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Arquitetos: Rosenbaum, Terra e Tuma Arquitetos Associados
- Ano: 2022
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Fotografias:Pedro Kok
Descrição enviada pela equipe de projeto. A Escola-fazenda Canuanã está localizada no interior do estado do Tocantins, município de Formoso do Araguaia, às margens do rio Javaés, em frente à ilha do bananal. Canuanã está à aproximadamente 300km de Palmas, a capital do Estado, em meio à zona rural que, a cada ano, se expande com o agronegócio. Foi fundada em 1973 pela Fundação Bradesco, como uma das unidades que oferece educação gratuita desde o fundamental até o ensino técnico, onde moram e estudam aproximadamente 800 crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos, filhos de famílias de agricultores ou trabalhadores rurais do centro-norte brasileiro, netos de assentados da reforma agrária realizada pelo Incra.
A escola-fazenda conta também com 270 funcionários das áreas de pedagogia, nutrição, saúde e administração, sendo a maior parte deles também moradores. Na escola, os alunos tem as disciplinas tradicionais e convivem com os canteiros produtivos, a criação e o abate de animais e a produção de alimentos. A nova vila de funcionários, foi implantada no eixo Norte-Sul da Fazenda, como acesso pela via principal de acesso à escola, em um ambiente mais reservado para a privacidade dos professores moradores da escola, consequência do plano diretor que deu origem à esta transformação. Essas casas ocupavam uma área central do eixo pedagógico, que resultava em um fluxo desordenado de carros e o constante convívio conflituoso entre atividades da vida privada das famílias de professores e o ambiente coletivo escolar.
O conjunto habitacional é composto por 32 unidades de habitação, em três diferentes tipologias, sendo 12 unidades para solteiros, 7 unidades com dois dormitórios e 13 unidades com três dormitórios, além de um estacionamento para carros e barcos. O desenho urbano definiu as quadras, os arruamentos e pavimentação para os fluxos coletivos de pessoas, bicicletas e veículos, as massas de vegetação das áreas coletivas, e a implantação de equipamentos para usos coletivos. As habitações de 1, 2 e 3 dormitórios foram distribuídas na vila de forma que as famílias, maiores e menores, convivam entre si. Sua implantação teve como partido o uso do vento como principal componente para conforto térmico e a questão da privacidade para a locação das janelas.
As residências foram projetadas para terem conforto térmico sem fazer uso de condicionamento artificial de ar, e atender às condições climáticas locais que são calor ao longo de todo ano, intensa exposição à luz do sol, ventos que carregam terra e chuvas torrenciais. As paredes foram construídas com tijolos de solo-cimento moldados no canteiro de obra da fazenda, material que por ter maior inércia tem uma grande eficiência para o conforto térmico. Os caixilhos foram projetados e desenvolvidos com sistema de peitoris ventilados, tecnologia pouco explorada na atual arquitetura brasileira, presente em diversos projetos da arquitetura da década de 60, especialmente em cidades do nordeste. O peitoril ventilado é uma das estratégias construtivas bioclimáticas mais eficientes na promoção de conforto térmico e eficiência energética. É um dispositivo localizado abaixo da abertura das janelas, em formato de um ‘L’ invertido, que fica protegido das chuvas e permite a circulação do vento durante o dia e a noite, sem comprometer a entrada de luz e segurança do ambiente. A ventilação cruzada também está presente nas bandeiras das portas de madeira em todos os ambientes, e a cobertura dupla, com uma telha metálica e largos beirais protegem a laje de concreto da incidência direta do sol e permite a troca de ar entre elas.
Entre as casas foram propostos arruamentos e praças que priorizaram a circulação de pedestres e bicicletas por entre as unidades e o fluxo de carros direcionado para o contorno da vila. Os arruamentos são de terra batida com cascalho, como grande parte da fazenda e toda a macro e micro drenagem da vila é feita por um sistema de biovaletas. O paisagismo foi pensado para sombrear os espaços de convivência, dar privacidade às casas e funcionar como um sistema de recarga do lençol freático em alguns canteiros estrategicamente posicionados. Caso o volume da chuva seja elevado, o excedente de água é direcionado dos canteiros drenantes para uma biovaleta principal no perímetro externo da vila e extravasa para o Rio Javaés.
Cada habitação tem equipamentos individuais suficientes para cada composição familiar, criando privacidade em uma comunidade de funcionários, como uma nova forma de habitar um espaço rural com características de vida condominial. Um edifício garagem fica isolado do conjunto habitacional e permite que as garagens possam ser utilizadas como churrasqueira ou espaço de laser das casas de 2 e 3 dormitórios. As casas de solteiro, ou quitinetes tem um pátio central para cada 4 conjuntos e se tornaram espaços de academia de ginástica e espaços de varanda.
Terra - Este conjunto de projetos em terra deixa como legado para os jovens, a visão de futuro a partir do patrimônio ancestral, novas formas de habitar a terra, elegendo um novo cânone para o desenvolvimento humano e planetário, que parte da ancestralidade. A produção técnica dos tijolos de solo-cimento para as obras do refeitório e vila dos funcionários foi conduzida pela equipe de engenheiros da construtora InovaTS, que implementou na obra uma fábrica de tijolos, onde foram produzidos 380 mil unidades em prensa mecânica, com a terra do local. Os tijolos tiveram cura úmida durante os primeiros dois dias e depois passavam para uma cura em pátio aberto. Os ensaios foram realizados em um laboratório de controle tecnológico implantado na obra. Todos os lotes foram rastreados com o dia de fabricação, rompimento de amostras até o local de aplicação. Alunos e professores fizeram visitas periódicas à obra, compartilhando o processo de aprendizado na construção de suas moradas.
