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Arquitetos: Archisan
- Área: 261 m²
- Ano: 2019
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Fotografias:Koichi Torimura
Descrição enviada pela equipe de projeto. A Casa de Quartzo é um projeto arquitetônico concebido como uma cristalização de todas as energias vivas. Sua proposta é brilhar, refletir e amplificar fenômenos cotidianos, canalizando e intensificando suas vibrantes frequências. Sólida e porosa, ela age como uma estrutura esquelética para todas as formas de vida. Os espaços são concebidos como antigravitacionais, liberando-se das típicas tipologias tradicionais. A edificação assume uma abordagem de baixa tecnologia e se configura como um edifício de uso misto, apresentando diferentes configurações de unidades, sem, no entanto, distinguir rigidamente entre vida, trabalho e lazer. As janelas em 360 graus, são desenhadas como lentes para contemplar o entorno, refletindo e observando nosso ser interior.
A estagnada tipologia de construção e zoneamento poderia desvincular a essência de nossa vida diária na cidade. Durante a pandemia de COVID-19, nossa vida urbana foi drasticamente restringida; trabalhamos de casa e não pudemos frequentar restaurantes. A função do espaço urbano e o propósito inicial de um edifício foram comprometidos. Surge, então, a questão: será que ainda precisamos, de uma arquitetura urbana com fronteiras nítidas entre diferentes usos e funções? A distinção entre áreas residenciais e comerciais presume que as pessoas possuam recursos econômicos suficientes para viver em áreas residenciais apropriadas e trabalhar em outro local.
Em contraste, as áreas comerciais ou industriais do centro de Tóquio não têm propósito para muitos, que não consomem ou trabalham lá. Esse cenário sufocante da urbanidade leva até mesmo pessoas comuns a acreditarem na necessidade de repensar fundamentalmente estilos de vida, formas de trabalho e a maneira como coexistimos na cidade. É possível, portanto, reconsiderar de forma integral a "criação de cidades habitáveis", conforme proposto pelo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável #11, por meio de uma redefinição da arquitetura que não seja apenas determinada por sua função, mas que possa permanecer neutra. Esta abordagem busca criar um edifício aberto e arejado para a cidade, permitindo que os usuários redefinam suas atividades diárias com uma arquitetura flexível e permeável.
O interior consiste em uma casa geminada de dois pavimentos, um sobrado de três pavimentos e unidades de tamanhos diferentes no primeiro, segundo e terceiro pavimentos, com plantas que podem ser conectadas e desconectadas internamente para atender às diversas necessidades dos usuários. Um sistema mecânico exposto facilita a manutenção e substituição de equipamentos para um uso mais eficiente de energia ao longo do tempo. Apesar da aparência externa que lembra uma sobreposição de caixas, o edifício foi projetado para criar uma estrutura e canalizar elementos humanos e climáticos, permitindo sua interação ao longo do tempo.
Como resultado, o edifício emancipa experiências efêmeras, como luz solar, água da chuva e vento, que fluem por ele. Uma característica notável são suas janelas, que podem girar 360 graus, aumentando a porosidade em relação ao entorno e tornando-o mais aberto à cidade. Assim, o edifício desafia sua interioridade ao ser projetado para abraçar ousadamente a ambiguidade de funcionalidade e celebrar elementos temporais geralmente considerados tabus na indústria japonesa contemporânea. Adicionalmente, a estrutura foi recuada para criar uma fachada dinâmica que promove encontros inesperados com o entorno.