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Arquitetos: Studio 126 Arquitetura
- Área: 15 m²
- Ano: 2023
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Fotografias:Estudio NY18
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Fabricantes: A de arte, Arthros, Botteh, Deca, EFEITTO , São Romão, Tintas Coral
Descrição enviada pela equipe de projeto. Folha que cura o corpo, Folha que estrutura a morada. Uma tríade. Uma trindade. Depois do bangalô, da palafita…a Capela das Folhas.
Em sua terceira participação consecutiva na CASACOR Minas, o Studio126 encerra a trilogia de ode às artes sacras com um ambiente que, possivelmente, é o maior símbolo da religiosidade em Minas Gerais: uma sincrética capelinha abrigada entre os baluartes do quase centenário casarão que recebe a mostra este ano.
Para o corpo: cura. Para a morada: abrigo. Dialogando com o tema da CASACOR 2023, Corpo & Morada, a capela assinada pelos arquitetos Evandro Melato e Pabrício Amaral é a própria representação da eterna busca humana pela conexão entre o interior e o exterior, o físico e o místico, o palpável e o intangível, o secular e o sagrado.
E se tem sagrado, tem Osmundo Teixeira. O gênio ceramista. O mestre do barro. O às das artes sacras, presente no bangalô, na palafita e que, agora, arremata a trilogia com as imagens do anjo a amparar a pia batismal e do impactante Cristo suspenso.
A imagem parece flutuar sob os colunários de design gótico, que se sobrepõem às paredes pintadas em Terra Brasilis, cor que evoca a matéria prima essencial usada pelo artista. Os colunários se manifestam como folhas. Folhas materializadas pelo cerne da madeira como ela é, crua e bruta.
Folha que cura o corpo, folha que constitui morada. Para além de representar o design da capela, o elemento entra em cena como símbolo da conexão com a natureza, do contato do homem com as outras criações divinas. A inspiração veio de Bethânia: “Sem folha não tem sonho. Sem folha não tem fest. Sem folha não tem vida. Sem folha não tem nada”, E ela continua: “Eu guardo a luz das estrelas A alma de cada folha Sou aroni”.
Aroni, orixá guardião da natureza. Aquele que se conecta com as ervas, que manipula os chás e tem a cura para os males do corpo e da alma. Um orixá homenageado numa igreja. Isso é Brasil, o sincretismo está no nosso DNA e na Capela das Folhas.
E não para por aí. Para um casarão histórico, uma reparação: o negro de volta à igreja, na simbologia das religiões de matrizes africanas e na escolha estratégica de elementos como a cadeira Nagô, de Zanini de Zanine, que, como sugere o nome, rende graças aos povos nagôs. A simbologia vai além. Um dos detalhes mais impactante é a fotografia de Daniel Mansur que retrata a imagem Nossa Senhora do Rosário em pintura de Mestre Ataíde na igreja de São Francisco de Ouro Preto.
Na Capela das Folhas tem história. A minha. A sua. A de Minas. E do Brasil. E se tem história, tem memórias, referências, lembranças. Tem aquele lugar seguro onde podemos fazer morada, sempre que o corpo pedir abrigo.