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Arquitetos: Ricardo Azevedo Arquitecto
- Área: 940 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Ivo Tavares Studio
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Fabricantes: panoramah!®, Ayeme, Glass Media, Hormann, Top Marmi
“A casa que se desenhou com a alma de quem lá vive”. A Casa de Lavra é o reflexo da relação que a arquitetura pode criar entre o lugar e o cliente. Nenhuma casa é igual a qualquer outra desenhada e, nesta em particular, o arquiteto Ricardo Azevedo descobriu que desenhou o projeto “entusiasticamente no lugar”. Quanto mais o arquiteto conhecia a realidade e as pessoas, mais rapidamente as linhas passavam do esquisso à execução, sem passarem por fases intermédias.
Este método foi possível devido à relação intrínseca entre o arquiteto e o cliente - “falávamos uma mesma língua, sem percebermos o porquê” - fator que permitiu uma liberdade total no projeto. O arquiteto acrescenta “os melhores resultados acontecem quando alguém confia no que vamos fazer. É difícil porque projetar é antecipar o futuro. Aqui tivemos liberdade total, apenas o tempo e o facto de estarmos em construção enquanto projectávamos é que nos poderia condicionar.”. Claro que para tudo ser possível “algures no processo, há sempre alguém, que ampara os meus voos arriscados de formas aparentemente confusas, cuja soma tem que ser harmoniosa. Do esquisso à execução. Do Ricardo Azevedo ao Paulo Oliveira.” ̋
O desenvolvimento do projeto teve como base a resolução dos problemas que foram identificados ao analisar a pré- existência. Uma casa dos anos 80, com uma linguagem tradicional, arcos em torno, um plinto onde se pousava e um jardim ao seu redor. Habitualmente, quando se pensa em recuperação associa-se o pensamento à história, no entanto, existem muitas construções sem valor arquitetónico e esta era uma delas. A relação interior/exterior não estava presente. “Sentia-se uma separação de realidades”. Houve a necessidade de conectar estes dois ambientes, para que se fundissem e se completassem. O interior torna-se o exterior e o seu contrário, quer nas relações permeáveis e diretas do programa, quer na transparência dos vãos com maior dimensão. Desse modo, o conceito do projeto prevalece desta vontade de estar simultaneamente dentro e fora sem identificar os seus limites.
O lobby de entrada, a ampliação da zona de estar e um novo volume social definem os três paralelepípedos transparentes que se elevam da base, sem quebrar a relação com a natureza envolvente premeditada. Esta expansão programática fundiu-se e reforçou a intenção de interligar o interior e o exterior.
Pensar na vegetação envolvente, remete para o jogo sensorial utilizado ao longo dos diferentes espaços. A cada um deles corresponde um ambiente específico, quer pelas espécies escolhidas quer pelo carácter por eles oferecido. Em tom de exemplo temos o novo volume social que é envolvido por vegetação tropical e um percurso em granulado de mármore, de modo a transpor para o interior da casa um ambiente distinto.
“É a casa de um jardineiro. Um homem que assim pertence às árvores, aos ciprestes, aos aceres, às brisas do ar. A casa não o pode conter. Estes espaços transformaram-se assim numa casa sem paredes. O jardim, foi um espaço em branco que o cliente modelou como um escultor modela uma pedra em bruto que lapidada se torna diamante.”
Quanto à distribuição programática da casa esta teve como estratégia unificar e agregar todas as partes do programa de forma hierárquica, as suites surgem com a privacidade e sossego necessário, enquanto as salas de estar contemplam e se relacionam diretamente com a área charmosa da piscina, que se desenvolve em diferentes níveis, com materiais nobres e onde contém com uma parede que se transforma em cascata, promovendo o som relaxante da água.
Na sala de estar, que se transforma em alpendre, surge uma exceção como pano de fundo. Uma escultura de Paulo Neves que, quando aberta, abre porta para um momento de degustação de vinhos, um volume que adota a materialidade da porta escultórica, um volume orgânico, em que a sua relação exterior com o percurso envolvente do jardim é surpreendente.
Remetendo a dicotomia de “separação de realidades”, embora a localização próxima da casa com o mar, não existia, até então, qualquer relação visual com o mesmo. Para resolver esta condicionante, desenvolveu-se uma suite elevada com varanda, um segundo piso que pousa na cobertura, tornando a casa capaz de encontrar a proximidade com a extensão do horizonte. Pelas palavras do arquiteto Ricardo: “Daqui em diante a casa espreita o mar. Estava perto, mas sem o ver. Agora os barcos que esperam a entrada no Porto de Leixões são o quadro de fundo de uma parede de vidro que se abre no horizonte”.