-
Arquitetos: XStudio
- Área: 239 m²
- Ano: 2022
-
Fotografias:David Rodríguez
-
Fabricantes: Roca
Descrição enviada pela equipe de projeto. No centro de Telde, em Gran Canaria, encontra-se o histórico bairro de San Francisco. Este oásis urbano, percorrido por um emaranhado de ruas irregulares e estreitas pavimentadas com paralelepípedos, apresenta uma estrutura definida por antigas casas geminadas, formando longos muros brancos, interrompidos apenas pelas aberturas de madeira das fachadas das habitações.
A Casa F ocupa um dos poucos terrenos vazios da área, localizado ao lado de uma propriedade de laranjeiras protegida por um longo muro caiado de branco. A regulamentação da área, com um caráter protetor marcado, estabelece condições rigorosas que levam a uma solução de mimese com o existente para a nova arquitetura, determinando de maneira quase matemática a posição, tamanho e proporção das aberturas da fachada principal.
É aqui que surge o debate em torno do projeto. A proposta é enfrentada a partir da compreensão de que o entorno possui uma série de invariáveis que devem ser respeitadas, mas a partir daí a nova arquitetura deve manifestar o seu próprio tempo e lugar, pois somente assim se valoriza a história do contexto urbano. Dessa forma, o projeto se apoia nas lacunas da norma para apresentar uma tela radicalmente branca, uma casa deliberadamente austera que às vezes se abre para o bairro, mas em outras vezes prefere ser um muro, assim como a propriedade vizinha.
Uma vez dentro, a casa se liberta, evidenciando essa condição na fachada posterior. A Casa F é fruto de uma profunda reflexão sobre a ideia de habitar e os múltiplos cenários domésticos que o projeto de arquitetura pode favorecer. Uma casa para um casal em que os usuários podem decidir participar ou não da vida pública do bairro, abrindo-se ou fechando-se ao entorno. Habitação e refúgio.
No seu esquema funcional, a casa se organiza em torno de dois vazios gerados: um pátio central para o qual se voltam a escada e os cômodos, e outro no fundo do terreno, que libera uma ampla área para um jardim com orientação sul. Isso permite a criação de um mundo interior no qual os espaços gravitam em torno dos dois vazios, promovendo relações visuais em diferentes níveis e integrando os espaços externos como parte da habitação.
Quanto aos usos, apenas os estritamente necessários para resolver o programa habitacional são definidos. De resto, os cômodos não têm função definida, apresentando-se como espaços reversíveis de diferentes escalas que podem olhar para o exterior, para o interior ou para ambos. A paleta enxuta de acabamentos se move em um equilíbrio de contrastes entre materiais frios e quentes: pisos e tetos de concreto, paredes brancas e madeira de pinho natural. O resultado é um ambiente sóbrio que pretende ser colonizado pelos seus habitantes e só se tornará um lar quando isso acontecer.