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Arquitetos: SIA arquitectura
- Área: 882 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:Francisco Nogueira
Descrição enviada pela equipe de projeto. O Projecto de uma casa em Oeiras, numa encosta com vista para a foz do Tejo, num território sem memória, situa-nos num lugar onde tudo é novo e, no entanto, tudo é anónimo. Numa malha urbana onde nada fixa a identidade. Para este não-lugar desenhámos, não a partir da delicadeza, mas a partir da intensificação do gesto, de uma ideia com expressão suficiente para fundar um novo tempo.
Este primeiro gesto foi rápido, uma incisão. Num território por desenhar, um acção fundadora, para que a rua, o rio-mar, comecem a existir. Procurámos o peso do campo magnético do desenho para que este se torne uma identidade. A casa foi ganhando forma e construiu-se.
A proximidade da rua e a situação de vista de mar na cota mais alta levou-nos a inverter o programa, colocando as salas no piso superior. Uma grande plataforma flutuante e pesada protege a privacidade, impedindo a visão de quem passa e ocultando o espaço comum. A sala, elevada, protegida e ilimitada, num contínuo entre o interior e exterior. Um terraço balançado no vazio, suspenso, uma cobertura entre o céu e o mar.
Desenhámos a casa onde o peso descola da terra com a resistência quase insolente da vontade. Com volumes maciços, suspensos, protetores. Para encontrar a proporção certa dos volumes de betão, recorremos ao que já conhecíamos, e medimos as consolas da Fundação Gulbenkian. Um tributo aos lugares que nos são comuns e que nos formaram como arquitectos.
Nesta suspensão a casa e o jardim elevam-se, a rua afasta-se, e o rio aproxima-se da fronteira materializada num plano de água. O muro de betão horizontal interrompe a visão da rua e liga-se à vista da água e do céu. Na plataforma de betão abre-se um vazio para deixar passar o jardim, enquanto protege a privacidade da casa. Num futuro próximo o jardim e a casa serão um contínuo sem interrupção.
Prolongámos a vista e a sua projecção no horizonte infinito que o mar sempre recorda no quotidiano dos dias, tentando que o projecto fosse um amplificador do lugar. Um olhar inteiro e limpo, recomeçando, refundando, como se nunca tivéssemos visto este território, como se pudéssemos desaprender o que existe e desenhar o novo.
Gostávamos que a casa se implantasse e se tornasse, ela mesmo, uma origem. Como num recife artificial, com condições para que a vida, aos poucos, cresça e prospere. Numa celebração, da vida, das pessoas, da herança da Arquitectura, para nos tornar, a todos, mais capazes. Mais capazes de continuar.