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Arquitetos: Rodapé Arquitetura
- Área: 70 m²
- Ano: 2024
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Fotografias:Carolina Lacaz
Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto do Nuu.Motel criou a metodologia projetual que iniciou o escritório de arquitetura Rodapé e que se estrutura na compreensão de que é impossível fazer arquitetura sem pesquisa. Pesquisa, que nesse projeto em específico, buscava elencar imaginários comuns do lugar do motel no Brasil para ressignficar elementos e propor novos, com o objetivo norteador de encarar o sexo como ação principal da apropriação dos corpos nos espaço criados - as suítes. Sexo esse que fosse leve, divertido, permissivo e ainda assim protegido entre quatro paredes, preservando o anonimato tão presente na origem da criação dos motéis à brasileira. Todo o estudo preliminar levou em conta justamente o que se preservava desse imaginário, o que se ressignifica a partir daí e o que criaríamos de novo.
Nosso ponto de partida inicial para a maioria das nossas pesquisas é olhar para o que já existe. Como o que já existe é muita coisa, as mídias digitais vêm com um papel fundamental de filtro da “realidade”, e a forma com que ela traduz essas “verdades” têm o mesmo peso que o conteúdo em si. O Google, e a maneira que ele funciona - através de uma barra de perguntas onde é possível digitar palavras - carrega em si várias pistas de sobreposição de conteúdo e escolha de palavras para tratar de assuntos. Para a concepção dessa suíte, onde a demanda era um espaço para sexos de mais de 2 pessoas, a palavra “casa de swing” resultou num arsenal de imagens. A partir daí elencaríamos o repetitivo, o banal, o comum, ou a novidade - para posteriormente criar as nossas próprias rupturas ou aproximações com o que já existe. Além do Google, o Pornhub foi nosso grande aliado nesses “elencamentos” de imaginários e potencialidades do já existentes.
Outro caráter particular da Arquitetura que gostaríamos que tivesse um ponto de partida concreto e não subjetivo era a plástica. Por demandas orçamentárias, que eram bastante restritas, a materialidade exigia fácil acesso e ao mesmo tempo que fossem de fácil limpeza e impermeabilidade. Os azulejos vieram como norte, e com eles Adriana Varejão. Os vidros de diferentes texturas, filtrando realidades e criando ilusões - sensações que queríamos que fossem associadas a esse espaço destinado ao sexo - foram outra materialidade elencada, e com ela as telas de Ana Elisa Egreja. A mistura desses elementos com as luzes Led RGB, tão presentes em todas as fachadas e quartos de motéis do Brasil, criam esses espaços que misturam o familiar, reconhecível com a novidade, a surpresa. A mistura sensual perfeita.
Plástico, brilhante, latex - a cara do sexo protegido esta presente também na estética do quarto - que precisa se provar sempre limpo e seguro. Junto da cartela escolhida dos materiais, começamos a fazer laboratórios de implementação, testes de luz, misturas de elementos inusitados; primeiro no desenho à mão, depois na escala 1:1, por fim na obra. Todo o processo de concepção - do desenho técnico à execução - é mutável e volátil ao longo da construção física, a obra, da arquitetura. O que se imagina a princípio sofre alterações ao longo dos laboratórios que fazemos em canteiro, e esses se tornam imprescindíveis para pôr à prova a mistura de materiais inusitados que propusemos. A aproximação inicial da materialização através do desenho técnico indica desejos e possibilidades; as experiências em obra, os laboratórios, criam permissividades e dão algumas certezas, mas a arquitetura construída é o resultado final dessas operações. Os outros processos são pontes para chegarmos nela.