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Arquitetos: PF Architecture Studio
- Área: 380 m²
- Ano: 2023
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Fotografias:João Morgado
Descrição enviada pela equipe de projeto. O município de Esposende situa-se na costa norte do território português. Terra de mar, rio e montanha ocupada há 300 mil anos, combina ecossistemas e paisagens sob o mesmo denominador comum, o vento norte ou como aqui é conhecido a “Nortada”. A Casa no Campo, localizada na freguesia agrícola de Gandra, pretendia ser o lar de uma família de quatro mais dois, em fuga da cidade. O terreno, com uma clara orientação Norte/Sul, localiza-se numa porção de território predominantemente agrícola, campos de milho ora verdes ora dourados onde florescem casas mais ou menos vernaculares de agricultores. Desejava-se uma casa fácil, despretensiosa, que respondesse a um imaginário de vivência campestre, com uma forte relação com o exterior, que envelhecesse bem e que respeitasse o sítio.
As referências são claras e assumidas, a casa de Inger e Johannes Exner, a casa Louis Carré de Aalto, a casa Huarte de Corrales y Molezún e Távora incontornável, com a casa de Ofir ali a dois passos. No essencial é o telhado que define a Casa no Campo. Um plano em rampa que protege o edifício das chuvas de sul e desenha um L que na verdade é um T, na medida que se defende do constante vento Norte. Voltadas a sul e à rua de acesso recebem-nos as áreas sociais da casa, um primeiro pátio exterior com piscina (a eira), um alpendre coberto (o varandão), o hall de entrada, a sala aberta a Sul e a Poente e a cozinha aberta a Sul. As áreas privadas desenham-se no lado Norte do conjunto, ainda que maioritariamente abertas a Poente, onde se desenvolve uma parcela mais íntima do jardim que rodeia toda a casa. Aproveitando o desvão criado pelo plano inclinado da cobertura, cria-se a suite principal da casa, que se abre na sua intimidade para um pátio exterior rasgado na cobertura. Aprendendo com a arquitetura vernacular da região, a casa abre-se a Sul sem se expor em demasia. Protege-se do impetuoso sol de verão mas permite a sua entrada nos meses mais frios do ano.
Com a vontade de viver no campo veio um desejo de comunhão com o meio, à qual a casa não deveria ser alheia, pelo que a escolha dos materiais utilizados acompanhou essa vontade. A totalidade do edifício é forrado a tijolo burro manual, o Carvalho Europeu é a única madeira utilizada e os pavimentos exteriores em lajeado de betão são produzidos na região. Não ambicionando fazer da casa um statement de qualquer ordem, não fugimos ao facto de todas as opções formais e construtivas assentarem em lições de conhecimento empírico e respeito pelo meio que milhares de anos de construção vernacular têm para nos ensinar. Tudo o resto é feito pela luz, e pela vivência e apropriação livres de uma família que se deseja feliz.
Como cantou Elis Regina
“…uma casa no campo
Onde eu possa ficar do tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais…”