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Arquitetos: Sergio Sampaio Archi + Tectônica
- Área: 1300 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:Leonardo Finotti, Rafaela Netto
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Fabricantes: Way Engenharia
Conceito
A Casa foi concebida para uma família e amigos com o desejo de contemplar a natureza, prática de esportes e lazer junto à Represa Jurumirim no município de Avaré/SP, distante 270km de São Paulo. A construção totaliza 1.300m2 de área construída e está implantada em um lote de 11.000m2 com vista para represa .
O extenso programa da casa foi atendido a partir da distribuição funcional em 4 blocos funcionais:
- Garagem, quadro de energia e abrigo de gás;
- Estar, adega, cozinha, lavanderia no térreo e salão de jogos no andar inferior;
- 4 suites para hóspedes;
- Suíte dos filhos, suite do casal no térreo e garagem de barco no andar inferior.
A ligação entre os blocos se dá por uma passarela elevada em deck de madeira de 3m de largura que conforma um eixo de circulação desde o acesso, passando por todos os setores da casa, indo de encontro à vista da represa onde foi disposta a varanda com churrasqueira, ambientes de estar e piscina.
A delicada marquise de madeira CLT que cobre esse eixo de circulação está apoiada em esbeltos pilotis, fabricados em madeira MLC torneada em secção cilíndrica, que ligam diretamente a cobertura às sapatas de fundação que afloram do terreno. Em contraponto formal à esse deck elevado e delgada marquise, os 4 blocos funcionais são volumes compostos por espessas paredes de taipa, cuja terra foi extraída do próprio local, e foram executados sobre um maciço embasamento de concreto armado in loco que aflora do solo natural, destacando a declividade do terreno, na medida que a construção se aproxima das margens da represa.
Espacialmente a casa se apresenta em 2 situações sensoriais de ambiente:
- nos blocos funcionais temos volumes onde o espaço interno é “comprimido” e apresentam-se com poucas aberturas, pé-direito de 2,60m, controle de incidência dos raios solares e isolamento termoacústico das espessas paredes de taipa.
- Sob a marquise que cobre a passarela em deck de madeira e varanda temos a fruição dos espaços abertos, sem vedações laterais, que promovem a integração da paisagem ao interior da composição. Nessas áreas sentimos permanentemente a presença dos ventos, dos raios solares, das chuvas e os pássaros circulam livremente por entre os volumes de taipa.
É uma construção cuja as texturas dos materiais in natura, jogos de luz e sombra, espaços intersticiais e integração paisagística, fazem do objeto arquitetônico um incremento ao contexto natural de forma contemplativa e da percepção das “sutis substâncias da arquitetura”.
Conforto e Inovação:
Os materiais especificados para a construção foram adotados para obtenção da melhor performance dos ambientes quanto ao isolamento termo-acústico e, simultaneamente, expressar na forma arquitetônica as soluções técnicas empregadas e evidenciar a materialidade dos componentes como elemento de valor estético. Toda a construção é estruturada em paredes de taipa sobre embasamento de concreto armado in loco que afloram a partir das fundações da construção. A taipa é uma técnica construtiva de tradição secular que desempenha de forma excelente o isolamento termo-acústico além de seu processo de execução ser simplificado e de extrair os insumos do próprio solo onde a construção é implantada.
Luz natural e ventilação cruzada são garantidos através de domus-venezianas de cristal nos banheiros e aberturas emolduradas pelas esquadrias de alumínio de correr com vidros laminados anti raios UV incolor.As instalações elétricas e hidráulicas passam entre o forro de madeira pinus e a laje pré-moldada alveolar de cobertura. As prumadas de cabeamento e tubulações estão concentradas em shafts de manutenção distribuídas de maneira equidistantes pela construção assim como calhas técnicas correm horizontalmente livres sob a laje de piso no vazio existente no “caixão perdido” do embasamento.
Sustentabilidade
O projeto foi concebido e a obra foi planejada sob as premissas de tornar os processos construtivos mais eficientes para reduzir ao máximo o impacto ambiental. Para isso a obra foi executada em 2 frentes de trabalho:
- Movimentações de terra, drenagem, ligações hidrossanitárias e execução das fundações e embasamento de concreto armado in loco utilizando mão de obra local.
- Produção dos componentes industrializados (painéis CLT, vigas MLC, esquadrias de alumínio e as bandejas das fachadas ventiladas) na região metropolitana de São Paulo . Transporte e montagem feitas através de caminhão munck e montadores especializados que fixaram todas as estruturas e vedações com sistemas de macho-fêmea e parafusos.
A modularização do projeto mediante os elementos da composição, utilização predominante de componentes de matriz renovável (madeira), estruturas leves e peças segmentadas de fácil transporte otimizaram o prazo de construção e reduziram drasticamente o consumo de água, geração de resíduos e desperdícios de materiais. Além disso o planejamento da obra e adoção de processos inovadores promoveram a qualificação técnica de mão de obra e fornecedores locais durante o acompanhamento da edificação. Toda a carpintaria (deck, píer, portas e forro de pinus) e serralheria (guarda corpos, escada externa, bancos e mesa da varanda...) foram desenvolvidas em conjunto com fornecedores locais, adotando seus métodos e incorporando a tradição local ao projeto arquitetônico de maneira enriquecedora, ao mesmo tempo otimizando a logística e reduzindo o impacto ambiental com os deslocamentos de materiais.
A elevação dos volumes que compõem a casa em relação ao solo, evitam a transferência de calor e umidade para o interior da casa, aliadas às propriedades de isolamento térmico da madeira e da taipa, farta ventilação e iluminação natural, cobertura em manta termoplástica e painéis solares para aquecimento das águas e geração de energia fotovoltaica garantem o conforto ambiental da residência ao mesmo tempo que reduzem os gastos com energia elétrica para utilização de luz artificial e ar-condicionado tornando sua utilização mais eco eficiente.