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Arquitetos: Ecomimesis Soluções Ecológicas
- Área: 80000 m²
- Ano: 2024
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Fotografias:Rafael Salim
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Fabricantes: mmcite
Descrição enviada pela equipe de projeto. Foi inaugurado em meados de junho o Parque Realengo Susana Naspolini, localizado no bairro de Realengo, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. O parque faz parte de uma iniciativa da Prefeitura, junto à Secretaria do Meio Ambiente e à Fundação Parques e Jardins, para a criação de novos parques urbanos na cidade por meio de licitações públicas. O terreno vinha sendo reivindicado há mais de 20 anos pela população local e por movimentos sociais, que pediam que os 160.000 m² da antiga fábrica de cartuchos do Exército fossem transformados em um parque público. Em 2021, a Prefeitura recebeu metade da área do terreno como doação e lançou um edital para desenvolver o projeto básico de um parque no local. Após o processo de licitação, fomos selecionados para elaborar o Projeto Básico. No ano seguinte, uma nova licitação foi aberta, desta vez para a elaboração do projeto executivo e da obra. O escritório é então contratado pela construtora vencedora da licitação para dar continuidade ao projeto na fase executiva, enquanto a fiscalização da obra foi feita pela Fundação Parques e Jardins.
O projeto do Parque Realengo Susana Naspolini, com mais de 80.000 m², abrange uma variedade de espaços e usos. Seu programa engloba solicitações feitas à prefeitura pela comunidade local e também desejos do próprio prefeito, como os marcos visuais em formato de torres metálicas. Nosso propósito para o Parque foi criar, através de Soluções baseadas na Natureza, um ambiente que priorize e aproxime o usuário do meio ambiente, mesmo em um contexto urbano, proporcionando opções de lazer, espaços de encontro e trocas de saberes aos seus visitantes e moradores dos arredores. Após mais de duas décadas de intensa mobilização social e com a participação ativa de agentes públicos e privados nos últimos quatro anos, o tão aguardado parque finalmente foi inaugurado.
Com uma extensão de 4,5 hectares de espaço verde, oferece não apenas um refúgio da agitação urbana, mas também um ambiente multifuncional para a comunidade. O projeto contou com o plantio de mais de 3 mil árvores, além de recursos como uma horta comunitária, pomar e estruturas arquitetônicas projetadas para promover o comércio local e atender às necessidades dos moradores, incluindo lojas, salas de aula e espaços para eventos e oficinas (projetados em conjunto com os escritórios Ayako Arquitetura, Helena Meirelles Arquitetura, Larissa Monteiro, Messina | Rivas e Zebulun Arquitetura). O Parque também foi desenvolvido para abrigar uma ampla gama de atividades esportivas e de lazer, com destaque para um anfiteatro, skate park, quadras esportivas, Academia da Terceira Idade (ATI), playground aquático, playground infantil e muro de escalada.
A entrada principal do Parque, situada na Rua Professor Carlos Wenceslau, é acessada pela cota mais baixa do terreno, onde um portal e uma portaria restaurados da antiga fábrica de cartuchos recebem os visitantes. Um dos principais focos do projeto foi a implementação de um sistema de infraestrutura verde e azul para lidar com a drenagem do terreno, uma preocupação constante durante o processo de criação. O projeto visava criar soluções resilientes às mudanças climáticas, incluindo a captação de águas pluviais por meio de jardins de chuva e biovaletas, direcionando essas águas para um grande jardim de acomodação próximo ao portal de entrada do Parque. Embora tenham ocorrido algumas alterações durante a construção, a ideia principal de direcionar e armazenar as águas no terreno para uma bacia de acomodação foi mantida.
O Parque Realengo conta com cinco torres metálicas, projetadas com alturas variadas e jogos de luz. Esse foi um desejo do Prefeito da cidade, que queria trazer a proposta das “Supertrees”, estruturas do Gardens by the Bay, em Singapura, para dentro de Realengo como forma de marco visual para o bairro. Para as torres, foram previstas também outras funcionalidades, como um sistema de vaporização de água para amenizar o microclima da região, jardineiras nos anéis internos das torres para o plantio de trepadeiras nativas que tomariam sua estrutura, um espelho d’água com jardins aquáticos e um percurso elevado sobre esse espelho. Todos os resíduos sólidos gerados no local têm a previsão de passar por etapas de logística, incluindo separação, acondicionamento, identificação, coleta, tratamento e armazenamento temporário, para posterior tratamento externo e disposição final devidamente licenciada. Todo esse processo interno acontece no Ecoponto projetado no Parque. Próximo a esse equipamento, foi prevista a área de churrasqueiras, com oito espaços individuais com bancos e mesas para as famílias.
Inicialmente, havia cinco edificações da época da fábrica de cartuchos na área, sendo quatro em estado de ruína e uma abandonada. Para as quatro ruínas, foi elaborado um roteiro cultural detalhado, incluindo a criação de um percurso elevado para permear e manter a integridade original dessas arquiteturas, que receberiam estruturas de contenção, proporcionando aos visitantes uma imersão na história da antiga fábrica que ocupava o local. No entanto, durante a execução da obra, as quatro ruínas foram demolidas, divergindo do projeto inicial. Quanto à edificação abandonada, esta foi adaptada para servir como sede administrativa para visitas oficiais da Prefeitura ao bairro. O Parque Realengo Susana Naspolini devolve uma importante área verde nativa do bioma local à cidade. Com a previsão de um bosque da Mata Atlântica de 9.600 m² e o plantio de mais de 60 espécies nativas, o Parque ampliará, a médio/longo prazo, significativamente sua cobertura vegetal, antes dominada por espécies exóticas invasoras. Essa transformação não apenas revitaliza o espaço, mas também ajuda a mitigar as ilhas de calor, um desafio cada vez mais presente em Realengo e no Rio de Janeiro.