Descrição enviada pela equipe de projeto. O Loteamento Urbano da Quinta do Desembargador, no concelho de Almada, localiza-se num contexto de matriz suburbana, fruto das transformações sócio urbanísticas ocorridas nas últimas décadas da periferia da cidade de Lisboa, que gerou, na sua envolvente, uma paisagem construída que facilmente lacera a Arquitetura e o Território. É um loteamento convencional, caracterizado por lotes de dimensão reduzida, induzindo a construções compactas que não potenciam relações com o exterior dos lotes. Mas é dos constrangimentos e limitações das condicionantes que surgem as melhores soluções, e foi com essa mentalidade que abraçamos o desafio. Tendo em conta as premissas que nos transmitiram - ao nível do programa e linguagem espacial, assim como a orientação do terreno e as limitações de área - o conceito que adoptámos tira partido da modulação de um bloco compacto, no qual se estabelece um jogo de cheios e vazios, tanto no interior como no exterior, do qual se pretende tirar o máximo proveito das relações entre esses dois domínios.
Como resultado desta abordagem, aparentemente temos a ilusão de estarmos perante uma construção maciça e convencional, mas que à medida que percorremos os espaços interiores, essa ideia desvanece rapidamente e somos transportados para ambientes de enorme riqueza espacial, no qual a orientação solar foi preponderante no jogo formal. A nível de organização e distribuição dos espaços, a localização da entrada foi determinante para minimizarmos espaços de circulação interna. É a partir deste núcleo central que ocorre toda a distribuição e hierarquização dos espaços. Do lado esquerdo e com orientação para o quadrante norte, temos os espaços de apoio, nomeadamente a instalação sanitária, o escritório e a lavandaria. Do lado direito, tirando proveito do quadrante sul, temos a cozinha/sala numa leitura de open-space, cuja delimitação entre os espaços é realizada através do pé direito duplo na zona de estar complementada com uma entrada de luz zenital. Procurou-se igualmente transpor a vivência interior deste espaço para o exterior através da criação de um alpendre a toda a largura da fachada tardoz, com uma zona de churrasqueira e de permanência exterior em relação directa com o logradouro. De forma a que o espaço do alpendre não obscurecesse a zona da sala, criaram-se aberturas na laje do piso 2 e na cobertura, com o intuito de permitir que a luz natural chegasse a este. Acedendo ao piso superior, zona privada da casa onde se distribuem 2 quartos e 1 suite, possuímos uma visão privilegiada sobre a sala devido ao pé direito duplo.
Igualmente relevante é a possibilidade desta moradia se expandir, com a criação de mais um quarto, respondendo à aspiração do aumento do agregado familiar, sem necessidade de ultrapassar os limites actuais da construção. Esta adaptabilidade foi uma parte fundamental do conceito de projeto, demonstrando que os edifícios podem ser criados para permitir a expansão de acordo com as necessidades dos moradores, sem alterar o volume exterior que se encontra devidamente adequado ao contexto urbano onde se insere. Em termos de materialidade propomos o uso de plaquetas cerâmicas esmaltadas de branco ao nível do piso 1 com apontamento de ripado de madeira termo-modificada na zona de entrada (adicionando um elemento de destaque e conforto visual), e argamassa acrílica decorativa de cor branco no piso 2, criando a percepção que temos um volume pousado sobre um embasamento robusto. No final o resultado traduz-se num edifício de linhas puras e equilibradas, onde se procurou uma solução elegante e contida nos custos. Uma moradia distinta do que se encontra nas redondezas, devido à clareza das formas e materiais, e que se irá destacar de forma positiva devido à sua forte personalidade.