-
Arquitetos: Lara Fuster Prieto
- Área: 142 m²
- Ano: 2022
-
Fotografias:Milena Villalba
Descrição enviada pela equipe de projeto. A Casa de Terra está situada em um município com pouco mais de cem habitantes, um lugar paradigmático do êxodo rural dos anos 60-70 e do que ficou conhecido como "Espanha vazia". O projeto é consequência direta do programa de necessidades e do seu contexto: uma casa-escritório em Tierra de Campos, uma planície desarborizada na meseta castelhana-leonesa, de clima extremo e seco.
A arquitetura tradicional popular da região baseia-se no tijolo de adobe ou terra crua, uma vez que a terra e a palha são praticamente as únicas matérias-primas locais. A elas soma-se a argila cozida (telhas, tijolos, ladrilhos, etc.) e a madeira. Todos esses materiais compõem uma paisagem característica, onde os tradicionais pombais são uma das construções mais representativas. A construção com tijolos de adobe tem um impacto ambiental mínimo, uma vez que sua matéria-prima pode ser encontrada no terreno, não necessita de cozedura para a fabricação e pode ser reintegrada diretamente na natureza após a sua desconstrução.
A casa, habitada de forma permanente, deveria oferecer um grande conforto climático, gerando o menor impacto ambiental possível. Por isso, o projeto optou pelo tijolo de adobe proveniente de uma olaria próxima como material principal para a construção. Os demais elementos, embora não sejam de produção local, mantêm o critério de ter um baixo impacto ambiental. Embora o tijolo de adobe seja um elemento fortemente ligado à identidade e cultura da região, o seu uso em obras contemporâneas é praticamente inexistente. Nesta proposta, os materiais tradicionais adaptam-se a processos construtivos e modos de habitar atuais.
O resultado é um único volume completamente integrado na paisagem, que abriga um interior diáfano de grande honestidade construtiva. Trata-se de uma construção de planta retangular organizada em quatro naves paralelas de leste a oeste. A fachada norte, alinhada com a rua, possui aberturas assimétricas de menor dimensão, obtendo uma aparência semelhante às construções tradicionais da região. A distribuição do espaço interno volta-se para a fachada sul, que apresenta as aberturas de maiores dimensões que atuam como captadores solares durante o inverno e que são protegidas por persianas de madeira e por uma pérgula com trepadeiras de folha caduca durante o verão.
Para a construção das paredes estruturais, foram utilizados tijolos de adobe no formato de 33x15x10cm, fabricados a menos de 40 quilômetros da obra. Sobre essas paredes, e com o apoio de três pilares centrais de madeira laminada, apoiam-se as vigas de madeira laminada que formam os pórticos inclinados que recebem a laje da cobertura. A cobertura em duas águas é composta por um painel sanduíche de madeira e isolamento de cortiça, e por telhas de barro curvas reutilizadas, cuja pátina permite a integração absoluta do volume na paisagem do entorno. As paredes foram revestidas com placas de oito centímetros de cortiça como isolamento em sua face externa, como em SATE. Embora o trullado seja o reboco tradicional da região à base de barro misturado com palha, nesse caso, a casa foi rebocada com uma mistura de argamassa de cal e palha para maior durabilidade.
A cal, ao contrário do cimento, tem propriedades de transpirabilidade e absorção semelhantes à terra, proporcionando uma resistência ideal para paredes externas. Toda a carpintaria é de madeira, com persianas enroláveis nas aberturas da fachada sul atuando como protetores solares. Na distribuição interna, foram feitas apenas as compartimentações indispensáveis através de divisórias leves, compostas por uma armação de ripas de madeira aparente, isolamento de manta de algodão reciclado e painéis de madeira de média densidade (MDF). O terço superior substitui os painéis de madeira por chapas de policarbonato para tornar a perspectiva interna mais leve e aproveitar ao máximo a luz natural em todo o espaço.
O adobe foi mantido à vista na face interna, exceto nas áreas úmidas, onde as paredes estruturais externas foram revestidas com o mesmo sistema das divisórias e totalmente azulejadas. A casa, com classificação energética A, não necessita de sistemas de refrigeração. A inércia dos materiais utilizados e o correto isolamento de todo o envoltório permitiram que ela mantivesse temperaturas constantes entre 22 e 24°C durante o último verão, no qual foram registradas temperaturas de até 40,5°C.
No inverno, devido às condições climáticas extremas da região, a casa requer um suplemento de aquecimento. Para isso, foi instalado um sistema de piso radiante, cuja forma de aquecimento se assemelha a "glorias", o sistema de aquecimento tradicional da região que consiste de chaminés subterrâneas que aquecem as casas a partir do solo. Em resumo, este projeto parte da premissa de desenhar uma nova construção com o menor impacto ambiental possível e completamente vinculada à cultura do seu contexto através da seleção de materiais.