletiva. Até o momento, mais de 2.000 artistas já passaram pela residência.
A reforma teve como objeto uma casa localizada no terreno contíguo à habitação original. Adquirido para uso da residência artística, o novo edifício expande em área e potencial a proposta original: agrega novos espaços de trabalho, ensaio e socialização, além de ateliês e suítes para os artistas residentes.
A intervenção se destaca pela adição de uma estrutura metálica, cuidadosamente justaposta à casa original dos anos 60. A estrutura cria um novo percurso por toda a residência, organizando e conectando os ambientes. No térreo, ateliês, cozinha e sala de ensaio são interligados internamente, ao mesmo tempo que se abrem para o pátio através da galeria metálica. Essa disposição proporciona flexibilidade e dinamismo aos espaços, permitindo que sejam adaptados de acordo com as diferentes necessidades dos residentes. Ao subir a escada externa, outra galeria, de caráter mais íntimo, leva às quatro suítes.
As galerias moldam duas longas varandas, que desempenham papel de transição entre a nova residência e o pátio interno do lote. Tal abordagem brinca com a concepção clássica do corredor como mero espaço de passagem, transformando-o em um ambiente com vasto potencial de uso e sociabilidade. O anexo e o edifício antigo dialogam entre si, reforçando a essência coletiva da residência e conferindo ao pátio central notável destaque, ampliando suas possibilidades no cotidiano e em ocasiões festivas.
As varandas culminam em dois novos espaços gerados pelo esqueleto metálico: a sala de ensaio no térreo e o terraço descoberto no primeiro andar. Os dois ambientes são conectados por uma segunda escada, que ajuda a promover uma experiência fluida e integrada pela construção. Eles ainda se abrem para os fundos do lote, estabelecendo forte relação com o jardim. Na sala de ensaio, essa relação é ampliada pelas esquadrias com vidros transparentes que, quando abertas, proporcionam total integração com a área externa.
O uso das cortinas foi central na criação dos espaços. Nos ateliês, são utilizadas para permitir que a área seja dividida entre diferentes artistas ou unificada, criando um grande estúdio. Na sala de ensaio, permitem níveis variáveis de integração com a área externa, além de filtrar a luz para as diversas atividades que tomam lugar nesse espaço. Por outro lado, as cortinas externas do terraço emolduram a vista e brincam com a ideia de uma sala sem teto, ao mesmo tempo que suavizam a rigidez da estrutura metálica.
Outro aspecto notável no projeto é a forma como os diferentes níveis existentes no lote foram utilizados para fortalecer e incentivar atividades dentro da construção. Aproveitando a diferença de altura entre as casas, situadas em patamar elevado em relação ao pátio, foi criado um jogo entre os espaços. Um exemplo é a sala de ensaio, estrategicamente posicionada no nível inferior para gerar uma arquibancada com visão privilegiada do salão. Além disso, o desnível entre interior e exterior forma um amplo banco, fortalecendo a conexão com o jardim circundante.
A arquitetura fluida e coesa, onde o novo encontra o antigo, aliada à atmosfera colaborativa e inspiradora, contribuem para tornar a Casa Líquida um espaço lúdico e criativo, ideal para o que se propõe: uma residência artística.