- Área: 355 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:Alexander Bogorodskiy
Descrição enviada pela equipe de projeto. Na visita ao terreno reconhecemos o lugar pelo escalonamento em socalcos, quase similar ao Douro Vinhateiro com os seus muros em Xisto a desenhar vincadamente a paisagem. Parecia que não convidava à construção de um edifício...
Temos sempre a sensação que alguns lugares estariam em silêncio e equilíbrio se não fizessemos intervenção. Outros, encontram o seu sentido com a própria intervenção passando a olhar para eles enquanto moldura de uma atmosfera, ambiência e paisagem. É entre estes dois mundos que consideramos que os arquitetos devem operar - saber complementar ou completar aquilo que Deus deixou por fazer ou resolver.
Esta leitura evoca a poética e a importância do lugar e da construção do mesmo a partir de uma tradição mas também de uma evolução. Não há tradição sem evolução, nem evolução sem tradição. Esta percepção remete-nos à noção de paisagem enquanto valor a respeitar e a salvaguardar.
Interessa-nos este interstício entre o complementar e o completar. Num desígnio de contradição da evidência - estando ali e assim não poderia estar de outra forma... mas por outro lado, fomentar a sensação de uma eloquente ironia.
Assim percebemos que aquele lugar convidava à utilização de um novo muro para se relacionar e dialogar com os outros muros em xisto que ali já residiam. Este muro, quase não necessitava de mais nada, podia viver integrado e com o tempo fazer parte do lugar... mas o convite estava feito teríamos que projetar uma casa. Dessa forma, ao pousar o edifício procurou-se entre forças conciliar o enquadramento da paisagem, a orientação solar, a tipologia T4 em pátio, a privacidade e também a figura geométrica que delimita o edifício em planta, designadamente um quadrado, que não é um quadrado perfeito.
A partir desta figura, criou-se uma rotação promovendo o interstício. Isto é, pousado ou lançado sobre a paisagem. Assim deveria estar o edifício. É desta exaltação dos sentidos que encontramos um espaço onde o homem possa sonhar e avançar, talvez na eloquente ironia...