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Arquitetos: Pablo Senmartin
- Área: 250 m²
- Ano: 2024
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Fotografías:Andrés Dominguez, Federico Cairoli,
Descrição enviada pela equipe de projeto. O que acontece se, em vez de focar na forma como sólido, como construção e fisicalidade, a atenção for colocada na lacuna, na forma do vazio que a própria matéria deixa livre? A ausência dá sentido à presença… Trabalhando a sensação de estar ali, o objetivo é dar diretamente ao espectador a opção de continuar e preencher parcialmente o vazio deixado pela aparente ausência com a sua própria presença humana.
A Casa Solar é uma encomenda para uma família que optou por viver num ambiente de elevado valor natural e paisagístico. A casa tem uma área de 250m2 e está localizada na Villa Parque Siquiman, num lote de 1850m2. O terreno é constituído por um desfiladeiro natural, com 10m de profundidade, que funciona como escoamento de todo o entorno, canalizando as águas pluviais para o Lago São Roque. O solo é rochoso intercalado com arbustos e abundante mata serrana, que absorvem parte da água que passa pelo local. Da rua, as vistas para o Lago são muito amplas e mudam dependendo da hora do dia e do ano.
Estamos num contexto em que as cidades crescem, expandem-se pelos territórios que as rodeiam, um mundo cada vez mais preocupado com o futuro que forjamos, gerando tensões, respostas e intercâmbios permanentes entre a arquitetura e a natureza. Surge a necessidade de a investigação de projetos intervir nestes locais de baixo impacto ambiental, onde a simplicidade, a austeridade e a sensibilidade forjam uma arquitetura integralmente sustentável. O projeto é baseado nos critérios de certificação Leed v4, destacando todos os recursos naturais e materiais disponíveis no local, interagindo com eles na tomada de decisões.
Recursos naturais e projeto. A casa está posicionada na profundidade da ravina, utilizando a cavidade para sustentar a casa e reduzir o seu impacto visual da rua, bem como para protegê-la. A umidade existente é utilizada como amortecedor da diferença de temperatura, a vegetação florestal atua como dupla fachada protetora do sol e do vento, os visuais participam dos espaços da casa através de reflexos, diferentes níveis de jogos de luz e sombras, energia solar é aproveitada de forma controlada através de uma cobertura móvel e a casa adjacente surge como elemento complementar do todo caixa inclinada flutuante. Uma caixa estrutural de perfis de aço inclina-se com a cobertura acompanhando o declive em direção ao lago flutuando sobre o barranco e sobre a água das piscinas.
A estrutura de modulação de 4,50m x 4,50m em planta forma uma extensão total de 12,00 x 9,00m e 6,00m de altura para conter área social e de descanso. A caixa de aço permite um balanço de 3m em direcção ao parque, fazendo com que a casa pareça estar no ar quando vista de baixo, apoiando as suas colunas nas rochas existentes e em divisórias de betão armado que formam uma cave de transição que contém as piscinas e áreas técnicas.
Acessibilidade e movimentos - Da rua descemos 3m até ao nível de acesso intermediário, aí, uma esplanada/miradouro coloca-nos em contato com a paisagem antes de entrar na casa pelo lado cego da fachada sul. O contraste é total ao entrar em contato com o espaço social interior fluido e luminoso aberto à paisagem. A distribuição em forma de L em 2 direções envolve o espaço vazio e semi-coberto que possui a cobertura móvel. O espaço social integrado, com ilha de cozinha central, permite múltiplos usos e adaptações sazonais nas suas relações interior-exterior. Este nível intermediário serve de ligação com a zona inferior do subsolo/piscina/pátio e com a zona superior de descanso e estudo.
Clima, temperatura, cheio e vazio - A casa estrutura-se a partir de um espaço vazio de 4,50m x 9,00m, móvel, mutável e é através desta ausência que se procura uma reflexão sobre a relação entre arquitetura e natureza típica do nosso tempo. O espaço vazio, ausente de um volume sólido, expressa-se como um espaço do possível, uma fechadura que, ao ser aberta e fechada, controla a luz solar, o clima, o uso e as condições espaciais interiores da casa. Este espaço intermediário e intersticial evidencia as relações ambientais e visuais com o ambiente natural, criando uma estrutura que evolui ao longo do tempo, com a vida, com a humanidade e com a arquitetura. O vácuo incorpora o tempo e a energia contemporânea do pensamento sustentável ao agregar ao espaço-tempo fluido e móvel de forma simples mas significativa o controle energético e térmico da espacialidade interior criando atmosferas diversas.
Há possibilidade de fechamento total da cobertura por motor acionado em função da temperatura nos horários de plena incidência solar, e de controle em função da radiação solar necessária à climatização interior, tanto no inverno (sol necessário) como no verão (luz solar controlada). Essa possibilidade produz um fato novo onde as qualidades do espaço interior e exterior mudam de acordo com a quantidade de energia solar necessária para produzir conforto e poupança de energia.
Ciclo da água e saúde - Prevê-se a preocupação com o recurso hídrico, que é escasso na maior parte do ano, e o respeito pela drenagem natural existente no barranco, localizando a casa elevada do solo, permitindo escoamento livre e permeabilidade, camadas nutritivas e a cobertura vegetal existente. As piscinas situadas abaixo são abastecidas com água da chuva proveniente da cobertura inclinada e, estando integradas na casa, proporcionam humidade e calor no inverno e frescura no verão, além de oferecerem a possibilidade de um mergulho à sombra no verão para o cuidado da pele a partir do controle da radiação. Por fim, a água cinza é tratada com biodigestor e reaproveitada na irrigação do pomar e da floresta.
Materiais e recursos locais - A decisão de utilizar materiais simples, produzidos localmente e de baixo custo leva a poucos materiais fáceis de transportar, leves e fáceis de montar. Em direção à rua, a casa surge introvertida, cega e austera a sul e a poente, com uma envolvente exterior vertical produzida com placas de fibrocimento coloridas em madeira escura como a floresta, de diferentes espessuras e larguras intercaladas, que reduzem o impacto do aspecto visual do bloco, juntamente com os reflexos circundantes produzidos pelo acabamento acetinado. Apenas uma abertura externa retangular contendo uma estante quebra o bloco. No interior, a utilização de madeira de pinho elliotis macho e fêmea como revestimento é enquadrada e ordenada através dos perfis da estrutura de aço exposta. Esta estrutura principal é resolvida com perfis de aço de demolição reaproveitados.