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Arquitetos: Housescape Design Lab
- Área: 250 m²
- Ano: 2023
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Fotografias:Rungkit Charoenwat
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Fabricantes: BEGER, COTTO, Hafele
Descrição enviada pela equipe de projeto. Esta residência está localizada em Chiang Mai, uma cidade no norte da Tailândia reconhecida por sua combinação de vida urbana e proximidade com maravilhas naturais. O projeto recebe o nome de "Baan Dam", um termo escolhido por seu extremo minimalismo. Em tailandês, "Baan" se traduz como "Casa", enquanto "Dam" significa "Preto". Portanto, o projeto é chamado de "Casa Preta" devido à sua associação com essa tonalidade escura.
O desejo inicial do proprietário era ter uma residência que incorporasse a essência local de Chiang Mai, ao mesmo tempo em que estivesse em harmonia com a vida contemporânea e minimizasse o uso de importações para sua construção. O que estamos prestes a transmitir é bastante distinto de uma seleção padrão de materiais naturais para alcançar, de fato, um resultado 100% natural. O objetivo deste projeto não é apenas isso; ele foi destinado a estimular um processo de produção dependente da comunidade local, utilizando materiais que possam abordar questões ambientais. Outro aspecto é tornar esses materiais facilmente observáveis na vida cotidiana.
O aspecto inicial foi discutir o layout arquitetônico, que apresentava uma variedade de pátios em diferentes formas e tamanhos. Começando pelo maior, com um jardim onde a casa forma um "U" ao redor. Esta área serve como um espaço de atividades ao ar livre, especialmente para apropriações recreativas como acampar. A segunda parte é o jardim de entrada da casa. Esta área utiliza argila cozida como piso, remetendo às casas tradicionais familiares aos tailandeses. Ela atua como ponto de conexão com os espaços semi-públicos da casa, incluindo a área "Tern" e a entrada principal, estendendo-se à área de jantar comunitária que substitui a tradicional sala de recepção de convidados. Como o proprietário gosta de cozinhar, o significado de receber convidados nesta casa reside na disposição do espaço de jantar. Por fim, o pátio do corredor é um espaço privado protegido por um pequeno jardim. Ele serve como um caminho que conduz ao quarto principal, separado da casa. Dessa forma, esses são os significados e funções distintos de cada pátio.
Em regiões quentes e úmidas com chuvas intensas como esta, o sombreamento é de extrema importância, pois cria um ambiente confortável. Esta é uma consideração fundamental no projeto arquitetônico. No entanto, a escolha do telhado para esta casa específica difere de nossas práticas anteriores. Precisamos usar exclusivamente a cor preta. Portanto, devido à produção local de telhas de cimento, não conseguimos encontrar telhas pretas de fabricação em larga escala. Sendo assim, nossa equipe teve de pintar individualmente quase vinte mil telhas para este projeto, empregando técnicas conhecidas pelos artesãos locais. Essas telhas serão, então, dispostas usando um método familiar aos artesãos locais. O telhado será dividido em duas seções e conectado usando uma laje de concreto para evitar costuras excessivas que possam resultar em vazamentos e infiltração de água.
No âmbito das relações contextuais, é em torno da área de jantar, como mencionado anteriormente, que os convidados são recebidos. Essa escolha reflete o desejo do proprietário de mostrar sua identidade e dissolver o comportamento dos convidados por meio do paladar e da atmosfera da preparação dos alimentos. Essa área específica é estrategicamente posicionada para ser altamente visível desde o exterior e, quando vista do interior, captura a maioria dos ângulos-chave da casa. Também serve como ponto de conexão com outros espaços funcionais. Notavelmente, quando a grande janela é aberta, ela se funde perfeitamente com o espaço externo projetado intencionalmente, chamado de varanda de transição ou conhecido localmente como "Tern". Coletivamente, esses espaços se transformam em uma grande área comum que se interconecta perfeitamente - dentro, fora e no jardim - formando uma entidade instantaneamente integrada.
Dentro do quarto principal da casa são incorporadas janelas de correr feitas em madeira local para estabelecer uma sensação de privacidade por meio de vãos compactos. Elas servirão como substitutas das janelas maiores encontradas nos espaços semi-públicos dentro do pequeno volume, garantindo uma atmosfera mais privada. Nesta edificação compacta, não haverá portas separando o banheiro e o quarto. O layout é cuidadosamente projetado para incentivar um fluxo contínuo, posicionando estrategicamente as funções para evitar confronto direto.
Utilizamos uma variedade de acabamentos de superfície nas paredes desta casa. Internamente, por exemplo, combinamos concreto com cascas de arroz e aplicamos um reboco semi-liso. Nosso objetivo é promover um contexto ambiental, dando a impressão de que essas superfícies das paredes são influenciadas pelo ambiente rural, em vez de serem totalmente fabricadas industrialmente. Quanto às paredes exteriores, buscamos um acabamento quase liso, mas eliminamos a etapa final para criar uma superfície com ligeiras irregularidades, apresentando assim uma aparência texturizada. O destaque na parte externa é a parede preta na entrada da casa. Para isso, utilizamos uma superfície profundamente texturizada conhecida localmente como "Salad Dok". Essa parede preta enfrenta diretamente a luz solar do meio-dia, momento no qual revela todos os detalhes intrincados dos ornamentos feitos pelos artesãos locais.
O ponto inicial é criar esta casa por meio do "Artesanato Ocorrente". Mas o que isso significa? Basicamente, trata-se de criar um objeto dentro do contexto de um tempo e lugar específicos e de como eles se relacionam entre si naquele momento particular. Por exemplo, a criação da maçaneta na porta de entrada. Ela surgiu de um evento em que alguém abriu a porta e deixou-a ligeiramente aberta por um tempo. Visto por esse ângulo, era possível notar o reflexo de uma piscina mais além. Portanto, essa maçaneta serve a um propósito funcional - é para segurar a porta. Mas, além de sua função, ela captura a essência da paisagem circundante. Em um determinado momento, quando a porta se abre antes de entrar na casa, cria-se uma breve e impressionante exibição.
Elementos locais da casa foram incorporados e adaptados para aumentar o conforto e a conveniência. Um dos esforços feitos é a integração do conceito de "cantos recuados" da arquitetura tailandesa. Isso envolve alterar perspectivas e introduzir novas técnicas nos materiais para aumentar a eficiência quando esses elementos são usados na narrativa. Um exemplo evidente nesta casa é a torneira para lavar os pés. Posicionada logo antes da área de estar principal, essa é uma prática tailandesa costumeira de se limpar antes de entrar na casa. Esta torneira foi projetada para mesclar materiais contemporâneos como aço, minimizando a forma de ornamentos tradicionais tailandeses para se adequar à sua função e design. Todos esses elementos são finalizados em preto e, quando a luz solar incide sobre eles, revelam-se em diferentes intervalos de tempo.
Esta casa tenta criar percepções novas por meio de experimentos materiais extraídos da vida cotidiana. A continuidade da beleza pode não ser imediatamente evidente neste trabalho, pois é intencionalmente alterada pelo uso de materiais e arranjo de elementos que foram testados nos experimentos do estúdio. Esses experimentos foram utilizados para apresentar diversas possibilidades de criar um lar que transcenda as limitações do tempo.