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Arquitetos: Esteras Perrote
- Área: 330 m²
- Ano: 2023
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Fotografias:Juan Cruz Paredes
Descrição enviada pela equipe de projeto. A experiência de voltar a habitar um espaço, de recuperar, de construir sobre o que já foi construído. Experienciar a capacidade transformadora da arquitetura e sua beleza no processo coletivo de mudança. Insistir em habitar o centro, repensar a cidade. Valorizar uma estrutura, prestar homenagem ao tempo e ao espaço. Compreender a história para fazer parte.
Cidade. Imaginamos re-habitar o centro, nos propusemos a pensar nosso espaço de trabalho e ao mesmo tempo a pensar a cidade que habitamos. Encontramos ruas intensas, um importante fluxo de pessoas, transportes e veículos. A convivência de programas e pessoas, espaços verdes, cívicos, educativos, comerciais e residenciais. Nos deparamos com a presença da cidade, La Cañada, o Passeio Sobremonte com sua abundante vegetação e fontes, a prefeitura e sua arquitetura icônica, a praça da Intendência, a arquitetura de palácios e numerosas grandes intervenções modernas e contemporâneas. Sequências que a cidade nos devolve enquanto transitamos por ela, que recriam nosso andar, contribuem para o fazer e o pensar. Estar é uma escolha, é insistir em recuperar uma parte da trama urbana e a partir daí construir o que virá. Um lugar que reúna, agrupe e possibilite. Que estenda suas portas ao público para prestar homenagem ao espaço.
Localização. A110 está localizada na área central da cidade de Córdoba, Argentina. Na rua Miguel Calixto del Corro, a metros do córrego La Cañada, do Passeio Sobremonte, da Prefeitura de Córdoba e do Palácio de Justiça. Inserida em uma trama urbana, com uma consolidação sustentável, a área está cercada por equipamentos públicos, comércios e residências coletivas. Com calçadas e ruas estreitas, a obra de três níveis é situada em uma orientação leste-oeste, onde o programa se desenvolve através de uma sucessão de pátios que permitem a iluminação e ventilação de todos os seus espaços.
Preexistência. Esta residência, construída no início do século XX, recebeu diferentes intervenções ao longo do tempo. Inicialmente, a propriedade consistia em dois níveis, uma residência no térreo e outra no andar superior. Na década de 40, a propriedade foi adquirida e a primeira intervenção foi realizada, que consistiu em ampliar a casa do andar superior, crescendo em altura com um terceiro nível. Para dar lugar a essa intervenção, uma escada foi construída, formando a identidade do espaço central da residência. Com 110m2 cada andar, os programas se desenvolviam em relação a dois pátios que se intercalam para buscar a entrada de luz e ar. Voltada para a rua, uma fachada de mármore como embasamento sustenta uma caixa branca. As paredes grossas, os tetos de cor branca e um piso de madeira conformam a identidade do espaço, junto à resolução da circulação vertical formada por degraus de mármore que estendem a rua até o primeiro nível, para assim subir por uma escada helicoidal até o último andar.
Herança. Com o passar dos anos, a residência propriamente dita deixou de abrigar esse programa para acolher outros usos, que modificaram sua essência até chegar a um estado de deterioração avançada. Após vários anos fechada, o desafio consistiu em recuperar o estado original e valorizá-la com o objetivo de transformá-la em nosso caso de estudo.
Recuperar. O trabalho consistiu em imaginar o que esta residência havia sido, coletar informações e trabalhar muros, aberturas e piso, para voltar ao zero. Alcançar o estado original como plataforma para, sutilmente, intervir em relação às necessidades atuais. Como uma folha em branco, a intenção e o propósito foi prestar homenagem ao espaço e ao tempo. Após um árduo trabalho de restauração de marcenarias, aberturas, pisos e paredes, começamos as intervenções para conectar certos espaços com o objetivo de lograr uma maior fluidez do espaço e do volume com o exterior.
Intervir. Como parte da nova linguagem, a proposta busca garantir uma relação fluida entre o interior da edificação e a rua. Uma trama composta por malhas metálicas, cuja modulação e construção respondem ao processo de montagem, assim como à possibilidade de apropriação por parte da vegetação. Esta estrutura metálica leve que compõe a fachada na rua Miguel Calixto del Corro busca ser um espaço intermediário entre o público e o privado, um filtro que abriga vegetação que aos poucos vai ocupando lugar. Por estar relacionada com uma rua de muito tráfego de veículos e pedestres, o ruído e as variáveis do ambiente construído fazem com que este espaço seja de grande importância para a habitabilidade do espaço interno e tenta compensar a falta de arborização urbana. Este intermediário caracteriza a intervenção e se torna a linguagem principal do volume.